A demissão pela Rede Globo, do narrador esportivo Cleber Machado
viralizou nas redes sociais e na mídia geral (não só a esportiva).
Estranhei, porque há pouco tempo o Galvão Bueno saiu da mesma Globo e não teve repercussão
semelhante.
Fui
refletir sobre as razões dessa “diferença de tratamento”, principalmente porque
o GB (sem demérito para nenhum dos dois) tem muito mais
"cartaz" do que o Cleber Machado em termos de valorização
profissional no mercado.
Pensei,
pensei e cheguei a uma conclusão que é apenas fruto da minha visão do episódio
e da minha experiência profissional.
E exponho aqui no blog da Oficina de Gerência..
Salvo algum fato que a empresa não tenha informado ao
próprio Cleber Machado; após sua demissão fria e sumária, procurou a
direção da emissora e foi-lhe informado que o motivo era o seu salário alto
para o orçamento da empresa. Imagine, Rede Globo! Sem comentários...
A coisa reverberou no inconsciente coletivo, de quem teve curiosidade e interesse em conhecer o fato, a notícia e as repercussões.
Ficou percebido
pela opinião pública que ocorreu uma falta de respeito profissional, da gigante
Globo, com um funcionário que estava lá há trinta e cinco anos prestando
serviços e com um trabalho valorizado e destacado incontáveis vezes,
por ela própria, como narrador esportivo. Essa descortesia, indelicadeza,
grosseria mesmo, chocou a comunidade que acompanha essas notícias. Por isso, a
viralização do assunto.
Final da ópera: o empregado Cleber Machado, 35 anos dentro dos muros da Globo,
foi demitido sumariamente, sem explicações, sem nenhuma consideração por parte
da direção da sua corporação e com uma consequente desvalorização de imagem, construída dentro da própria instituição. Um evidente, incontestável e
irrefutável desapreço pelo profissional e pelo ser humano, que há poucos dias
era uma estrela entre os "globais".
E é aqui que entra o interesse da Oficina de Gerência no caso.
Para quem
conhece as regras, conceitos e preconceitos da "ciência" dos
RHs organizacionais não há dúvidas de que, na demissão do trabalhador, foi cometido um flagrante desprezo
pela figura humana de um profissional que dedicou 80% da sua trajetória
profissional "defendendo as cores da Rede Globo". Imaginem
o que isso representaria para qualquer um de nós. Dói demais. Atordoa. Uma vida
descartada como se fora um nada...
Sem
exagero, em qualquer sistema organizacional que tenha preocupação com os valores humanos,
sociais, princípios mínimos de civilidade e urbanidade, isso chega a ser e é,
um ato que beira (sem exagero) um assédio moral.
Qualquer
empresa tem todo direito de demitir seus contratados na hora que lhe convier.
Não é disso que se trata! O que se espera de instituições do porte da Globo é o
respeito e a consideração, de cunho abstrato, intangível, subjetivo (coisas como gentileza profissional, reconhecimento, respeito), ao
empregado que dedicou talento e esforços para desempenhar seu papel e
certamente, com muitos episódios, de sacrifícios pessoais e familiares, que
foram além do dever e da obrigação profissional.
Na minha avaliação, foi esse aspecto, essa coisa tão pequena de uma empresa como a Globo, que se traduziu, junto às redes
sociais e à mídia especializada, na súbita e imprevista valorização da pessoa e
do profissional - grosseiramente demitido - Cleber Machado.
O tom da viralização foi de desagravo a ele e uma gigantesca
crítica aos valores humanos desrespeitados pelas Organizações Globo; e de quebra
a todas as demais organizações e não são poucas que agem de forma exatamente
igual.
Quero
registrar aqui uma observação pessoal baseada na minha "bagagem"
de muitos anos de trabalho, de funcionário iniciante na iniciativa privada até
cargos de alta direção na Administração Pública.
Minha experiência
ensinou - e saiba que vivenciei exatamente o mesmo que o Cleber Machado passou
- que não devemos esperar das organizações, notadamente as grandes, reconhecimento
especial pelos nossos tempos de serviço. Na hora em que (você, eu, nós) não
mais interessarmos às empresas dessa espécie, em que trabalharmos, a administração (pode ser o
chefe, o diretor ou a alta direção) irá nos demitir sem maiores explicações. Será um... descarte. Aconteceu comigo e já vi isso ocorrer incontáveis vezes. Essa é a realidade e o
contrário são as exceções.
É a lição
que passo aos jovens iniciantes na selva corporativa, principalmente em cargos de chefia e com mais
tempo de empresa. Aprendam com esse caso
do Cleber Machado. Ele só se propagou rapidamente porque envolveu uma figura pública. E
ponto final.
Um detalhe, o nosso personagem já foi contratado pela Record TV (veja o final do
post). Contrato curto, mas não ficará sem trabalhar porque é bom de serviço. Seus
35 anos na Globo atestam isso.
Apenas a
título de ilustração do post transcrevi uma matéria do site Lance sobre a
demissão do Cleber Machado onde deixa, nas entrelinhas, sua frustração pelo
tratamento que recebeu da Globo.
Cleber Machado revela justificativa de direção da Globo para demissão: 'Não tem nada a ver com você'
Clique aqui e visite a home page do Lance |
- Perguntei: 'Vocês não me querem mais ou é questão de orçamento? 'Não tem nada a ver com você, é orçamento.' Podemos negociar? 'Não sei'... Enfim. A surpresa é que, quando se desenhou isso, era uma coisa recente, não foi programado. O burburinho de que alguma coisa iria acontecer, de movimento na empresa que o pessoal fica ressabiado, começou uma semana antes. Aí quando fui conversar me responderam que foi orçamento, que para o profissional é menos pior - relatou o narrador.
Segundo o depoimento do narrador, a justificativa da demissão foi exclusivamente financeira. Cleber Machado estava presente no plantel de funcionários da Rede Globo desde 1988. Ele destacou a frieza da empresa ao anunciar o desligamento do profissional que apresentava uma longa carreira na casa.
O emocional
Cléber ainda falou sobre a decepção de não poder mais se aposentar dentro da casa que lhe rendeu grandes momentos dentro do jornalismo esportivo. Na Globo, o locutor narrou Jogos Olímpicos, Copas do Mundo, Campeonatos Nacionais, além de outras modalidades além do futebol.
- Optaram por terminar o vínculo de funcionário e empregador. Conversa normal, de mais de hora. Eu estou emocionalmente bem, fiquei na boa. Queria sair? Não, queria me aposentar lá, mas estou na boa, tocando a vida, sem crise, sem choro. A vida continua e vamos ver o que se apresenta - declarou.
O futuro
O narrador se mostrou bastante confiante com o futuro da carreira. Após a demissão, Cléber Machado falou sobre o leque de possibilidades que poderá explorar agora. No entanto, ele não chegou a cravar qual será o próximo destino.
- Rádio, televisão, internet, transmissão ou programa... Tudo é possível, vamos ver o que acontece - concluiu.
Cléber Machado foi dispensado do plantel de narradores da Rede Globo após 35 anos de carreira na emissora. Além da televisão, ele também chegou a participar da Rádio Globo durante os anos de 1980 e 1986.
O narrador Cléber Machado se prepara para fazer sua estreia nas transmissões esportivas da "Record TV". A estreia de Cléber Machado na Record acontecerá neste domingo, às 16h, no primeiro jogo da final do Campeonato Paulista entre Água Santa e Palmeiras. O narrador também comandará a transmissão do segundo jogo da decisão, no próximo domingo. Após os dois compromissos, o contrato do locutor com a emissora encerrará e ele decidirá os próximos passos da carreira.
Cleber Machado entre os comentaristas Dodô e Renato Marsiglia da Record TV. |
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