Adoro futebol! Acompanho o esporte desde menino em Recife, na Copa do Mundo de 1958.
O Drummond, pai, era também, radioamador de primeira linha com rádios potentes e especiais e com ele descobri o futebol; acompanhei a Copa de 58 pelas ondas curtas da Rádio Nacional do Rio, com Jorge Cury e Fiori Gigliotti/Pedro Luiz pelas Rádios Panamericana e de São Paulo.
Faço essa introdução para me situar nesse comentário. Sou o que poderia se denominar um "torcedor profissional". Cheguei, inclusive, quando jovem a trabalhar como repórter esportivo na Rádio Clube de Pernambuco na minha fase de estudante (1962 a 1971).
Dito isso, e modéstia de lado, acho que tenho essa "autoridade" para fazer o comentário que leva o título do post: "Com a Copa do Mundo não se brinca..."
O técnico (gerente) Tite, da seleção brasileira, brincou com coisa séria ao escalar um time 100% reserva para disputar a Copa do Mundo com um time "reserva". Pagou caro. Cometeu um erro que pode lhe custar - e ao futebol brasileiro - muito mais do que uma derrota (imprevista e esdrúxula) e para Camarões.
Poupar jogadores na Copa do Mundo é um "impropério" para não dizer um absurdo! Não foi só a seleção do Brasil. França, Portugal e Espanha também o fizeram, mas não colocaram todos os reservas como titulares. Mesmo assim foi um erro estratégico. Todas perderam.
Minha opinião é que, sendo um campeonato "de tiro curto" (gíria esportiva) na hora que o time principal deixa de ter continuidade na campanha, perde a concentração e o foco. E se o time é o considerado substituto, a estratégia que foi errada pode se tornar desastrosa, psicologicamente.
Vamos trazer o assunto para o mundo corporativo que é o negócio do blog. Imaginem um projeto importante para uma empresa que precisa vencer uma concorrência. Todo mundo focado, trabalhando em tempo integral, inclusive feriados, sábados e domingo. Na reta final, quando tudo está a indicar que a concorrência vai ser vitoriosa, o gerente dá uma folga surpresa, de fim de semana prolongado, ao time principal do projeto. Você faria isso?
Quais, nesse case, seriam as consequências previsíveis? Poderia apontar aqui uma lista de muitos itens, mas o principal deles seria a quebra de ritmo de trabalho, de foco para se alcançar o objetivo e outras mais; um gerente experiente jamais faria isso.
Com o time da seleção brasileira pode, veja bem, pode acontecer isso. Tanto é assim que o Tite já confessou que se arrepende da decisão que tomou.
O processo de um grupo estar 100% focado para alcançar o objetivo maior de suas carreiras é um mix de vários fatores: muito trabalho, determinação, sacrifícios pessoais, lideranças aceitas, formais e informais - no plural mesmo - e principalmente de muita saúde mental e psicológica. Não pode haver pausa nesse processo. Ele é um continuum, enquanto estiver em operação e não se chegar ao resultado esperado. O que o Tite fez, com a decisão, arrogante, dele, foi quebrar esse processo antes do tempo.
E dou um exemplo. Quem gosta de futebol deve lembrar a seleção brasileira na copa de 1982. Considerada uma das melhores seleções já formadas, com o Telê Santana como técnico, perdeu a copa após a quebra do seu continuum, ao vencer a seleção argentina com Maradona e tudo, nas oitavas de final. Como assim?
Explico e essa é uma teoria minha: a Argentina era a campeã do mundo (1978) em uma copa na qual o Brasil se autoconsiderou o "campeão moral" dado que a Argentina (ambas as seleções no mesmo grupo) foi classificada por uma goleada suspeita no Peru (6 a 0) tirando o Brasil das quartas de final por saldo de gols. Um escândalo!
Só que o continuum daquela copa acabou ali. A seleção atingiu o objetivo maior, venceu a campeã do mundo. No jogo seguinte veio a Itália que apesar de desacreditada após três empates na 1ª fase da Copa, havia vencido a mesma Argentina (2x1) dias antes.
Quem assistiu aquele famoso Itália 3 x Brasil 2, no Sarriá, há de lembrar que o time entrou diferente do jogo com a Argentina. Não foi salto alto (lembro muito bem); foi algo diferente.
O time foi surpreendido com um gol do Paolo Rossi no início da partida (5') e não se recuperou do susto durante todo o restante do jogo. Empatou aos 12', mas a Itália respondeu aos 25'. O Brasil jogava pelo empate; e empatou aos 68', mas ao invés de "segurar o jogo", partiu desesperado para o ataque e quis vencer para justificar a altíssima qualidade da seleção. Falta de inteligência emocional coletiva. O resultado todos sabem. Foi "quebra do continuum".
Tudo isso, conto para justificar minha preocupação com a decisão do Tite de disputar com o time reserva, um jogo da Copa do Mundo. Poupar time na Copa??? Cá prá nós, é muita arrogância! Pode ter quebrado grande parte da construção do foco na preparação da seleção.
Só no jogo de amanhã contra a Coréia do Sul poderemos conhecer os efeitos dessa desastrada decisão. Algumas perdas já aconteceram: quebra, desnecessária da autoconfiança dos jogadores reservas, principalmente daqueles que lutavam por espaços na equipe principal; perda, evitável, de uma longa e convincente invencibilidade do grupo; exposição das fraquezas de determinados jogadores, para alegria dos próximos adversários e principalmente a colocação de uma mancha desnecessária, na história da campanha da seleção nessa copa.
Tudo isso ficará esquecido se o Brasil amanhã (2ª feira) conseguir passar pela Coréia justificando seu favoritismo, assim como a França fez com a Polônia (3x0) e Portugal poderá fazer com a Sérvia e a Espanha com Marrocos na terça feira (6). Todas essas seleções pouparam titulares nos seus últimos jogos e perderam os jogos.
No caso do Brasil torço, é claro, para a vitória nos sorrir, recuperarmos o nosso continuum e seguir focados rumo ao Hexa.
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