Nos meus anos de trabalho como executivo cultivei a preocupação permanente e natural com o conceito de liderança entre os “habitantes da selva corporativa”, com os quais convivi.
A questão da liderança, sabemos, é fonte de estudos, debates, pesquisas e análises desde os tempos imemoriais, quando os homens necessitaram ser comandados por outros homens.
Entretanto, se 100 (cem) profissionais forem ouvidos em pesquisa, cada um deles irá definir e defender o seu próprio conceito de liderança.
E é assim mesmo!
Essa busca incessante e eterna para decifrar o mistério da liderança é que faz do líder um personagem mágico, inexplicável, mítico, desejado e precioso na sociedade; principalmente para as corporações de qualquer natureza.
Desde início da carreira como gestor dediquei-me a procurar entender o “funcionamento da liderança”. Li e leio, ainda, tudo que posso sobre o tema. Continuo aprendendo... e desaprendendo.
Como base, gosto da definição abaixo sobre o processo da liderança:
(...) “O líder diferencia-se do chefe, que é aquela pessoa encarregada por uma tarefa ou atividade de uma organização e que, para tal, comanda um grupo de pessoas, tendo autoridade de mandar e exigir obediência. Para os gestores atuais, são necessárias não só as competências do chefe, mas principalmente as do líder” (...) (Wikipédia)
Dentre as boas coisas que descobri foi um conceito, tomado por empréstimo da matemática, que alinhou a liderança - que é uma concepção abstrata - com a relação matemática (objetiva) conhecida como Função.
Sobre “função” podemos defini-la, na linguagem matemática, como:
“O conceito de função é um dos mais importantes em toda a matemática. O conceito básico é o seguinte: toda vez que temos dois conjuntos e algum tipo de associação entre eles, que faça corresponder a todo elemento do primeiro conjunto um único elemento do segundo, ocorre uma função.” (veja link ao final do artigo).
Recorrendo ao recurso da literatura, conhecido como "licença criativa", criei uma "expressão matemática" que denominei de fórmula da liderança, visando moldar o conceito e simplificar a compreensão, explicando a natureza dinâmica e ajustável da liderança situacional e sua complexidade.
Se entendermos Liderança como um conjunto (L) e outro conjunto (Rlid) que seja entendido como o Resultado dessa mesma Liderança e contendo elementos que lhe façam parte, podemos representar essa relação como L=f (Rlid). Se o resultado da liderança (Rlid) for composto de três variáveis que chamaremos “l”, “g” e “s”, a “fórmula ficaria assim:
L= f (Rlid)
Rlid = f (l, g, s)
E podemos finalizar que:
L= f (l, g, s).
Neste caso, e respeitando o conceito de função, podemos afirmar que:
"Liderança é uma função de três variáveis".
Essas variáveis, que formam o resultado de uma liderança “L” são:
· "l" (a pessoa do próprio líder, seu caráter, sua personalidade, conduta, experiência, valores, comportamentos...).
· "g" (pessoas, equipes, recursos humanos que formam a estrutura operacional do setor sob o comando do líder);
· "s" (situação ou circunstância que cerca o líder, condições de trabalho, recursos etc.).
Dúvidas até aqui? Certamente que sim!
Afinal, para quem não tenha familiaridade com a matemática fica mais difícil de entender o conceito de função. Mas não desanime, vamos em frente que o resultado será uma descoberta, asseguro.
Faço uma provocação, para reflexão, acerca das múltiplas variações que podemos desenvolver a partir da compreensão da "fórmula" L = f (l, g, s).
O princípio está contido no próprio enunciado. Seria assim:
“O resultado a ser alcançado – sucesso ou fracasso - por um determinado estilo de liderança está contido em um conjunto que depende do perfeito equilíbrio entre as relações do líder (l) com a sua equipe (g) (em conjunto ou individualmente) e a situação (s) na qual estejam envolvidos (projeto, finalidade, propósito...)."
Para a correta aplicação da fórmula é imprescindível o entendimento de que o líder, o grupo e a situação são variáveis. Mutantes portanto. Qualquer modificação em alguma delas pode alterar o resultado “L”. Por exemplo, permitir que alguma delas se transforme em constante.
Um exemplo: pense na seguinte variação da fórmula: L = f (l, g. s1), ou seja, uma determinada equipe estava tocando um determinado projeto e de repente mudou a situação, o contexto de origem que passou de “s” para “s1”; algo como o orçamento do projeto foi alterado ou a estrutura da empresa foi alterada afetando o prazo do projeto.
Como prover a Ação?
Se não acontecer uma rápida avaliação e ajuste das variáveis o equilíbrio estará quebrado e a fórmula se apresentará como L≠f (l,g,s1), ou seja, a liderança está em desequilíbrio sugerindo fracasso no resultado.
O que fazer?
O líder l se adapta em l1, para a nova situação s1 e ajusta todo o grupo para g1 e a fórmula muda para L1= f (l1, g1, s1) ou não haverá sucesso para a mesma liderança.
Agora, imagine com quantas situações assim você já se deparou diretamente ou assistiu acontecer?
- Porque líderes bem-sucedidos em determinados setores das suas empresas são promovidos e não conseguem repetir o desempenho na nova função ou novos empregos? Como fazer para corrigir, previamente, uma situação digamos... inexplicável como essa?
- Ou ainda, um gerente de sucesso em uma determinada empresa é contratado por uma concorrente de maior porte para exercer uma função similar e não consegue atingir o resultado esperado que ele conseguia atingir na empresa anterior?
- Ou ainda, um atleta, digamos, jogador de futebol; craque no seu antigo time, foi "comprado" por um grande clube do Brasil ou mesmo da Europa. Não conseguiu reproduzir as grandes atuações pelas quais foi contratado e, na nova equipe, foi colocado no banco de reservas.
- Outro exemplo, recorrente, no mundo dos esportes, é a conhecida "dança dos técnicos"; treinadores (coaches) de reconhecida competência que mudam de clube e não conseguem o êxito esperado com o novo time. Contratados por outra agremiação de mesmo porte, em seguida, se "tornam" vencedores imediatamente. Por que será?
- O que é comum são os líderes que se aferram a um determinado estilo (durão, paternal, liberal...) que os levou ao êxito e querem aplicá-lo a todos os grupos (situações) que encontram pela frente.
Um exemplo que gosto de citar é o do técnico (de muitos títulos), Luis Felipe Scolari, o Felipão. Escravo de seu modelo paternal, que deu certo na campanha da copa do mundo de 2002, não conseguiu conquistar mais nenhum outro título de peso que fugisse ao seu estilo conhecido como “família Scolari”; até enfrentar o sempre lastimado 7 a 1 contra a Alemanha na copa de 2014. Creia, a resposta pode ser explicada pela "fórmula da liderança". Como seja, Scolari tornou constante a variável "l", ele mesmo.
A aplicação da fórmula L = f (l, g, s) é um exercício precioso, que recomendo para se entender a sinuosidade da liderança, como processo pessoal de crescimento gerencial.
O que posso testemunhar é que consegui, na minha carreira, muitos bons resultados aplicando-a; mas é um exercício contínuo, perseverante e permanente de um líder inteligente em exercício.
Para finalizar, permitam que coloque uma conhecida expressão que utilizo muito cuidadosamente ao analisar e escolher meus líderes:
"Chefia é mérito, liderança é conquista"
Este artigo (post) já foi publicado no site gov.br/transportes (clique aqui) e no LinkedIn (clique aqui).
Links que devem ser consultados para apoio à leitura do artigo:
Excelente artigo sobre aplicação da fórmula L = f (l, g, s). Obrigado Drummond pelos ensinamentos!
ResponderExcluirCaro Leandro, obrigado pela visita e comentário. Realmente a "Fórmula da Liderança" tem uma aplicação prática muito eficaz. Para melhor aproveitá-la deve tê-la sempre à mão e na mente. A dinâmica dela acompanha o dia a dia do executivo, em todos os sentido. Aproveite-a bem...
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