Páginas e páginas de estudos, pesquisas
e livros são escritas todos os anos sobre a síndrome dos
"workaholics". Em algum momento dos períodos mais badalados da
ciência da administração e gerência ser "qualificado" como um "viciado
em trabalho" era considerado como mérito no currículo.
Eu mesmo conheci um médico que fazia
parte da equipe de recrutamento de uma corporação multinacional que tinha a
orientação superior de "descobrir" entre os candidatos aqueles que
apresentavam características de ansiedade, perfeccionismo e outras semelhantes
àquelas dos trabalhadores compulsivos. A estes era concedido uma espécie de
bônus que aumentava suas chances de contratação. Isso foi lá pelos idos de 1975
de acordo com minha memória. Olha o absurdo! Não diria que atualmente
essas coisas ainda aconteçam, mas não ficaria surpreendido se, aqui e ali,
ainda existirem algumas empresas "sobreviventes" e adeptas dessa cultura
e metodologia.
O fato é que ainda existem incontáveis
seres humanos que simplesmente não conseguem desligar-se do seu universo de
trabalho, mesmo nos finais de semana ou quando tiram férias. Pior, não sabem o
que fazer quando são "obrigados" a gozar seu período de férias. Fazem
de tudo para não abandonar o ambiente do trabalho. E o pior é que se são
gerentes impõem essa crueldade aos subordinados. Há toda uma ciência que trata
- inclusive - clinicamente desses casos.
Conheço bem o assunto. Durante muitos
anos, no início da minha trajetória profissional, fui o que pode ser
considerado um perfeito workaholic. Todas as características que
identificam uma compulsão eu as possuía. Havia, entretanto um atenuante. Eu era
solteiro e ocupava a função de engenheiro-chefe de uma obra grande (400
empregados) em uma cidade que não possuía nem energia elétrica. Dá para entender
um pouco dessa obsessão de primeiro emprego, de só pensar em trabalho e
mais nada. Além do mais eu adorava estar ali, naquele momento, realizando o meu
sonho que era chefiar uma expressiva obra de engenharia.
.
Força que impulsiona
Acho que essa é uma das forças impulsionadoras
do workaholic. Gostar muito do que faz, ter um enorme prazer em realizar suas
tarefas a cada dia, desfrutar do sucesso que o êxito traz em seu bojo... Sim,
acho que uma das causas mais frequentes dessa compulsão é o gosto pelo êxito,
pelos resultados alcançados. Na verdade, para não dizer nunca, pouco ouvi falar
de um workaholic perdedor. Você já ouviu?
A questão é que com o passar dos tempos
a compulsão leva celeremente ao stress e
às síndromes decorrentes. Livrar-se ou controlar este "vício" é hoje
uma das maiores preocupações da medicina do trabalho aí incluindo a psicologia,
a psiquiatria e todas as "trias" que se puder imaginar.
Atualmente um trabalhador consciente,
esclarecido e informado - seja o operário comum ou o chefão - não se
deixa mais dominar pela dopamina que está por trás de todas essas
sensações de prazer que os viciados em trabalho sentem. Até as corporações
estão contribuindo para orientar os potenciais workaholics de seus quadros a
procurar terapias de ajuda ou oferecer alternativas para
"desligá-los" da empresa nos seus períodos de férias, fins de semana
e feriados.
Volto ao meu caso pessoal para encerrar
o post. Hoje - e já faz muito tempo - não sou mais um "viciado em
trabalho". Minha "cura" se deu a partir do momento em que
consegui perceber que o mais importante da vida é o tempo que dedicamos à
família, aos amigos e aos afazeres fora do trabalho; hobbies, leituras,
passeios...
Uma das coisas que mais me ajudou foi
quando ao ser exonerado da minha primeira grande função de direção percebi que
nada daquele dia-a-dia tão estressante, daquele cotidiano - de tantas disputas,
intrigas e egolatrias - tinha valor quando se ficava "desempregado".
.
Falso brilho
As "missões", os sucessos, os
"amigos" e colegas, os projetos, os chefes e subordinados, as histórias
e fofocas do trabalho, os aborrecimentos e mesmo as alegrias, nada disso tem
valor quando simplesmente abandonamos, de forma definitiva, o foco de nossa
compulsão pelo trabalho. O valor do trabalho está exatamente no que existe lá,
no ambiente corporativo. Fora dali a vida é outra e nada do que venha de lá é
valioso do lado de cá, do lado da vida normal.
Pirita, o "Ouro dos Trouxas" |
Acho que é por conta desse processo que a compulsão se instala nos workaholics. Eles não vislumbram que o brilho da vida dedicada exclusivamente ao trabalho é falso. Parece-se com o brilho do que os garimpeiros chamam de “ouro dos tolos”. Perdem aquilo que é mais valioso na vida de qualquer um. Família, filhos, netos, amigos, lazer, hobbies...
Essa é a verdade incontestável que, ao
fim e ao cabo das jornadas dos viciados em trabalho, aparece com todas as suas
tenebrosas cores. E não adianta dizer que o processo é temporário, pois quando
se instala em nossas vidas é difícil de extrair. Lembrem-se que está
diretamente ligado ao sucesso, ao status profissional, aos melhores ganhos
financeiros e à melhoria da (falsa) qualidade de vida. Como largar tudo isso?
O artigo abaixo, que utilizo como
ilustrativo do post , é um bom texto para que cada leitor – workaholic ou não –
possa refletir sobre tudo isso e identificar para onde está caminhando sua
vida.
Clique no logotipo e conheça o artigo no original, se tiver interesse. |
Profissionais que não desligam
(por Wellington Moreira*)
A
maior parte das pessoas sabe a quantidade de horas diárias que permanece em seu
local de trabalho, no entanto você já parou pra contabilizar o quanto do
restante do dia fica pensando nele mesmo distante da empresa?
É
que muita gente não termina o expediente quando o expediente termina. Pessoas
que têm dificuldades para aproveitarem o tempo disponível ao convívio familiar
e ao merecido descanso porque vão para suas casas com a mente focada nos
relatórios inacabados e nos e-mails que precisarão responder na manhã seguinte.
As
exigências do mercado de trabalho atual têm consumido o tempo psíquico de muitos
profissionais, especialmente daqueles que precisam cumprir prazos exíguos
e alcançar metas desafiadoras em seu dia a dia. Ou seja, há uma boa
parcela de pessoas que não consegue se desligar do trabalho de jeito nenhum,
ainda que estejam operacionalmente longe dele.
Trabalhadores
que vivem numa espécie de “prisão psicológica” que influencia as demais esferas
da sua existência e os impede de desfrutarem momentos com a família e
amigos ou mesmo de fazerem aquilo que apreciam por causa das preocupações
relacionadas com os deveres profissionais. E que erroneamente racionalizam:
“Como aproveitar o domingo quando sei que o bicho vai pegar na segunda-feira e
ainda não estou pronto?”.
Se
esta é a sua história de vida, é bem provável que apresente dois comportamentos: o hábito de procrastinar as coisas e um míope senso
de responsabilidade. Aquela velha história de valorizar o trabalho duro,
mas também de adiar alguns afazeres para a próxima segunda-feira e então
passar o final de semana inteiro preocupado com a tarefa que poderia ter
feito antes se tivesse administrado melhor o tempo.
Desligar-se
do trabalho fora do expediente é fundamental para conservar uma vida saudável e
equilibrada, porém este intento talvez seja incompatível com o seu projeto de
carreira. Caso tenha a pretensão de chegar à presidência de uma grande
companhia durante os próximos anos, por exemplo, terá de renunciar a uma série
de coisas ou não atingirá seus objetivos. Por isto, avalie bem se
está disposto a pagar o preço.
Vários
daqueles que chegaram lá têm dúvidas se valeu a pena, mesmo que financeiramente
estejam bem. Foi o que apontou uma recente pesquisa da consultora Betania
Tanure com mais de mil executivos das maiores companhias do país na qual
75% deles afirmaram estar insatisfeitos com o seu trabalho. Dois dos motivos:
85% dos presidentes e diretores trabalham todos os finais de semana e suas
férias não superam, em média, dez dias.
De
forma geral, cada vez mais a divisão entre vida pessoal e profissional vai
perdendo sua força e os próprios trabalhadores têm uma grande parcela de
responsabilidade. Quando você aceita que a empresa aonde atua lhe pague a
conta do aparelho celular pessoal e conceda acesso remoto à internet em sua
casa, também está permitindo que ela o contate a qualquer hora, mesmo nas mais
indesejadas.
Mas, discussões à parte, qual a estratégia para se desligar
do trabalho quando estamos distante dele? Parece-me que a mais eficaz é encontrarmos formas de realização pessoal nas demais dimensões da vida. Se
você prestar atenção nas pessoas que se dedicam a uma causa ou investem tempo
num hobby verá que elas geralmente não têm este tipo de problema e que, em
vários casos, ainda conservam carreiras bem-sucedidas.
Por
isto, não se sinta mal quando perceber que ficou o final de semana inteiro sem
pensar em trabalho nem tampouco se martirize só porque aproveitou o último
feriado prolongado fazendo outras coisas de que gosta. Com um pouco de
organização pessoal e ciência daquilo que realmente importa na vida esta
pode ser a sua rotina daqui pra frente.
*Autor: Wellington Moreira – Palestrante e consultor empresarial nas áreas de Desenvolvimento Gerencial e Gestão de Carreiras, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é especialista em Comunicação Empresaria. wellington@caputconsultoria.com.br.
Fonte: http://www.caputconsultoria.com.br
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