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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Oliver Twist de Charles Dickens - mudou a crítica social


N
avego na Internet e dou de cara com o Obvious (clique no link abaixo) que se apresenta como "O maior site de cultura colaborativa em lingua portuguesa. Tudo sobre cultura, criatividade, artes, letras, design, fotografia, cinema, arquitetura, música, humor, ...". Concordo plenamente. O Obvious é especial. Eu o acompanho há uns 9 anos.
Como disse, deparei-me com um artigo sobre Charles Dickens (também tem link para ele logo abaixo) que me chamou a atenção porque tocou no assunto "crianças". E logo na primeira frase do texto eu já "comprei" a leitura e não me arrependi. O que li?
  • "Dickens levou toda uma sociedade à reflexão por meio de estórias de simples garotos, carentes no sistema, carentes de relações. Com sua literatura, ele não somente abriu caminhos para a crítica social – por meio de seus próprios traumas – como reencontrou sua infância perdida, criando a partir dela muitas outras infâncias com as quais pôde expressar seus medos, segredos e esperanças de garoto.
Conheço de Charles Dickens o que todos os curiosos por cultura conhecem. De livros só li o "Oliver Twist" e vi o filme; mas não estou aqui para falar de Charles Dickens.

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O que me despertou a atenção no texto do Obvious, foi a informação que o autor inglês da era vitoriana (meados do século XIX, de junho de 1837 a janeiro de 1901) contribuiu fortemente para a introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa despertando e provocando a conscientização da influente sociedade britânica na Europa e no mundo. E isto ultrapassou as fronteiras da Grã-Bretanha e ganhou o mundo também inspirando intensamente as culturas dos países de língua inglesa.
A pergunta que deixo no ar, para reflexão, é porque em nosso país, onde as mais diversas formas de mazelas sociais batem à porta todos os dias, não conseguimos produzir autores, artistas e figuras públicas com a força de um Dickens para desenvolver um processo de "crítica social" principalmente em relação à proteção da infância? 
Falta-nos essa energia, que deveria vir da cultura em geral e da literatura em particular, que consiga - pelo menos - sensibilizar nossa sociedade mais favorecida a prestar atenção ao que está acontecendo com a infância e a juventude do Brasil. Jogamos tudo nas costas dos governos e fingimos que não estamos enxergando os horrores que vemos, ouvimos e lemos nas mídias diuturnamente. 
Convido-os a ler o artigo abaixo, para conhecer o que Charles Dickens fez para modificar comportamentos sociais na sua época.


Clique na figura e conheça o Obvious (vale a curiosidade )

Os Garotos de Charles Dickens

Dickens levou toda uma sociedade à reflexão por meio de estórias de simples garotos, carentes no sistema, carentes de relações. Com sua literatura, ele não somente abriu caminhos para a crítica social – por meio de seus próprios traumas – como reencontrou sua infância perdida, criando a partir dela muitas outras infâncias com as quais pôde expressar seus medos, segredos e esperanças de garoto.


Quão extraordinário e poderoso é o dia em que a infância se vai? O dia em que o menino dá boas-vindas ao homem? Para Charles Dickens esse dia foi tão determinante que o levou a criar grande parte de suas personagens como sendo verdadeiras personificações deste sentimento. E quase toda a sua obra faz referência a essa circunstância que se relaciona com todas as outras variadas conjunturas da juventude dramática do escritor.

Oliver Twist, David Copperfield, Nicholas Nickleby, Philip Pirrip – o que estes personagens de Charles Dickens têm em comum? São jovens que passam por adversidades, sendo obrigados a, precocemente, ir ao encontro dos encargos da difícil e impiedosa vida adulta. Eles são os alteregos de Dickens, uma expressão da personalidade do autor.


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Dickens é considerado, ao mesmo tempo, realista e romântico. Realista porque tratava de fatos da época e da sociedade em que viveu, de maneira incisiva. Teve uma infância violada. Sua família era economicamente estável, o que lhe proporcionou um excelente nível de educação. Mas seu pai perdeu o controle das dívidas e foi preso, obrigando sua família a mudar-se para a periferia de Londres. Coube ao pequeno Charles sustentá-la aos dez anos, trabalhando em uma fábrica de graxa para sapatos. 

Precocemente, Charles Dickens viu sua infância se esvair como névoa para dar lugar às responsabilidades adultas. Mas Dickens também é romântico, pois apesar de ressaltar tantas dificuldades, suas personagens sempre tinham um encontro feliz com o destino que os redimia das maneiras mais improváveis. 

Assim como na própria vida de Dickens aconteceu que, anos após a prisão de seu pai, sua família herdou uma herança – possibilitando o pagamento das dívidas – o que trouxe novamente uma vida financeiramente estável. Porém, a mãe de Charles Dickens recusou-se a tirá-lo do emprego na fábrica. Este fato amputou, definitivamente, a infância do escritor que, anos mais tarde, afirmaria jamais perdoar sua mãe.

Sendo obrigado a trabalhar, Dickens viu de perto uma sociedade inglesa sádica e corrupta, falha em todas as assistências ao trabalho operário. Juntou a isso o sofrimento de sua família, endividada, presa e humilhada por um sistema carcerário injusto. Dickens começa a escrever, criando personagens que passaram por tais situações - personagens jovens, fortes, que falariam em seu lugar. 

Temas como a pobreza, um sistema educacional deficiente, um sistema jurídico corrompido, a falta de auxílio à orfandade de uma Londres arbitrária, com leis débeis, que fechavam os olhos à exploração infantil e às más condições de trabalho, fazem da obra de Dickens uma das mais ácidas em criticar a sociedade da era vitoriana, apoiando-se em sua própria realidade. 

Suas personagens são formas e vozes dessas suas críticas. Dickens revelou-se um inconformista que conquistou o público burguês – o que conseguiu apenas porque foi inteligente e dominou seu ímpeto revolucionário. Sabia que não era função dele incitar um sentimento de frustração, e sim de suas personagens. Foi o caso de sua primeira obra crítica, The Pickwick Papers, e depois de Oliver Twist, Nicholas Nickleby, A Christmas Carol, David Copperfield, Black House ou Great Expectations, entre outros.


Charles Dickens, nascido em 1812, fica atrás apenas de Shakespeare em número de obras reproduzidas, seja para teatro, cinema ou televisão. É considerado por muitos o maior romancista da língua inglesa de todos os tempos. Suas novelas foram marcantes para uma época que não formou apenas opiniões, mas acrescentou à língua palavras e à sociedade formas de pensar o mundo. A delicadeza de sua pena romântica contrastou com a fúria de uma alma inconformada, resultando em uma das obras mais aclamadas da literatura mundial.

 (publicado em artes e ideias por 

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