Não conheço melhor símbolo da generosidade corporativa do que a imagem dos "Três Mosqueteiros" baseada no clássico de Alexandre Dumas, pai. "Um por todos, todos por um" como sabem é um lema eterno da amizade e do apoio de um time a qualquer um do grupo que esteja em dificuldades.
É disso que trata o excelente artigo que
encontrei no site "Vida Útil - Carreira" da revista Época. "Seja generoso e
ajude a si próprio" é o título que os autores da matéria escolheram e
não poderia ter sido com maior propriedade.
Creio que posso falar a respeito pela minha
própria experiência como executivo em várias fases da minha carreira até chegar
à diretoria e outras altas funções de algumas organizações da Administração Pública.
Sempre e até por formação de caráter liderei
equipes com o propósito pessoal de passar experiências, formar novos valores e auxiliar
na progressão de quem estivesse interessado. Cuidar para manter o grupo coeso e irmanado.
Não são poucos, dos meus ex-colegas e
colaboradores, que reconheceram a minha participação direta na ascensão
profissional que experimentaram em suas carreiras. Acredito nisso. Acredito que é missão de quem
chega a uma posição de comando ser um propulsor de carreiras, um formador de
caráter para seus subordinados seja pelo exemplo, ou seja, como mentor.
É fato que essa não é a regra comum. São poucos
os gerentes que se preocupem ou ocupem seus momentos de trabalho para orientar
em forma de instrução seus subordinados em meio ao turbilhão de coisas que se
movimentam no cotidiano de um ambiente corporativo. Há que gostar de fazê-lo, ter o espírito
generoso e a humildade necessária para, ensinar, explicar e habilitar sem
parecer pedante ou arrogante. Como devem perceber não é um encargo que se execute
com facilidade ou com pouca importância.
Nunca me arrependi desse comportamento
principalmente porque foram muitos os mestres, conselheiros e guias que me
ajudaram na trajetória positiva que consegui percorrer na vida profissional.
Apesar de ser um texto longo (afinal é de uma matéria de revista) recomendo a todos que por aqui passam que leiam o artigo na sua integralidade, mas
principalmente reflitam se estão praticando essa generosidade com os colegas,
auxiliares e colaboradores. Em qualquer posição que ocupem dentro de uma
corporação sempre vão haver oportunidades de passar experiências, vivências e ensinamentos; de ser generoso.
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Seja generoso e ajude a si próprio
Ao compartilhar conhecimento com inteligência, você ganha influência, produz talento, cria imagem de craque e ganha torcida
(Autores: MARCOS CORONATO, COM ALINE IMERCIO E THAIS LAZZERI)
O radialista paulistano Allan dos Santos talvez não imaginasse, mas sua
paciência estava garantindo a continuidade de uma corrente do bem. Em
2005, Santos, já um profissional experiente, empenhava-se em orientar e
formar o então estagiário Ricardo Padovani, também radialista. Padovani
considera-se, hoje, um profissional mais completo por causa da atenção
que recebeu quando estava começando (ele e Santos trabalham atualmente
em lugares diferentes). Anos depois, foi sua vez de assumir o papel de
mentor. Seguiu o exemplo que havia recebido e doou atenção e
conhecimento a uma estagiária, a cineasta e radialista Victoria Sayuri
Freire. O empenho de Padovani contribuiu para que ela amadurecesse e
fosse contratada. Hoje, Victoria, aos 21 anos, é roteirista e produtora
na área de educação à distância do Hospital Albert Einstein, em São
Paulo. Ela e Padovani trabalham hoje em lugares diferentes. Mas a jovem
lembra a forma generosa como foi tratada. “O Padovani me incentivou a
assumir tarefas mais difíceis para mim naquele momento e valorizava meu
trabalho diante dos outros”, diz.
É provável que Victoria também se comporte dessa forma no futuro,
quando assumir o papel de mentora de outros jovens profissionais.
Ninguém duvida que seja ótimo trabalhar com gente assim, e toda
organização afirma querer, em seus quadros, profissionais que ajam pelo
bem da equipe. Mas cada um tem direito a uma ampla margem de dúvida:
vale a pena gastar tempo ajudando os outros, num ambiente tão
frequentemente agressivo, competitivo e excludente como o mercado de
trabalho? Tem sentido compartilhar com os outros recursos tão escassos e
valiosos na vida profissional, como ideias, conhecimento, atenção,
contatos, crédito e oportunidades? Não seria mais esperto tentar obter
mais desses recursos e guardá-los para si?
Uma resposta surpreendente a essas dúvidas vem sendo oferecida pelo
americano Adam Grant, Ph.D. em psicologia e professor na escola de
negócios da Universidade da Pensilvânia. Ele afirma que a atitude
generosa na vida profissional é a que oferece resultados mais extremos –
por isso, se colocada em prática da maneira certa, é a mais indicada
para quem quer o máximo de satisfação profissional (entenda-se aqui
satisfação como conseguir o que se deseja, não necessariamente o salário
mais alto). “Entre vendedores, engenheiros, médicos, os mais inclinados
a ajudar os outros são também os que têm maior chance de falhar
dramaticamente ou atingir enorme sucesso. Então, a questão a responder
é: o que fazem os generosos que chegam ao topo?”, diz Grant. “O mais
eficiente é ser altruísta, mas de maneira que não sacrifique nossos
próprios objetivos e ambições.” O pesquisador se apoia em dezenas de
estudos feitos desde os anos 1960 com grupos profissionais diversos,
como arquitetos, executivos, professores e vendedores. Todos tratam das
relações entre egoísmo e altruísmo, sucesso e fracasso. Foram feitos de
forma independente uns dos outros, mas Grant extraiu deles uma visão
coerente e singular.
O psicólogo imagina um espectro com diferentes comportamentos em
relação a dar e receber recursos valiosos no trabalho, como ideias e
contatos. Num extremo do espectro imaginado por Grant está o doador
generoso desses recursos – o profissional que compartilha sem esperar
nenhum pagamento ou vantagem imediata com isso. No outro extremo,
situa-se o fominha devorador de recursos, o profissional agressivo que
tenta doar o mínimo possível e extrair dos outros o máximo de vantagens.
Entre os dois extremos, espalha-se a maioria das pessoas.
O senso comum diria que a ponta do espectro ocupada pelos fominhas
agrupa também os mais bem-sucedidos, os gênios solitários e os fora de
série. Afinal, o sujeito agressivo e ambicioso, quando mostra também
competência, viraria um tipo de pistoleiro de sua área, capaz de
infundir admiração entre os chefes e terror no coração dos oponentes. O
senso comum diria também que o povo na metade mais generosa da régua,
embora seja o mais agradável de conviver, não consegue resultados
impressionantes. Essa turma do meio-termo seria bem representada por
aquele colega simpaticão, benquisto por todos, que não é demitido mas
tampouco brilha pelo desempenho. Grant discorda dessas crenças e oferece
pesquisas para confrontá-las.
O psicólogo afirma que o comportamento predominante no mercado de
trabalho não é fominha nem generoso, e sim o intermediário – o
profissional que tenta ser justo, mas desconfia de quem não conhece e se
preocupa principalmente em não fazer papel de otário. Essa forma de
agir segue a regra do toma lá dá cá, ou seja, oferece um favor e quer
receber outro em troca. Trata-se de um padrão de comportamento de baixo
risco, que também oferece baixo retorno. O profissional desse tipo
dificilmente brilhará ou fracassará pela forma como interage com outros.
Grant reconhece que a ponta da régua ocupada por fominhas inclui, sim,
gente que se dá bem, mas não abriga a maior parte dos extraordinários.
Isso porque o comportamento agressivo não seria a estratégia
profissional mais ousada. O mais surpreendente, na proposta de Grant, é
sua visão radical da generosidade. Ele acredita que os doadores
contumazes de recursos seguem a mais arriscada de todas as estratégias.
Eles seriam os verdadeiros caubóis, desbravadores de um território
obscuro. Por seguirem um comportamento de alto risco, obtêm resultados
extremos de fracasso e sucesso. Grant detalha a tese no livro Give and take (ainda sem título em português, a ser publicado no Brasil em março, pela Editora Sextante).
A obra impressiona quem estuda o tema. “Acho essa abordagem original.
Gosto porque não trata de um generoso perfeito nem bonzinho, e sim de um
generoso que tem de saber dizer ‘não’ e precisa ser muito produtivo”,
diz a orientadora de executivos e especialista em treinamento
profissional Flávia Lippi. Grant passa ao largo de qualquer bom-mocismo e
psicanálise. O autor dedica pouco espaço à tentativa de compreensão da
origem desses comportamentos e prefere estudar as consequências deles.
“Os doadores bem-sucedidos são tão ambiciosos quanto os fominhas e os
toma lá dá cá. Eles apenas têm um jeito diferente de perseguir seus
objetivos”, afirma. Trata-se de uma visão de mundo atraente. Todos
queremos que os generosos triunfem. Mas será realidade?
A literatura de administração de empresas concordará alegremente. Do
ponto de vista da maioria das organizações, é ótimo que os funcionários
sejam ambiciosos e, ao mesmo tempo, generosos uns com os outros. Allan
Cohen, professor na Babson College, e David Bradford, professor na
Universidade Stanford, são autoridades na compreensão sobre como
funciona a influência. Perceberam que os indivíduos mais influentes,
mesmo sem autoridade formal, são os que têm objetivos claros, conhecem
os recursos de que dispõem e sabem oferecer esses recursos aos outros
quando necessário – apenas outra forma de descrever o generoso
bem-sucedido de Grant. As mais recentes mudanças no comportamento das
organizações valorizam a colaboração. Fala-se hoje em economia da
reputação (que atribui alto valor à imagem de indivíduos, organizações e
países), em “coopetição” (que mistura cooperação e competição, dado o
alto grau de interconexão de profissionais e mercados) e em inovação
aberta (que alerta as organizações e seus profissionais para a
necessidade de contar com as mentes brilhantes que estão fora dos
limites da empresa). Todas essas teses combinam-se, facilmente, com o
elogio da generosidade. Algo se perde, porém, entre a teoria e a prática
diária nas empresas.
Ao se apresentar ao mercado, os profissionais hesitam em descrever-se
como generosos e bons de trabalhar em equipe. A maioria ainda crê que é
melhor negócio passar a imagem de pistoleiro solitário. Entre as
palavras e expressões mais usadas pelos profissionais brasileiros para
se descrever em 2013 na rede social LinkedIn, dedicada a contatos de
trabalho, encontram-se “responsável”, “estratégico”, “criativo”,
“inovador”, “competitivo” e a esquisita “organizacional” – nenhuma que
tenha claramente a ver com a habilidade de doar-se ao grupo. Nos Estados
Unidos com alto desemprego, nota-se um empenho do profissional em
mostrar-se apto para tipos variados de vagas – o americano se descreve
como “adaptável”, “em aprendizado contínuo” e “flexível”. Um segundo
grupo de palavras e expressões preferidas no ano passado inclui
“ambicioso”, “competitivo” e “altamente competitivo”. Nada que sugira
valorização da generosidade. “A visão de Grant tem sentido, atende a um
anseio e é uma tendência”, afirma Mara Turolla, executiva com 30 anos de
experiência em recursos humanos e diretora na consultoria Career
Center. “Mas não sabemos se já é uma realidade. E, em períodos de crise,
as empresas procuram os profissionais mais agressivos, que buscam
resultado no curto prazo.”
Nem é preciso recorrer a esse ceticismo saudável para entender o
fracasso de grande parte dos generosos. Quem se doa de forma caótica
perde o rumo e a concentração, ao atender a pedidos de favores
aleatórios (“Você pode me ajudar a revisar estes números, por favor?”).
Ao dividir sua atenção e seus esforços, o doador passa a ser visto como
gentil, um auxiliador trivial sempre à disposição, e não como um
especialista a consultar em momentos decisivos. Pior: o desprendimento
tende a atrair fominhas. Eles sentem de longe o cheiro da vantagem fácil
e aproximam-se para arrancar favores. No fim do massacre, o generoso
esgotado afunda, sem ter conseguido fazer o que gostaria. Esse não é,
porém, um destino inescapável para o generoso. Grant descreve vários
caminhos pelos quais um doador organizado pode chegar aos níveis mais
altos de sucesso e satisfação profissional. “O primeiro passo do
generoso bem-sucedido é perceber que não conseguirá ajudar a todos, com
todos os pedidos, o tempo todo”, diz. “Ele reflete sobre quem, como e
quando ajudar.”
Ao escolher bem como doar e para quem, o generoso organizado consolida a
imagem de profundo conhecedor de um tema ou craque na superação de um
tipo de desafio. Com o tempo, essa imagem transpõe os limites do
trabalho atual – o generoso é beneficiário direto da atual fluidez da
informação (enquanto o fominha é prejudicado por ela). Quanto mais
regular for a doação, mais o generoso se obrigará a ser produtivo,
concentrado e conhecedor do que fala – “generosidade é uma forma de agir
que se treina e se aprimora com a prática”, diz a coach Flávia Lippi.
O doador eficiente forma a seu redor uma rede firme de contatos e
aliados – gente disposta a retribuir favores, a passar favores adiante e
que torce por seu sucesso. Quem é generoso com os outros ajuda a si
próprio. Enquanto outros chefes preocupam-se em identificar jovens
promissores para depois atraí-los, o generoso vê em cada novato uma
promessa e investe nele. Isso aumenta enormemente as possibilidades de
que esse novato se torne muito competente. No fim das contas, é mais
produtivo semear talento a seu redor do que tentar importá-lo. “É um
receio meio ingênuo o profissional achar que será ultrapassado se
ensinar o novato. Quem compartilha atrai gente talentosa”, diz Denys
Monteiro, diretor presidente da consultoria de recursos humanos Fesa.
Além disso tudo, o generoso exercita regularmente músculos úteis ao
cotidiano de trabalho – ele pensa no longo prazo e coloca-se facilmente
no lugar do outro, seja um cliente poderoso, seja o estagiário.
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