Desnecessário
apresentar Paul Krugmam,
professor, escritor, prêmio Nobel de economia em 2008 e colunista de sucesso do
New York Times. É um dos mais lúcidos e acreditados economistas do planeta. Ele
escreve aos domingos para a Folha de São Paulo e seus artigos levam a marca da
inteligência e da didática de um professor. São sempre excelentes. Não os
publico na totalidade, pois a maioria tem cunho muito técnico e seriam
enfadonhos para nós, os seres comuns que vivemos em outra realidade.
O
artigo que está abaixo fugiu (um pouco) a essa regra. Krugman nos oferece uma
brilhante análise da crise econômica que assola a Europa e a Zona do Euro como
ainda não havia lido em nenhum outro jornal ou revista. Se o leitor ainda não
entendeu direito essa famosa crise que aparece todos os dias e em todos os
jornais do mundo inteiro vai compreendê-la lendo esse texto.
São Paulo, sábado, 19 de maio de 2012
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A
resposta europeia para a crise econômica foram medidas de austeridade, cortes
ferozes de gastos
Subitamente
se tornou fácil perceber como o euro -aquela grande e equivocada experiência de
construção de uma união monetária desacompanhada de união política- pode se
desmantelar.
Não
estamos falando de uma perspectiva distante, aliás.
Isso não
precisa acontecer. O euro (ou a maior parte dele) ainda pode ser salvo. Mas a
tarefa requereria que os líderes europeus, especialmente os da Alemanha e do
BCE (Banco Central Europeu), começassem a agir de modo muito diferente do que
vêm fazendo nos últimos anos. Precisam deixar de dar lições de moral e
enfrentar a realidade; precisam deixar de contemporizar e, pelo menos uma vez,
agir antes da crise.
Eu bem
que gostaria de me declarar otimista.
A
história, até aqui: Quando o euro foi criado, surgiu uma grande onda de
otimismo na Europa. A Espanha e outros países passaram a ser vistos como
investimentos seguros e começaram a receber grandes influxos de capital; essa
entrada de dinheiro alimentou imensas bolhas no setor de habitação e imensos
deficit comerciais. E então veio a crise financeira de 2008 e o capital
desapareceu, causando severas contrações em diversos países que vinham em
expansão até ali.
A
resposta europeia foram medidas de austeridade; cortes ferozes de gastos em um
esforço para reassegurar os mercados de títulos. Mas, como qualquer economista
sensato poderia ter dito (e o fizemos, o fizemos), esses cortes aprofundaram a
depressão nas economias europeias em crise, o que tanto solapou a confiança dos
investidores quanto resultou em crescente instabilidade política.
E agora
finalmente surge o momento da verdade.
A Grécia
é o ponto focal, por enquanto. Os eleitores, compreensivelmente irritados com
políticas que resultaram em desemprego de 22%, voltaram-se contra os partidos
que as propuseram. E porque toda a elite política grega foi, na prática,
forçada a endossar uma ortodoxia econômica fadada ao fracasso, a repulsa dos
eleitores resultou em um ganho de poder para os extremistas.
Mesmo que
as pesquisas estejam erradas e a coalizão governista de algum modo conquiste
maioria na próxima votação, a partida está basicamente perdida. A Grécia não
quer e não pode manter as políticas que a Alemanha e o BCE exigem.
O que
acontece agora? No momento, a Grécia está passando por uma chamada "corridinha
aos bancos". O BCE está, na prática, financiando essa corrida aos bancos,
ao emprestar os euros de que a Grécia precisa para honrar os saques; se e
(provavelmente) quando o Banco Central decidir que não pode mais fazê-lo, a
Grécia se verá forçada a abandonar o euro e voltar a emitir uma moeda própria.
A
demonstração de que o euro é de fato reversível resultaria, por sua vez, em
corridas aos bancos espanhóis e italianos. O BCE teria de uma vez mais decidir
se vai oferecer financiamento irrestrito; caso não o faça, o euro pode
simplesmente estourar por completo.
Todos
nós, portanto, temos grande interesse no sucesso europeu -mas cabe aos europeus
conquistar esse sucesso. (Tradução
de PAULO MIGLIACCI)
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