O sentimento que nós, seres comuns, experimentamos quando recebemos
a notícia da morte de um artista como Chico Anysio é de luto. Não só a sensação
de pesar por saber que nunca mais o veremos ao vivo, mas também o vazio que
fica no universo à nossa volta. Um vácuo, uma percepção de perda cultural e um
momento de reflexão sobre uma parte das nossas vidas que se esvanece, que se
extingue. Também é a emoção de um certo orgulho e vaidade porque tivemos o
privilégio de viver durante sua vida e de assisti-lo em sua arte. Poderemos
contar aos netos que "vimos Chico Anysio na TV, no cinema e no
teatro".
Certamente não escreverei aqui sobre a vida Chico Anysio. A imprensa do
Brasil e do mundo inteiro está noticiando a morte e homenageando esse homem
genial que foi (e será sempre) um orgulho para o mundo artístico e
cultural brasileiro.
Embora o conheçamos mais pelos seus inúmeros personagens humorísticos
criados para televisão ele era muito mais que isso. Foi, além do comediante
insuperável com mais de 200 personagens criados (Professor Raimundo, Bozó,
Painho, Coalhada, Alberto Roberto, Justus Veríssimo, Salomé, Bento Carneiro,
Pantaleão, Nazareno, Haroldo, Azambuja...), também um ator (fora do campo
humorístico) de cinema, televisão e teatro; foi diretor de cinema e teatro,
escritor com mais de 20 livros publicados, artista plástico de prestígio com
muitos prêmios e exposições... Foi um homem de múltiplos talentos no mundo das
artes. Restringi-lo apenas como humorista é pouco para o gênio desse grande
brasileiro.
Por todas as manifestações de amigos e colegas sobre Chico Anysio surge, além
do artista completo que foi, uma figura humana generosa e amada por todos os
que com ele conviveram. Em um mundo tão egocêntrico e personalista como é o das
celebridades Chico Anysio revela-se como homem que ajudou e apoiou inúmeros
jovens que tiveram as primeiras oportunidades profissionais por suas mãos. Cito
Tom Cavalcante, Heloisa Perissé e Regina Casé entre muitos outros.
Também resgatou - pelo seu prestígio e generosidade - as carreiras de
humoristas da velha guarda da época do rádio que estavam marginalizados e sem
oportunidades, mas que voltaram a aparecer na TV e no cenário artístico na Escolinha do Professor Raimundo.
A sensação dos brasileiros que o amavam e admiravam é a de um cometa
radiante que encerrou sua trajetória no universo artístico e transformou-se em
uma estrela muito luminosa que continuará a brilhar no céu da arte brasileira.
Irá se juntar à constelação de outros astros que cometas também foram e estão
brilhando como estrelas nesse mesmo céu. Artistas como Elis Regina, Tom Jobim,
Simonal, Dercy Gonçalves, Grande Otelo...
O Brasil está hoje e estará durante muito tempo chorando e
entristecido com a morte de Chico Anysio, mas também alegre e enternecido porque lembrar dele será sempre recordar seus tipos famosos e seu humor inteligente.
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