Temo que possamos assistir a um processo constrangedor de influência do poder econômico no noticiário produzido pela mídia nacional e no aparato policial do Estado do Rio de Janeiro. Refiro-me ao episódio do atropelamento e a morte
- sábado à noite no Rio de Janeiro - de um ciclista (Wanderson dos Santos) causada pelo automóvel dirigido por Thor Batista, filho
de Eike
Batista apontado como o homem mais rico da América Latina e um dos dez
em todo o planeta.
A
"discrição" e até uma certa timidez que estou observando nos principais
noticiários do país - rádio, jornal impresso, televisão e internet - no dia de
hoje contrastam com o peso da notícia e estão incomodando e deixando a opinião pública pra lá de desconfiada.
É certo que nossa grande imprensa (com raras exceções) não é dada a sensacionalismos, mas chamou-me a
atenção o registro que o jornalista Ricardo Boechat fez hoje na rádio Band News
FM em seu programa pela manhã quando criticou abertamente (fato raro) o jornal
O Globo por não haver colocado na sua primeira página da edição de hoje uma
linha sequer sobre o acidente com o Thor Batista. Segundo ele esse é um recurso que os jornais utilizam para "amortecer" o impacto de uma notícia que incomoda aos donos das empresas de comunicação.
Fui pesquisar e é verdade (veja a imagem). Não houve sequer uma "chamada"
para a notícia que está em uma matéria no interior do jornal ocupando um quinto de
página. A bem da verdade deve ser dito que a edição de ontem (2ª feira) de O Globo deu ampla cobertura ao fato com chamada na primeira página, mas hoje... nada e a notícia ainda é "quente".
Clique sobre a imagem para ampliá-la |
A chamada
grande imprensa, aparentemente não está dando à notícia o peso que ela tem em função do interesse despertado na opinião pública. O atropelamento com
morte é coisa comum nas rodovias brasileiras e não teria nenhuma repercussão
não fosse o filho de Eike Batista o motorista responsável.
É óbvio que
ninguém está e nem poderia demonizar o jovem Thor ao acusá-lo incontinente de ser responsável direto pela
morte do ciclista Wanderson dos Santos. Há que haver investigação (e muita) na busca da verdade exatamente porque o jovem Thor é quem é.
Também é fato que os indícios
preliminares estão contra o motorista: carro com potência de fórmula um,
rodovia reta, escuridão da noite, as marcas do acidente na pista e no veículo,
testemunhas que apontam alta velocidade, carro retirado apressadamente do pátio da polícia, precedentes de
infrações muitos pontos por excesso de velocidade na carteira de habilitação do jovem Thor... Tudo converge
para excesso de velocidade na rodovia cujo limite é de 110 Km/hora. Muito
material para uma investigação acurada, se as autoridades o desejarem.
É difícil acreditar (embora seja possível) que um jovem amante de carros esportivos e
de alta potência como é Thor Batista (conforme está na sua "biografia") pilotando um carro com potência de 300 km/hora à noite e com
pista livre se contivesse em dirigir a 110 km/hora como se apressou em afirmar
seu pai.
Também não achei correto que Eike Batista de imediato e de forma contundente se manifestasse para colocar a responsabilidade
do acidente na vítima que não esqueçamos pagou com a própria vida. Não pegou
bem. De certa forma - é flagrante - que Eike Batista, na defesa do filho (é o que qualquer pai faria),
está exagerando na dose, mas também sinalizando que colocará todo seu enorme poder econômico para
não permitir a condenação do rapaz por crime doloso. Por sua história e prestígio deveria ser dele o maior interesse em que a verdade surja transparente.
A realidade é que bastará à perícia que cuida do acidente chegar à conclusão que Thor estava
acima ou no limite da velocidade permitida - o que é facílimo para qualquer perito concluir - e o
rapaz estará indiciado por crime culposo ou doloso, este com consequências imprevistas para as figuras de Thor Batista e a do pai evidentemente. É muita coisa que está em jogo para alguém
tão poderoso e cioso de sua imagem pública.
Por isso as autoridades do Rio de Janeiro e a mídia nacional, principalmente a mídia
responsável e séria devem tomar muito cuidado para não escorregar na dose de
"discrição" que claramente toma conta das suas redações em relação à cobertura dessa notícia.
É claro que
os Batista vão dar toda assistência à família de Wanderson e certamente indenizá-la com magnanimidade e nobreza. Poderão ser generosos - porque
podem - para compensar a perda que uma vida humana provoca em qualquer família.
Todavia não é aceitável que não haja justiça ou que se organize um
processo de amortecimento dela pelo poderio econômico dos envolvidos. Vamos
aguardar o desenrolar dos fatos, mas atentos.
Para a opinião pública que acompanha o caso a
expectativa é que de forma clara e transparente a justiça seja aplicada doa a
quem doer. Se a justiça é cega realmente nesse país eis ai uma bela oportunidade
para comprovar que é verdade e não permitir que prevaleça mais uma vez o bordão oposto que diz "a justiça não atinge os ricos e poderosos".
Prezado HB,
ResponderExcluirA cada época da história brasileira o poder econômico utiliza a ferramenta que lhe está mais facilmente disponível.
Em geral é a força do fuzil ou do cacetete, mas o passado recente mostrou que para calar a boca de todos o dinheiro é mais eficiente e não suja as mãos com sangue.
E movido a dinheiro público (principalmente) e de particulares também, a imprensa se cala diante das suas necessidades financeiras mais prementes.
Só numa república de bananas é que acontece de "o carro de Thor chegou a ser recolhido para um pátio da Polícia Rodoviária Federal, mas o advogado do jovem conseguiu levar o carro sob a garantia de não modificar o estado do veículo" ser possível.
A luta pela democracia anda esmorecendo diante do primeiro maço de dinheiro cintado mais parrudo.
SDS
JB
Caro JB,
ExcluirMuito bem colocado seu comentário. Acho que esse caso será emblemático. Seria quase trivial e não ocuparia uma linha do noticiário nacional caso os envolvidos fosse anônimos, mas não são. Vejo esse episódio como um teste importante para o aparato policial controlado pelo governo do RJ e espelho para o de todos os demais estados. Talvez seja a hora de saber se a lei é para todos ou a turma da cobertura está também acima dela. Vai ser interessante saber. Ninguém quer condenar a priori o jovem Thor Batista só porque ele é quem é, mas a opinião pública está muito curiosa para ver aonde essa história vai chegar. Fico imaginando a saia justa que o governador do Rio deve estar. E o secretário Beltrame? Famoso pela política firme contra a bandidagem nos morros e imagem de um ferrenho defensor da lei, carreira na Polícia Federal o secretário de segurança pública do RJ deve estar sem dormir com o governador no seu pé. E os policiais de Xerém? Xerém, ora veja só! É, a opinião publica esclarecida deve estar mesmo curiosa. Por enquanto só estamos vendo movimentos laterais no caso. Arabescos. Só o advogado da família do ciclista está mantendo a chama acesa. Até quando? É ou não é um teste?
Um abraço meu caro e volte sempre. Seus comentários estão sempre iluminando a Oficina de Gerência.
Passado um ano do acidente, todos dormem felizes. Um "aparente" erro processual cuidou para que a saia justa fosse convenientemente "alargada". Não seria de se esperar outra coisa: impunidade com toque de perversidade.
ResponderExcluir"Thor Batista não vai a interrogatório sobre homicídio de ciclista no Rio
Advogado do filho do empresário Eike Batista apresentou laudo médico.
Juíza deferiu pedido para que novo laudo da velocidade do carro seja feito."
'Violação da imparcialidade'
Segundo o Tribunal de Justiça, a juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da 2ª Vara Criminal de Caxias, reforçou a decisão da 5ª Câmara Criminal que anula o documento elaborado pelo perito. De acordo com a decisão, Hélio Martins Junior “não deverá mais manifestar-se nos autos”. Na semana passada, os desembargadores já tinham votado a favor da defesa de Thor, que alegou que o laudo violava a imparcialidade.
Na decisão, a juíza frisou que o perito teve, por mais de uma vez, contato direto com o Ministério Público. Isso já seria capaz de “suscitar dúvidas sobre a sua atuação como auxiliar da Justiça neste processo”. Daniela Barbosa ainda argumenta que essa relação, entre o perito e a promotoria, “constitui ofensa aos princípios da igualdade processual, do contraditório e da ampla defesa e, bem certo, ao devido processo legal constitucional”.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/03/thor-batista-nao-vai-interrogatorio-sobre-homicidio-de-ciclista-no-rio.html
Acho que até mesmo a chama do advogado de defesa se apagou.
A polícia do seu Cabral deu uma pequena ajudinha ao superherói tupiniquim...
SDS
JB