Trecho da infeliz entrevista de Felipe Massa à Folha de São Paulo |
L
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i neste fim
de semana na Folha de São Paulo - Caderno de Esportes - uma entrevista do
piloto Felipe Massa da equipe Ferrari na Fórmula Um. Em outras circunstâncias
nem perderia tempo em conhecer a matéria. O que pensa Felipe Massa deixou de me
interessar desde quando ele também "deixou
passar" o carro do espanhol Fernando Alonso (companheiro de Ferrari)
atendendo a uma "ordem" do seu chefe de equipe. Isto ocorreu no
Grande Prêmio da Alemanha no ano passado.
Na ocasião manifestei-me no blog com o post "Ferrari
cometeu, mais uma vez, crime contra o automobilismo" demonstrando
minha indignação - como aficcionado da Fórmula Um - contra o ato "ordenado" pela Ferrari e a atitude de Felipe Massa. A partir dali o piloto brasileiro deixou de merecer
minha atenção e a de muitos brasileiros. E também entrou em decadência na
Fórmula Um.
Volto agora ao episódio. Me reporto a duas frases que o piloto brasileiro disse na entrevista
citada. Ambas as frases estão destacadas abaixo:
- "Quando te dão uma ordem você tem de seguir. Acho que qualquer piloto profissional faria a mesma coisa que eu (...) Vou continuar sendo um profissional”.
- "Se essa situação acontecer de novo, vou ser profissional”.
Pódio no dia da "ultrapassagem". Constrangimento de ambos. |
Senhores do Conselho, apaguem o que o Felipe Massa
disse. Ser profissional está longe da caracterização e dos critérios que ele
usou para justificar a sua covardia – sim, covardia – ao não enfrentar uma
ordem errada dos seus superiores e se sujeitar ao rebaixamento dos seus
próprios valores morais e profissionais.
Massa não foi e não está sendo sincero quando diz
que “quando te dão uma ordem você tem que
atender”. Isso não é verdade porquanto há uma enorme gama de situações e
circunstâncias que podem fazer um subordinado não acatar determinadas ordens
superiores.
Também não é correto ele dizer que “qualquer piloto profissional faria a mesma
coisa que eu”. Pelo histórico poderia citar vários pilotos que não fariam o
que Massa fez, mas fico com três. Dois brasileiros geniais, Nelson Piquet e
Ayrton Senna e mais um inglês arretado que foi o Nigel Mansell.
Falso Acidente de Nelsinho Piquet. "Ordens do Chefe" |
Ser profissional é muito diferente do que o Massa
falou. Ser profissional é sim, claro, obedecer às ordens superiores, porém (e aqui
reside o “xis” da questão) essas ordens têm que respeitar uma escala de valores
e critérios para poder ser cumpridas.
Qualquer empregado tem o dever de questionar e não
acatar as ordens que firam os seus valores morais e éticos. Toda ordem tem que
ser legítima na sua amplitude e especificidade. Não podem elas confrontar os interesse
corporativos da empresa onde o subordinado preste serviço. E poderia ficar aqui
desfiando incansavelmente definições e considerações sobre que condicionantes
devem cercar uma ordem para que ela seja aceita e cumprida.
A responsabilidade de uma ordem é de quem a dá. Aos
subordinados cabe a avaliação da sua retidão e licitude sob o ponto de vista dos
valores universais que regem a moral e os bons costumes. E, por óbvio, também
responderá pela sua recusa. E é exatamente nesse ponto onde reside todo o peso
das avaliações de quem se recusa a cumprir uma decisão superior que julgue desarrazoada,
espúria ou injusta.
Certamente não estou “pregando” o motim ou a
desobediência. Seria um tolo que assim procedesse. O que defendo é faculdade e
a prerrogativa de um subordinado negar-se a cumprir uma determinação superior
se a julgar fora dos limites de sua aceitação consciente. Isso sim, no meu
conceito é ser profissional.
Claro que o tema merece uma ampla discussão, todavia
pouco se lê a respeito. É um privilégio dos ordenadores. As ordens – como disse
o Massa – são dadas para ser obedecidas e quem não as cumpre estará sob a ameaça
de ser condenado ao banimento, ao degredo e à proscrição corporativa com o
estigma de rebelde. Entra na “lista
negra” e vai para a margem do campo de jogo das corporações. Vide os exemplos
de Barrichello e Massa. Eles falam por si mesmos.
Quem já passou por essas circunstâncias sabe como é
duro enfrentar o ostracismo e o exílio como profissional. Entretanto quem teve
a coragem de enfrentar o não cumprimento das ordens suspeitas e ilícitas, mesmo
pagando alto preço, não se arrepende. Como diriam nossos avós o sono dos justos
não tem preço.
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