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uero me referir às mobilizações contra a corrupção que - sendo «convocadas» pelas redes sociais (principalmente Facebook e Twitter) - estão empolgando as famílias e despertando a consciência das pessoas para problemas que antes eram desprezados pelas diversas camadas sociais na lista de suas demandas cívicas.
Considero que estas «marchas» no Brasil têm o mesmo DNA que as mobilizações como a «Primavera Árabe» que está derrubando governos e alterando realidades na África e no Oriente Médio. Também estão na mesma estrutura molecular as «Marchas dos Indignados» que ocupam praças e ruas da Espanha, Portugal, França e Grécia na Europa. Mais recentemente - e ao que tudo indica - o mais poderoso deles é o movimento sem nome que mobiliza a poderosa sociedade norteamericana contra o sistema financeiro, contra os ricos e contra os políticos representado pela imagem de Wall Street que cresce e se espalha pelas principais cidades dos EUA sem que as autoridades possam controlá-lo.
Enfim, são eles os cidadãos comuns que mesmo sem lideranças visíveis e sem organização formal estão se exprimindo de forma (ainda) pacífica, nas ruas e nas redes sociais da internet, nos sites, blogs e da maneira que podem.
O que querem esses cidadãos?
O que querem esses cidadãos?
Nesse ponto, e para ilustrar melhor o artigo permitam-me contar uma historinha que aprendi com um homem sábio:
- «Um político visitava determinada cidade do interior brasileiro fazendo campanha para sua eleição. Desde que descera do carro um cidadão local, visivelmente mal vestido e pobre, colocou-se a seu lado e de vez em quando puxava a manga do paletó do político. Ele se soltava, olhava com cara feia para o homem e prosseguia no seu trajeto. Em dado momento o político se irritou de vez com o homem e perguntou-lhe o que queria já que o estava incomodando e impedindo-o de fazer sua campanha. O homem, humilde no seu jeito de falar, disse apenas: - Eu só queria sua consideração doutor.»
A forma mais simples, embora (aparentemente) simplória, de traduzir o que querem os cidadãos do mundo, indignados com o «status quo» em que se encontram diante da indiferença dos seus políticos, dos ricos e das suas elites é exatamente isso, QUEREM CONSIDERAÇÃO!
Estas pessoas que marcham no Brasil desejam que os políticos e os corruptos - sejam ou não ricos e poderosos - sejam punidos POIS ISSO SERÁ UM GOLPE DIRETO NA CORRUPÇÃO; querem que seus governantes cumpram os compromissos das suas campanhas; querem os seus direitos humanos respeitados, protegidos e promovidos; querem dignidade e respeito para com suas vidas; querem a consideração de quem os governa para melhorar suas existências e diminuir as desigualdades sociais refletidas pela pobreza, desemprego, falta de educação, saúde, saneamento e tudo o mais que aparece nos discursos políticos e JAMAIS se tormam realidade.
É isto que está se avizinhando com as manifestações – repito, ainda pacíficas - que temos visto mundo afora e particularmente no nosso Brasil. Por ora, estão pequenas é verdade, sem lideranças conhecidas, com organizações improvisadas, mas expressam a vontade popular mais genuína e por isso só vão crescer e tornar-se fortalecidas. Mais importante, não são aceitas as presenças de políticos, de partidos, de sindicatos e de bandeiras sectárias de qualquer espécie. É a autêntica «voz rouca das ruas» que traduz à perfeição o clamor da indignação que a opinião publica começa a rugir para suas «lideranças». Espero que eles saibam ouvir antes que seja tarde... Para eles.
Há tempos estava procurando um artigo nos grandes jornais que pudesse expressar de forma convincente e equilibrada o movimento que aos poucos vai ganhando espaço na opinião pública do Brasil. Leiam-no abaixo. O primoroso texto da não menos excelente jornalista Eliane Cantanhêde da Folha de São Paulo é exatamente isso. Dos muitos que li sobre as marchas contra a corrupção esse é de longe o mais completo.
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Há tempos estava procurando um artigo nos grandes jornais que pudesse expressar de forma convincente e equilibrada o movimento que aos poucos vai ganhando espaço na opinião pública do Brasil. Leiam-no abaixo. O primoroso texto da não menos excelente jornalista Eliane Cantanhêde da Folha de São Paulo é exatamente isso. Dos muitos que li sobre as marchas contra a corrupção esse é de longe o mais completo.
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São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011 |
ELIANE CANTANHÊDE
Algo de novo no ar
BRASÍLIA - Quem conhece bem Brasília sabe o quanto é difícil colocar 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios em pleno feriado. Ainda mais se a grande maioria é de classe média e gosta de viajar.
Mas quem conhece bem Brasília também sabe que a capital não nega fogo nos grandes momentos e que deu apoio ou até mesmo deflagrou alguns dos principais movimentos políticos: o renascimento do movimento estudantil pós-1968, as Diretas-Já, de 1984, os caras-pintadas dos anos 1990. E eis que 20 mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios e à praça dos Três Poderes no último 12 de outubro para protestar contra a corrupção e defender a constitucionalidade da Ficha Limpa, as prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e a instituição do voto aberto de deputados e senadores. .
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O movimento é quase espontâneo. Começou com anônimos indignados com a roubalheira de dinheiro público, foi alimentado pelas redes sociais e está virando o que está virando sem participação de partidos, de sindicatos e de entidades como, digamos, a nova UNE. As pessoas carregam vassouras, fantasiam-se de presidiários e usam batas pretas, máscaras e narizes de palhaços. O conteúdo é sério, a forma é alegre. Quase um Carnaval pela ética e contra os corruptos. Isso muda alguma coisa? Muda. Tira os cidadãos do marasmo, dissemina a indignação, constrange políticos e agentes públicos, cobra as instituições responsáveis pela impunidade e, principalmente, demonstra um novo estágio da democracia brasileira. Em suma, as marchas contra a corrupção que ocorrem em Brasília e se reproduzem ainda incipientemente pelos Estados e suas capitais são, no mínimo, saudáveis. Não são contra o governo, nem contra o Congresso, nem contra o Judiciário. Mas são um aviso. E, se bem não fizerem, mal não fazem. elianec@uol.com.br |
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