Demitir é o mais fácil.
á muito tempo li em um livro despretensioso,
um velho bordão que fez enorme sucesso no inicio dos anos noventa. Dizia ele: "Jamais
corte o que pode ser desatado". O livro, na verdade uma brochura,
ficou 158 semanas entre os mais vendidos na lista do New York Times. O seu titulo em português era "Pequeno Manual de Instruções para a
Vida" publicado pela Ediouro e cujo autor, H. Jackson Brown
Jr., especializou-se em escrever esse tipo de literatura. Vou
repetir a frase que, aliás, por minha pesquisa não é do autor do
livro. Mas isso não me interessa aqui.
Muito bem,
quero dizer aos leitores do blog que essa frase - aparentemente tão simplória -
tornou-se um lema em toda a minha vida desde que a li pela primeira vez. A partir dai sempre refleti e muitas vezes, quando ao enfrentar um problema o
meu primeiro impulso era o de "chutar o balde", arrasar, arrebentar,
demolir, destroçar, romper... Sempre perguntava a mim mesmo:
- Será que não posso desatar
esse nó?
Devo dizer
que em muitas oportunidades foi impossível deixar de "cortar", mas
nunca antes de procurar o desate, o acordo, o entendimento e a compreensão do
problema; fosse ele de que espécie fosse. E devo acrescentar que esses casos
foram maioria.
A propósito
lembro-me de um episódio no inicio da minha vida profissional, lá pelos idos de
1971. Era eu um jovem engenheiro chefiando uma obra com mais de 300 homens. A
cidade onde trabalhava - no norte de Minas gerais - era tão desprovida de
condições que a construtora não achou um profissional, com experiência,
disposto a chefiá-la. Sobrou para mim, um recém-formado que apesar de feliz da
vida por estar trabalhando tinha sido contratado para ser um mero engenheiro
auxiliar.
Assumi a
chefia com todo entusiasmo e aquela "coragem da ignorância". Apoiado
pelo velho "Mestre Alfredo", encarregado geral da obra e meu grande
mentor, fui tocando e obtendo resultados positivos para a empresa. Ocorreu que
a quantidade de empregados demitidos pela obra, ou seja, por mim, chamou a
atenção do diretor da empresa que viajou para o local a fim de ver o que estava
ocorrendo.
Por sua
experiência não foi difícil chegar à conclusão que tudo se resumia à minha
falta de experiência para manejar os instrumentos do poder colocados à
disposição de quem chefia. A natural arrogância de um jovem profissional, eu
mesmo, que "virou um pequeno líder" no meio da peãozada, não admitia
erros e falhas. Por qualquer motivo eu mandava o peão embora. Era um absurdo!
Entretanto eu estava "seguro dos meus atos" e me achando um sucesso
total.
Muito bem!
Esse diretor mostrou-me a situação e falou-me outra frase que também nunca mais
esqueci. Disse ele, Chico Viana, que foi meu principal orientador
durante o inicio da minha carreira:
- "Meu caro Drummond,
para quem tem o poder, demitir de primeira é o mais fácil. Não sabedoria nisso. Não há inteligência. Se for para simplesmente demitir
quem comete erros e falhas não é necessário ser um chefe, um líder. Basta ser
um capataz, um encarregado."
Lembro-me
que foi uma revelação para mim quando compreendi o que ele estava dizendo. Hoje,
para ser atual, eu diria que recebi ali, um "choque de gestão". Mudei
completamente desde então.
Para quem
tem a responsabilidade de liderar e gerenciar é vital saber conter a
agressividade do poder absoluto. Os grandes problemas que gravitam em torno dos
grandes executivos não são nunca resolvidos com bravatas, atitudes raivosas,
rosnados, gestos espetaculosos, humilhação de subordinados e preocupação com
pesquisas de satisfação de quem não está vivendo aquela realidade. O Estado Absolutista já foi
devidamente enterrado há muito tempo, muito embora algumas lideranças teimem em
não perceber
É necessário
antes de tudo a flexibilidade da análise, a vivência, o equilíbrio emocional e
a segurança de quem sabe o que quer. Não há segredo nessa fórmula. Descortesia,
grosseria, incivilidade, indelicadeza, insensibilidade, rudeza e
rusticidade são escudos para esconder a insegurança de quem tem a
responsabilidade do poder, mas não se sente capaz de utilizá-lo com
competência, envergadura, habilidade, idoneidade, inteligência, proficiência,
talento, tato e vocação. É assim mesmo!
No Brasil de
hoje está sendo muito badalado o estilo "xerifão" atribuído à Senhora
Presidenta da Republica. Isso é muito ruim porquanto cria uma indesejável
publicidade para um produto ruim, que não funciona. Não concordo com ele. Acumulo
mais de 35 anos de experiência em cargos e situações de gerência e liderança e
posso dizer com suficiente autoridade, sem falsa modéstia, que esse gênero
"feitor de senzala" não constrói, não agrega e não produz
resultados.
Espero e
rezo para que não seja este o estilo e a forma da nossa Presidenta comandar seu
time e consequentemente o País. Prefiro acreditar que essa notícia seja
meramente uma "lenda", uma figura de marketing.
|
[Artigo original de Herbert Drummond]
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