Fórum Mundial de Gestão e Liderança 2010
O líder vale pela qualidade de suas decisões
Líderes são lembrados por suas decisões –as melhores e as piores. Noel Tichy, palestrante do Fórum HSM de Gestão e Liderança, diz que, além de um bom histórico de decisões que denotem capacidade de discernimento, pouco mais importa ao CEO e à empresa. Confira.
Levanto-me ou durmo mais um pouco? Caso ou vou estudar no exterior? Picanha ou salmão? O somatório de decisões de menor ou maior impacto determina a qualidade de nossas vidas. As decisões que um líder toma no ambiente corporativo, no entanto, afetam muitas vidas. O somatório dos resultados das decisões que toma definem o sucesso ou o fracasso tanto dele mesmo como profissional quanto da organização. Daí sua importância. Líderes são lembrados por suas decisões –as melhores e as piores.
“Quando um líder demonstra, constantemente, boa capacidade de discernimento, pouca coisa importa além disso. Quando demonstra fraca capacidade, nada mais importa”, afirma Noel Tichy na revista Harvard Business Review. De acordo com ele, que já foi listado entre os dez maiores gurus da gestão pela BusinessWeek, a principal tarefa do líder é tomar decisões de discernimento que levem a resultados positivos.
Por “decisões de discernimento” (judgment calls), podemos entender aquelas que não obedecem a uma prescrição, isto é, que dependem, em boa medida, da capacidade de ponderação e de julgamento do decisor. Derivam, assim, da subjetividade. Essa é, também, uma expressão esportiva na língua inglesa. O árbitro de uma partida de futebol toma decisões de discernimento, com base em sua interpretação sobre o lance (e não estritamente com base nas regras). Uma decisão arbitrária.
Sendo arbitrárias, tais decisões carregam, em si, riscos que uma organização deseja reduzir. Assim, a escolha de um CEO (Chief Executive Officer) é fundamental, pois se trata de uma aposta em um indivíduo que seja capaz de tomar grandes decisões sobre pessoas, estratégias e crise. As decisões sobre pessoas são as mais críticas, porque é “quase impossível se recuperar de um fraco discernimento sobre pessoas”, segundo Tichy. Assim, escolher a equipe certa e desenvolvê-la é a tarefa maior do líder.
Tichy afirma que a melhor maneira de evitar erros nos processos sucessórios de CEO e construir uma organização vencedora é fazer com que líderes de sucesso na organização eduquem líderes futuros, transmitindo seu conhecimento.
As fases do discernimento
“Os líderes que demonstram, com frequência, bom discernimento, não estão apenas tendo uma série de maravilhosos momentos ‘Aha!’, ou de sorte”, explica Tichy. Ele defende que a decisão baseada em discernimento é um processo, e não um evento. Ele se desenrola em três fases:
• Preparação: etapa em que o líder sente e estrutura a questão, com base no conhecimento de si, da rede social, da organização e dos grupos de interesse, e alinha a equipe para que ela perceba a relevância da decisão.
• Decisão.
• Execução: quando o líder faz acontecer, enquanto aprende e realiza os ajustes necessários.
Os líderes podem não ser capazes de mudar suas decisões, mas podem, quase sempre, mudar o curso durante a execução, se forem abertos ao feedback e comprometidos com a conclusão do processo.
Refazendo
Conforme aumentam a complexidade e a incerteza em torno das decisões, ganham importância os processos de revisão da decisão, a que Tichy deu o nome de “re-do loops”.
Um exemplo extraído da história de A.G. Lafley, o ex-CEO da Procter & Gamble, deixará esse ponto mais claro.
Logo que assumiu a empresa, Lafley, desejando colocá-la em sintonia com o cliente, tomou uma decisão apressada: contratou alguém de fora que colocava a parte técnica em segundo plano, Deb Henretta, para liderar a área de cuidados com o bebê. No entanto, Lafley pulou a etapa de alinhar a equipe, que era mais voltada aos aspectos técnicos dos produtos, na direção do sucesso dessa decisão, e a resistência foi inevitável.
Ele, então, convocou uma reunião na qual cada membro de sua equipe teve a oportunidade de defender algum candidato ao cargo. Sabendo que se tratava, também, uma questão de cultura estratégica, a qual pretendia mudar, ele levou a opinião dessas pessoas a sério. No entanto, ao final da reunião, ele ainda acreditava ter feito a escolha certa. Assim, explicou seus motivos detalhadamente. Ainda que o resultado não tenha deixado todos felizes, Lafley conseguiu neutralizar a resistência, antes de seguir adiante. Henretta pôde reavivar a área de bebês e acabou sendo promovida à liderança das operações da P&G na Ásia.
Em seu livro, Tichy cita A. G. Lafley, CEO da Procter & Gamble, juntamente com Jeff Immelt, CEO da General Electric, como pessoas que levam suas organizações de sucesso em sucesso. “Quando erram, são capazes de se recuperar rapidamente, pelo seu poder de discernimento.”
Tichy, professor de administração de empresas na Ross School of Business da Michigan University, é reconhecido como uma autoridade em desenvolvimento de líderes. Desenvolve atividades nessa área por meio da Action Lerning Associates, uma empresa baseada na Inglaterra, das palestras e dos diversos artigos e livros que publica, entre eles Decisão! Como líderes vencedores fazem escolhas certeiras (ed. Bookman), escrito com Warren Bennis. Tichy estará no Brasil em abril, por ocasião do Fórum Mundial de Gestão e Liderança da HSM. Saiba mais sobre Noel Tichy.
Por Alexandra Delfino de Sousa, administradora de empresas e diretora da Palavra-Mestra.
HSM Online
12/01/2010
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