Como muitos dos leitores do blog sabem, trabalho no DNIT que é uma autarquia do Governo Federal essencialmente composta de engenheiros civis em seus quadros técnicos. A falta destes profissionais no mercado é flagrante nas atividades que o órgão necessita executar. Notadamente nas áreas de projetos e fiscalização das rodovias, ferrovias e hidrovias federais. O mesmo ocorre nos Estados da Federação; nas prefeituras, então, direi como aquela personagem do programa "Sai de Baixo" da Rede Globo: "Prefiro não comentar"!
Para quem vivenciou os ultimos 25 anos no mercado de trabalho dos engenheiros saberá lembrar que a profissão, por volta das décadas de 80 e 90, foi sucateada, vilipendiada e desprezada e desmoralizada pelas empresas de construção civil. E isto perdurou até o advento do PAC.
Naqueles tempos quem estivesse empregado "levantava as mãos para o céu" e tinha que suportar toda sorte de aleivosias que os "capitães das empreiteiras" quisessem lhes impor. Salários aviltados, condições de trabalho de baixa qualidade e desvalorização profissional. Esse era o panorama que se descortinava na maioria dos casos. E posso falar porque vivi profissionalmente esse período apesar de estar empregado em uma pequena empresa da qual não posso me queixar. Havia um contingente enorme de engenheiros desempregados vendendo cachorro quente em carrocinhas. Ninguém me contou. Eu vi e vivenciei.
Falo de localidades desprovidas de conforto, como energia elétrica, por exemplo, onde os trabalhadores - inclusive os engenheiros – vivem durante meses e às vezes anos. Regiões onde enfrentam ameaças endêmicas, doenças e falta de segurança, até pessoal, pois tratam e comandam diretamente todos os tipos de pessoas (a chamada "peãozada").
São eles, os engenheiros de campo, que respondem profissionalmente pelos principais vetores de sucesso ou insucesso dos trabalhos contratados tais como prazos cumpridos ou não; faturamentos (altos ou baixos) das obras; qualidade (boa ou ruim) dos serviços e similares.
Enquanto os "supervisores", "gerentes de contrato", "coordenadores", "diretores" (e outros "títulos" que os "engenheiros das cúpulas” das empresas recebem) são remunerados com altos salários e comissões por resultados dos contratos, os engenheiros de campo continuam estigmatizados e desvalorizados como se fossem os "peões" do tabuleiro, as peças de menor valor no jogo. Esta é a verdade e salvaguardo aqui as poucas exceções que, efetivamente, existem em algumas empresas; normalmente as maiores e mais tradicionais.
Leiam abaixo a matéria da Folha e tirem suas conclusões. E refiro-me particularmente àqueles que estão hoje no jogo corporativo e àqueles outros que estarão amanhã. Não é "prerrogativa" da corporação de engenheiros sofrer um "apagão técnico". Outras profissões estão caminhando céleres para lá...
São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009
Busca por engenharia cresce, mas falta vaga.
Dados do MEC sobre curso de engenharia civil revelam descompasso num momento em que a construção civil vive "apagão" de mão de obra . Haverá falta de profissionais da área no país em 2010, diz estudo; faculdades privadas pediram ajuda ao governo para abrir mais vagas
[FÁBIO TAKAHASHI DA REPORTAGEM LOCAL]
De um lado, falta de profissionais formados no mercado de trabalho. Do outro, candidatos interessados na formação, mas sem vagas suficientes. Assim está o panorama da engenharia civil no país.
Dados do Ministério da Educação mostram que o número de alunos que prestaram vestibular para a área cresceu 86% em três anos (o número mais recente, divulgado mês passado, é de 2008). Já as vagas subiram em ritmo menor: 49,6%.
Com o descompasso, a relação de candidatos por vaga chegou a 3,5 no sistema como um todo, mas subiu para 8,4 considerando só as universidades públicas, onde a diferença nos indicadores foi mais acentuada. Na Unicamp, por exemplo, 27,4 alunos disputam uma vaga.
A incapacidade do ensino superior de absorver interessados na área ocorre num momento em a construção civil já vive um "apagão" de mão de obra.
Estudo da FGV Projetos e da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção mostra que haverá falta de profissionais na área em 2010, por conta do reaquecimento da economia. Com isso, surge a necessidade de obras de infraestrutura, como ampliação de estradas. O país sediará ainda Copa do Mundo e Olimpíadas, o que exigirá mais obras. Também há procura de profissionais para explorar o pré-sal e para o mercado imobiliário.
A discussão no setor educacional é como aumentar as vagas. O setor privado, que oferece 70% dos postos na engenharia civil, pede ajuda ao governo.
A alegação é que abrir vagas em engenharia civil sai caro. Segundo o Centro Universitário da FEI (ABC paulista), a construção de um laboratório custa R$ 2 milhões, ou quase 1.500 mensalidades, num
curso com 900 estudantes ao ano."
Devido à queda na procura pelas vagas nas décadas passadas, quando o crescimento do país foi pequeno, muitas instituições têm receio de ampliar", diz Rodrigo Capelato, diretor do Semesp (sindicato das universidades privadas de SP). "É uma área prioritária; a ampliação deveria ser puxada pelo setor público."
O MEC diz já estar em andamento um programa para expandir as vagas nas universidades federais, rede com a maior concorrência pelas vagas. Batizado de Reuni, o projeto prevê dobrar os postos nas instituições federais até 2018, considerando todos os cursos.
A secretária de Ensino Superior do governo Lula, Maria Paula Dallari, diz haver prioridade para formar professores da educação básica e engenharias. Ainda não há balanço da expansão, iniciada em 2008. Além da necessidade de recursos, as faculdades veem outro problema para expandir.
"O mercado está muito aquecido. Poucos preferem lecionar", afirma o reitor do Instituto Mauá de Tecnologia, Otávio de Mattos Silvares.
Coloquei abaixo um vídeo engraçadíssimo onde aparecem as famosas imagens da série The World Without Engineers que fazem blague sobre como seria o mundo sem os engenheiros. Não deixem de clicar e se divertirem.
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