Marcelo Gleiser dispensa apresentação. Coletei este artigo dele na Folha de São Paulo e recomendo. É um toque de erudição, ilustração, instrução e saber que gosto de trazer aos leitores do blog.
Neste artigo, uma verdadeira aula de historia e astronomia, Gleiser nos informa de como os trabalhos de dois genios da ciencia - Galileu e Kepler - mudaram a relação entre a ciência e a fé.
É um artigo fantástico que não pode deixar de ser lido.
Neste artigo, uma verdadeira aula de historia e astronomia, Gleiser nos informa de como os trabalhos de dois genios da ciencia - Galileu e Kepler - mudaram a relação entre a ciência e a fé.
É um artigo fantástico que não pode deixar de ser lido.
São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009
+Marcelo Gleiser 1609
Já são passados 400 anos desde que dois feitos mudaram para sempre a nossa relação com o cosmo. Apesar de um deles ser bem mais famoso do que o outro, ambos contribuíram radicalmente para a mudança de visão de mundo que inaugurou a era copernicana do conhecimento, quando a Terra (e o homem) deixaram de ser o centro -geométrico e teológico- do Universo. Pois mesmo que o polonês Nicolau Copérnico tenha publicado o seu grande livro "Sobre as Revoluções das Esferas Celestes" em 1543, o impacto de suas ideias só se deu após o trabalho audacioso de Galileu Galilei e Johannes Kepler, que culminou na publicação de dois livros, em 1609 e 1610. Vale a pena pôr as coisas em perspectiva. O que Galileu e Kepler (e, em parte, Giordano Bruno, Descartes e outros) conseguiram foi mudar a perspectiva cósmica de sua época, redefinindo o lugar da religião na vida das pessoas. Como disse Galileu, a Bíblia deve ensinar às pessoas como ir aos céus e não como os céus vão. A partir da obra deles, ficou cada vez mais claro que a autoridade divina não deveria mais interferir na busca humana pela compreensão do mundo em que vivemos. Os rumos da fé deveriam ser outros. Tanto para Galileu quanto para Kepler, a natureza era, sem dúvida, obra de Deus. Mas o decorrer dos fenômenos naturais se dava sem a constante interferência divina. Por outro lado, a arquitetura cósmica podia ser descrita através de leis matemáticas precisas, essas sim, revelando algo da natureza de Deus. Apesar de as origens do telescópio serem nebulosas, sabe-se que, em outubro de 1608, o holandês Hans Lipperhey entrou com um pedido de patente de um instrumento "capaz de visualizar objetos distantes como se estivessem perto" (mais detalhes da história no portal http://galileo. rice.edu/sci/ instruments/telescope.html). As novas rapidamente se espalharam pela Europa e, em meados de 1609, Galileu havia já construído o seu. Mesmo que outros tenham apontado o telescópio aos céus até mesmo antes de Galileu, foram as descobertas do italiano que mudaram a história. Com o instrumento, ele viu que a Lua não era perfeita, e sim cheia de crateras e montanhas; que Vênus tinha fases, como a Lua; que Júpiter tinha quatro luas; que Saturno tinha "orelhas"; que a Via Láctea era uma enorme coleção de estrelas; e que o Sol tinha manchas na superfície. Nenhuma dessas descobertas confirmava o modelo de Copérnico. Mas, em conjunto, apoiavam a noção de que o Sol, e não a Terra, era o centro do cosmo. Nesse meio tempo, Kepler trabalhava em Praga, decifrando os dados acumulados pelo grande astrônomo dinamarquês Tycho Brahe. Observando os céus ainda no século 16 e, portanto, sem o telescópio, Brahe usou seus instrumentos de alta precisão para mapear os movimentos dos planetas nos céus. Com muita paciência e genialidade, Kepler, um copernicano convicto, mostrou que Marte tinha uma órbita elíptica em torno do Sol. Nenhum outro modelo estava de acordo com os dados de Brahe. Em 1609, Kepler publica o seu livro "Astronomia Nova", no qual argumenta que a elipse, e não o círculo -como se acreditava desde os primórdios da astronomia-, descrevia o movimento celeste de Marte (e, mais tarde, de todos os planetas). Prenunciando a lei da gravidade a ser descoberta por Newton, Kepler especulou também que alguma força emanando do Sol era a responsável pelas órbitas planetárias. É bom lembrar que ambos os cientistas basearam-se em descobertas feitas com novos instrumentos. Quando a tecnologia nos permite ver mais longe, mundos antes imaginários podem se tornar reais. E visões de mundo podem colapsar. MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo" |
Herbert
ResponderExcluirRetornar a um local em busca de algo bom por si só já diz muito, retornar e encontrar melhor do que esperaria...é Fantástico.
Vou linkar esta postagem no meu Blog.
Obrigada.
Cara Drumwittch
ResponderExcluirMesmo sem lhe conhecer direito já percebi o espirito generoso que você possui.
Agradeço, penhorado, as suas visitas, o seu registro como acompanhante da Oficina de Gerencia e por essa energia que repassa para o blog com seus comentários.
São pessoas como você que constroem a alma dos blogs e da blogosfera.
Brigaduuu! E volte sempre.