| EMÍLIO ODEBRECHT
Reinvestindo os lucros
AS CONHECIDAS dificuldades que grandes empresas americanas vêm enfrentando levaram o governo dos EUA a tomar medidas de ajuda com o uso de vultosas quantias de dinheiro. Uma das primeiras reações veio da opinião pública daquele país, que se indignou com a revelação das rendas anuais milionárias de executivos de algumas das companhias em apuros. O fato me motivou a tratar neste artigo do destino que deve ter o lucro de uma organização. Comecemos por esclarecer a importância deste fator. Servir a seus clientes é a primeira missão de uma empresa. A segunda é transformar a satisfação dos clientes em resultados que assegurem sua sobrevivência, crescimento e perpetuidade. O futuro de uma empresa, portanto, está atrelado à sua capacidade de gerar riquezas não-econômicas (intangíveis) e riquezas econômicas (tangíveis), das quais o lucro é sua melhor expressão. A pergunta que se impõe é: o que deve ser feito com esse lucro? Não hesito em responder: a prioridade deve ser o reinvestimento na própria empresa, para a geração de novas riquezas, a criação de mais postos de trabalho e aumento da produtividade -e não dissipado entre acionistas e executivos na forma de remuneração ou benesses. O reinvestimento dos lucros cria bases para o crescimento contínuo, e o acionista verdadeiramente rico é aquele cuja riqueza é, sobretudo, a própria empresa, e não o patrimônio pessoal. Se o propósito principal dos acionistas e dos executivos for a distribuição máxima dos lucros, sob a forma de dividendos e altas remunerações, com a ênfase na valorização das ações descasada dos resultados reais alcançados, num claro conflito de interesses, o futuro da empresa estará comprometido. A generosidade de hoje pode sabotar a expectativa de amanhã. Maximizar o retorno no curto prazo costuma inibir investimentos necessários ao negócio, pondo em risco sua perenidade. Por isso, acionistas sensatos não estão interessados somente na valorização episódica de seus papéis; não são especuladores, e sim investidores focados no valor futuro de seu patrimônio e em uma segura, contínua e autossustentada geração de dividendos. São pessoas que pensam e agem dessa maneira, convictas da necessidade de haver equilíbrio entre os interesses dos executivos e acionistas e o reinvestimento produtivo, que mantêm as grandes corporações no rumo certo. Ofereço estas reflexões principalmente aos jovens empresários, com a modesta esperança de que lhes ajudem a erguer empresas saudáveis, em benefício de toda a sociedade.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna. |
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