7 de março de 1999 — Antonio Houaiss, o trabalhador das palavras
Antonio Houaiss gostava de definir-se como "um humilde operário das letras". O sofisticado intelectual era filólogo, tradutor, professor, diplomata, enciclopedista e gourmet. Foi também ministro da Cultura e presidente da Academia Brasileira de Letras.
Houaiss escreveu 19 livros e ainda elaborou em 10 anos, as duas enciclopédias mais importantes já publicadas no Brasil – a Delta-Larousse e a Mirador Internacional. Foi autor de dois dicionários bilíngues inglês-português, organizou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, além de ser o porta-voz brasileiro junto ao Projeto do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, aprovado pelo Congresso Nacional em 1995.
Uma de suas obras mais notáveis foi a tradução para o português de Ulisses, de James Joyce, publicada em 1965. O trabalho, dificílimo devido à linguagem peculiar do autor, foi realizado em 11 meses e obteve elogios da crítica. Houaiss disse que se baseara em traduções anteriores, inclusive a francesa, que foi a primeira, e a que ele considerava a pior de todas, apesar de ter a aprovação de Joyce. Em 1986, deu início à elaboração do dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, que foi concluído postumamente pela sua equipe, hoje reunida no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, no Rio de Janeiro. O filólogo acompanhou todas as etapas de criação e realização da obra até sua morte, em 1999.
Paixão pela culinária
O quinto dos sete filhos de uma família de imigrantes libaneses trocava com prazer o fardão da Academia pelo avental de cozinheiro. Houaiss ajudava a mãe a cozinhar desde os 9 anos e adorava ir para a cozinha de sua casa, de amigos ou até mesmo de restaurantes para preparar vários pratos para os seus convidados. O gourmet orgulhava-se de fazer seis pratos para 30 pessoas, e ao terminar, em três horas de operação, deixar a cozinha absolutamente limpa, sem auxílio de ninguém.
Em 1958 fundou com um grupo de amigos a Confraria dos Gastrônomos. Houaiss permaneceu na entidade até 1975 quando se afastou por incompatibilidade com o recém-chegado Emílio Garrastazu Médici. Em 1979 criou a dissidência Companheiros da Boa Mesa.
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