Não pretendia mais escrever sobre o (embaraçoso) caso da advogada brasileira que se auto-mutilou na Suiça e fez o país todo embarcar numa tremenda "furada".
Todavia, encontrei este texto na seção do Ombudsman da Folha de São Paulo que provocou-me a voltar ao tema, mas não ao assunto (deu para entender?). É que até hoje estou (como muitos) curioso para saber o que nos levou a acreditar assim, sem mais nem menos, na história (hoje claramente inverossímil) que a brasileira - vivendo legalmente na Suiça - contou e foi fartamente explorada pela mídia (e não só a Rede Globo, como alguns outros órgão querem fazer-nos crer sem assumir suas responsabilidades).
É que o ombudsman da Folha de SP - Carlos Eduardo Lins da Silva - que assumiu a sua parte de responsabilidade, procura nos explicar em seu artigo. Acho que vale a pena ler o texto e refletir. Outros casos certamente vão acontecer de forma semelhante. Seja aqui ou no exterior. Seja com os outros ou nós mesmo. Seja com nossa empresa ou em outras e finalmente, seja em nossa família ou na de amigos. O que quero dizer é que mundo em que vivemos propicia estas avaliações apressadas, com base na primeira versão e sem verificação de veracidade.
Esta é a receita das injustiças cometidas por
Todavia, encontrei este texto na seção do Ombudsman da Folha de São Paulo que provocou-me a voltar ao tema, mas não ao assunto (deu para entender?). É que até hoje estou (como muitos) curioso para saber o que nos levou a acreditar assim, sem mais nem menos, na história (hoje claramente inverossímil) que a brasileira - vivendo legalmente na Suiça - contou e foi fartamente explorada pela mídia (e não só a Rede Globo, como alguns outros órgão querem fazer-nos crer sem assumir suas responsabilidades).
É que o ombudsman da Folha de SP - Carlos Eduardo Lins da Silva - que assumiu a sua parte de responsabilidade, procura nos explicar em seu artigo. Acho que vale a pena ler o texto e refletir. Outros casos certamente vão acontecer de forma semelhante. Seja aqui ou no exterior. Seja com os outros ou nós mesmo. Seja com nossa empresa ou em outras e finalmente, seja em nossa família ou na de amigos. O que quero dizer é que mundo em que vivemos propicia estas avaliações apressadas, com base na primeira versão e sem verificação de veracidade.
Esta é a receita das injustiças cometidas por
São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009
Lições de um naufrágio coletivo
O CASO PAULA Oliveira, brasileira residente na Suíça que confessou ter se automutilado após denunciar suposto ataque contra ela por neonazistas, foi um naufrágio coletivo da mídia nacional. Ninguém escapou da débâcle. Nem este ombudsman nem a maioria dos seus leitores. Eu não apontei erros na minha crítica diária do material do dia 12, quando o caso estourou. Muitos leitores engrossaram o caldo das denúncias contra a xenofobia europeia com base nas falsas acusações. Alguns chegaram a condenar o jornal por "condescendência" com a polícia suíça quando a versão de Paula Oliveira já claramente fazia água. Eu reconheço meu erro. Acredito que este seja o primeiro e indispensável passo para quem quer seriamente corrigir-se e melhorar. Ele e o dos editores que avaliaram as primeiras notícias são sintoma de seriíssimo mal congênito do jornalismo, que vem piorando em proporções assustadoras com a impressionante escalada da internet no mundo. O maremoto de informações que afoga o público e a competição insana entre veículos de comunicação em diversas plataformas para largar na frente dos demais multiplicou exponencialmente a sempre presente aflição dos jornalistas de apurar e chegar a conclusões rápidas e pretensamente definitivas sobre os assuntos. A qualidade do trabalho jornalístico depende de uma mistura fina de velocidade, desconfiança, prudência, intuição, cultura, malícia. Cada vez mais só o primeiro item dessa fórmula é levado em conta. Some-se a isso a necessidade de emitir julgamentos bombásticos e se tem a receita para o desastre total, como quando a Folha publicou em junho de 2007 na sua capa artigo de um leigo no assunto que fazia condenações peremptórias sobre a responsabilidade pelo acidente da TAM em Congonhas. Antes de ter um jornalista próprio em Zurique, de ouvir o outro lado (no caso a polícia local), de checar com médicos e peritos se aqueles ferimentos podiam ser causados numa situação como a descrita, este jornal comprou o relato em segunda mão (via seu pai) de uma completa desconhecida como se fosse irrefutável e permitiu que comentaristas derivassem dele conclusões duras sobre as autoridades, a cultura e o povo de outro país. O fato de a vítima real desse episódio não ser uma pessoa, mas uma nação, torna suas consequências menos dramáticas sob o aspecto da injustiça cometida. Mas se não se tomarem medidas drásticas para mudar esse padrão de comportamento, tragédias como a da Escola Base vão se repetir. Era possível ter desconfiado da história desde o início. Tanto que uma leitora, Sylvia Moretzsohn, escreveu ao ombudsman na própria quinta para dizer que estranhava a simetria do desenho das iniciais do partido de direita suíço cujos militantes pareciam suspeitos do alegado crime. Ainda não vi neste jornal o que alguns leitores pediram: um mea-culpa pela precipitação com que agiu, embora não tenham faltado em suas páginas censuras à falta de precaução de autoridades brasileiras, igualmente recriminável, por terem se atirado na aventura de reprovar um país amigo por crimes, afinal, ao menos neste evento, não cometidos. Humildade para admitir falhas e disposição para dialogar sobre elas são imprescindíveis para o aprimoramento de pessoas e instituições. Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação. __________________________________________________
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Eu critiquei com texto forte o que a criminosa fez, (em seu artigo anterior deste assunto) pois mesmo sendo brasileiro, não vejo porque tentar amenizar as coisas a seu favor. A mídia sempre se precipita porque tem a ganância de dar furos de reportagens, mas esse foi um furo de uma bala que saiu pela culatra. Como sempre aliás. Enquanto houver ganâncias, erros do tipo continuarão ocorrendo, especialmente no terceiro mundo.
ResponderExcluirQMeu brother Gato Guga
ResponderExcluirConcordo, na essência, em gênero, numero e grau com você.
Só espero - em vão, já o sei - que a mídia não nos faça embarcar em outra "barriga" deste porte.
O pior é saber que a "opinião publica" não vai se emendar (com as exceções de sempre) e se deixará novamente lograr pelo afã (irresponsável) dos jornalistas e chefes de redação que privilegiam (como você bem registrou) a ganancia, ao invés da seriedade, ao apresentar suas “reportagens” em casos como este.
Pessoalmente, confesso, acreditei no primeiro momento quando vi no JN aquela cena horrorosa dos cortes no corpo da brasileira. Nem imaginei que a verdade pudesse estar na outra ponta da história. Depois que li um artigo do jornalista Rui Martins (até o publiquei no blog) e conhecendo este jornalista há muitos anos por sua seriedade vi que a coisa toda era uma grande “barriga”.
Enfim, vivendo e aprendendo. Grato pela visita e pela gentileza de sempre em registrar seu comentário no blog.
Grande abraço e sucesso crescente.