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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Agressão à advogada brasileira, na Suiça, pode, mesmo, ter sido autoflagelação. Que confusão é essa?

  • Não posso deixar de publicar esta informação que recebi agora (por e-mail às 02h15 do sábado - 14 de fevereiro - com muito sono). Explico. Sou assinante das notícias produzidas pelo jornalista Rui Martins. Acompanho a carreira dele há muitos anos, desde que era correspondente da CBN na Europa. É um profissional de primeiro time (veja a janela abaixo):
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Ocorre que Rui Martins mora na Suiça e tem credibilidade. A notícia que ele publicou no site "Direto da Redação" tem data de hoje (14 de fevereiro) e reafirma as notícias que vieram da Suiça o dia todo dando conta que a agressão de xenófobos suiços à advogada brasileira Paula Oliveira pode ter sido, na verdade, autoflagelação.

Segundo o informe que ele nos traz a moça teria "problemas" - não especificados, mas de fácil dedução se isto for verdade - e se mutilou.

O texto de Rui Martins é focado contra a "barriga" que a Rede Globo teria cometido (“barriga” é gíria jornalística quer dizer publicar um fato falso, mas sem intenção de enganar o leitor. Uma mancada, informação errada, uma autotraição” - definição extraída do site da revista Caros Amigos) e teria induzido o governo brasileiro a protestar contra autoridades suiças pela agressão à advogada e um anunciado descaso das autoridades locais.

Nós, cidadãos brasileiros consumidores de notícias ficamos naturalmente indignados e agora? Se a moça, na verdade, cortou-se numa ação de automutilação? Não quero nem imaginar o quiprocó que esta "contra-notícia", se verdadeira, vai causar.

A propósito ontem, pela manhã, escrevi um texto sobre o assunto (clique no link Suiça quer transformar brasileira torturada, por seus cidadãos, em mentirosa e vítima dela mesmo. Que que é isso?) e ainda bem que deixei tudo no condicional. Isto porque, na verdade, não existiam informações conclusivas sobre a versão da moça cujo pai se limitou a dizer que ela estava em estado de choque (o que seria natural), mas já se passaram três dias!

Enfim, nos próximos dias teremos a verdade colocada e se tudo não passou de uma "barriga" então, meus amigos, cabeças devem rolar na Rede Globo e o casal Bonner (William e Fátima) terão muito trabalho para ler o "Edital" que deverá pedir as necessárias desculpas aos seus telespectadores. Vamos aguardar...

Pessoalmente continuo achando muito difícil essa história de autoflagelação. A brasileira deveria estar muito "possuída" (e calma) para se cortar com tanta frequencia (mais de cem ferimentos) com alguma simetria e incisões tão "certinhas" formando figuras e linhas retas como as siglas do partido alemão. Tudo muito esquisito e misterioso.

Por enquanto leiam a notícia do Rui Martins (e as do Noblat que estão abaixo este post) e tomara que não seja ele (o que eu duvido) a ter cometido a "barriga".





Publicada em:13/02/2009


A BARRIGA DA GLOBO QUASE COMPROMETE O BRASIL


"Berna (Suiça) - A moça brasileira tinha seus problemas e provavelmente se autoflagelou. É triste.

Mais triste é o quadro da nossa imprensa irresponsável que mobilizou o país, levou o ministro das relações exteriores Celso Amorim a criticar um país amigo e Lula a quase criar um caso diplomático. É hora de denunciar a nossa grande imprensa sem deontologia, sem investigação, que afirma e desafirma sem qualquer cuidado e sem checar as notícias.

A agressão racista contra Paula Oliveira não foi um noticiario iniciado em Zurique, local da suposta agressão. Estourou no Brasil, detonada por um pai – e isso é muito compreensível – preocupado com sua filha distante. E a maior rede de televisão do Brasil, a Globo, vista por mais de uma centena de milhões de brasileiros, não teve dúvidas em transformar o caso na grande manchete do dia, fazendo com que outros milhões de brasileiros, no Exterior, já acuados pela Diretiva do Retorno, se solidarizassem e imaginassem passeatas e manifestações.

Essa é a maior barriga da história do nosso jornalismo, que revela o descalabro a que chegamos em termos de informação ou desinformação. Equivale ao conto do vigário do Madoff, ou das subprimes do mercado imobiliário americano. Só que o Madoff está preso, mesmo sendo prisão domiciliar e vivemos uma crise econômica, em consequência dos desmandos dos bancos americanos. Mas o que vai acontecer com a televisão Globo e todos quantos foram atrás ? Nada, vai ficar por isso mesmo.

Como um órgão de imprensa de tanta penetração pode se permitir divulgar com estardalhaço um noticiário de muitos minutos, reproduzido online, repicado por jornais, rádios e copiado por outras televisões sem primeiro checar no local ? Que jornalismo é esse que se faz sem qualquer investigação, sem se ouvir as partes envolvidas ? Sem deslocar antes um reporter para Zurique e entrevistar também o policial responsável pela ocorrência ? Sem ouvir a própria envolvida, fiando-se apenas no relato de um pai desesperado ? Sem pedir a opinião de um especialista em ferimentos e escoriações ?

Quem vai pagar o dano moral causado a essa jovem, que sem querer se tornou primeira página nos jornais ? Quem vai desfazer o ridículo a que se submeteu o nosso ministro Celso Amorim, que, baseado num noticiário de foca em jornalismo, sem ouvir acusação e acusado, ofendeu um país amigo exigindo que prestasse contas em Brasília por um noticiário tipo cheque sem fundo ? Quem assume o fato de quase levar nosso presidente a ficar vermelho de vergonha por se basear em noticiário sem crédito, com o mesmo valor de uma ação do banco Lehmann ?

E mais – o dano sofrido pela Suíça, em termos de imagem, justamente quando seu povo tinha justamente votado em favor dos imigrantes , quem vai reparar ?

Essa barriga da Globo, secundada pela grande imprensa, é prova do que se vem dizendo há algum tempo – não há credibilidade nessa mídia. Publica-se, transmite-se qualquer coisa, e quanto mais sensacionalista melhor. Não há responsabilidade no caso de erros, de noticiário mentiroso, vale tudo, o papel aceita tudo, a televisão transmite qualquer coisa, desde que dê Ibope – e existe melhor coisa que nacionalismo ofendido ? É o que os franceses chamam de "presse de boulevard", mentirosa, tendenciosa, com a opinião ao sabor das publicidades. Sem jornalismo investigativo, sem confirmar as fontes, sem ouvir as opiniões divergentes.

Vão pedir a cabeça do redador-chefe ? Não, assim que se recuperarem da barriga, da irresponsabilidade cometida, da vergonha diante dos colegas, vão jogar tudo em cima da pobre jovem, que deve ter seus problemas e que a nós não compete saber, isso é vida privada, não é Big Brother.

É essa mesma imprensa marrom, que induz nossos dirigentes ao erro, que também publica qualquer coisa contra o quer chamam de “assassino desalmado” Cesare Battisti. A irresponsabilidade da imprensa é o pior inimigo da liberdade de imprensa, porque pode provocar reações legislativas limitando os descalabros cometidos.

Escrever num jornal, falar numa rádio ou numa televisão e mesmo manter um blog constitui uma responsabilidade social. Não se pode valer dessa posição para se difundir boatos, nem inverdades, nem ouvir-dizer, é preciso ir checar, levantar o fato, mencionar ou desfazer as dúvidas e suspeitas existentes. É também preciso se garantir o direito de ser mencionada a versão da parte acusada para evitar a notícia tendenciosa.

A barriga da Globo vai ficar na história do nosso jornalismo, será sempre lembrada nos cursos de comunicação, tornou-se antológica, e nela estão entalhadas, por autoflagelação, as palavras que a norteiam – sensacionalismo, irresponsabilidade e abuso do seu poder.

Existem, sim, problemas contra nossos emigrantes em diversos países, principalmente depois da criação da Diretiva do Retorno pelo italiano Silvio Berlusconi. Diariamente brasileiros são presos e mandados de volta, na Espanha, mas isso não mobiliza a nossa imprensa, não dá Ibope".


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