Um deles havia sido promovido recentemente à primeira função executiva na carreira. Não é mais nenhum garoto, mas apesar da reconhecida competência ainda não tinha sido alçado a uma posição de chefia no primeiro nível.
O outro colega já é um administrador experiente e respeitado na empresa. Em determinado momento - querendo ser professoral (um dos meus defeitos) - disse ao "novo chefe" que para ele ser um gerente de sucesso deveria preencher dois pré-requisitos fundamentais.
- Gostar de gente. É o saber ouvir e entendê-las nos seus muitos momentos - bons e maus - de convivência como colaboradores ou subordinados (na hierarquia).
- Gostar de resolver problemas. É o procurar, obsessivamente, descobrir, destrinchar, esclarecer e solucionar todos os embaraços e perturbações que possam tolher o funcionamento do setor sob sua responsabilidade.
Chegando ao meu computador, abro o blog e me deparo com este artigo do Max Gehringer, que estava guardado nos meus rascunhos, que fala, exatamente, sobre este tema. Evidente que não hesitei em transformá-lo no post do dia.
Como sempre, com clareza e maestria, Gehringer coloca sua orientação sob forma de um "causo contado". Sem perda de tempo vamos a ele.
Uma Lição de Vida para Futuros Líderes/Gerentes
(por Max Gehringer)
(por Max Gehringer)
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Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade. Na época, nós tínhamos um colega de classe, o Pena, que era um gênio.
Na hora de fazer um trabalho em grupo, todos nós queríamos cair no grupo do Pena, porque o Pena fazia tudo sozinho.
Ele escolhia o tema, pesquisava os livros, redigia muito bem e ainda desenhava a capa do trabalho - com tinta nanquim. Já o Raul nem dava palpite. Ficava ali num canto, dizendo que seu papel no grupo era um só, apoiar o Pena. Qualquer coisa que o Pena precisasse, o Raul já estava providenciando, antes que o Pena concluísse a frase. Deu no que deu.
O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma. E o resto de nós passou meio na carona do Pena - que, além de nos dar uma colher de chá nos trabalhos, ainda permitia que a gente colasse dele nas provas.
No dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de 'paradigma do estudante que enobrece esta instituição de ensino'. E o Raul ali, na terceira fila, só aplaudindo.
Dez anos depois, o Pena era a estrela da área de planejamento de uma multinacional. Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeções estratégicas de cinco e dez anos. E quem era o chefe do Pena? O Raul.
E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição? Ninguém na empresa sabia explicar direito. O Raul vivia repetindo que tinha subordinados melhores do que ele, e ninguém ali parecia discordar de tal afirmação. Além disso, o Raul continuava a fazer o que fazia na escola, ele apoiava.
Alguém tinha um problema? Era só falar com o Raul que o Raul dava um jeito.
Meu último contato com o Raul foi há um ano. Ele havia sido transferido para Miami, onde fica a sede da empresa. Quando conversou comigo, o Raul disse que havia ficado surpreso com o convite.
Porque, ali na matriz, o mais burrinho já tinha sido astronauta.
E eu perguntei ao Raul qual era a função dele. Pergunta inócua, porque eu já sabia a resposta. O Raul apoiava, direcionava daqui, facilitava dali, essas coisas que, na teoria, ninguém precisaria mandar um brasileiro até Miami para fazer.
Foi quando, num evento em São Paulo, eu conheci o Vice-Presidente de recursos humanos da empresa do Raul. E ele me contou que o Raul tinha uma habilidade de valor inestimável:... ele entendia de gente.
Entendia tanto que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios subordinados para fazer com que eles se sentissem melhor, e fossem mais produtivos. E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou Samuel Butler, que eu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma frase ótima:
'Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo'.
Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha, de facilitar as relações entre as pessoas.
Perto do Raul, todo comprador normal se sentia um expert, e todo pintor comum, um gênio.'
'Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos.
Mas, o verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com que todos se sintam Grandes.''
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[Este post foi editado a partir do original publicado em 02/10/08]
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