Ao tempo da minha trajetória de gerente tive a oportunidade de, por diversas ocasiões, observar - no mundo das corporações - o (falso) poder das posições de comando, aplicado com atitudes pequenas, injustiças e ações pouco dignas, por parte de quem os exercia.
Ao longo da carreira - não sem ser tocado também - fui tomando consciência de como era comum a existência, nas corporações, de presidentes, gerentes, diretores, chefes de setores e até de funções menores, que não estavam preparados para exerce-las e mesmo assim estavam lá, sentados nas mesas de direção ou atrás de um guichê. Inevitavelmente, essas pessoas praticavam - umas eventualmente, outras habitualmente - o que resolvi chamar de “Poder do Porteiro”.
Utilizo a expressão como ilustração, obviamente sem nenhum demérito ou preconceito em relação aos porteiros, mas para caracterizar a utilização de um cargo – seja em que nível for – para barrar, sem justificativas plausíveis as demandas legítimas e triviais de subordinados ou dependentes.
Já vi acontecer negativas “gratuitas" a pedidos legítimos – realização de um mestrado, por exemplo; ou impedindo uma viagem ao exterior para participar de cursos ou eventos técnicos – simplesmente para demonstrar poder ou porque “não estava no dia de aprovar nada”. Isso mesmo! Já vi essa versão do “poder do porteiro”.
A figura da metáfora que visualizo é a daquele porteiro que, no tumulto da entrada de um evento, onde não se exigem convites, utiliza seu poder exclusivo e naquele momento único, para barrar quem quer e “escolher” quem entra no recinto do qual ele está encarregado de cuidar do acesso. Faz suas escolhas pela sua falta de empatia com o barrado, pela fisionomia, pela roupa... e não tem conversa, não tem argumento que o convença. Naquele momento glorioso, ele é o todo poderoso e sua palavra é definitiva e sumária. Quem nunca viu isto ocorrer?
O “poder do porteiro” fica caracterizado pela sua irrelevância e pelo mero uso da faculdade de decidir contra quando todas as regras e circunstâncias indicam que poderia simplesmente decidir a favor.
Fui buscar algo sobre o tema no Google e descobri que a ciência da psicologia trata dessa questão sob a denominação de “Síndrome do Pequeno Poder”. Existem diversos outros links no Google sobre o tema.
Particularmente utilizo a expressão “uso dos pequenos e podres poderes” quando essa é uma conduta habitual e se refere a casos de pequena expressão. A caracterização do Poder do Porteiro, na essência, será sempre a de uma decisão contra algo - de qualquer importância - que poderia, sem prejuízo para ninguém, ter sido favorável.
Ninguém está livre de ser "contaminado" pelo Poder do Porteiro. Eu mesmo já estive nesse grupo, mas consegui sair muito cedo e passei a identificar casos e procurar ajudar amigos e colegas que estavam sendo afetados. Não foram poucos...
O texto é sensacional.... e mostra como "Poder do Porteiro" tem sido usado indistintamente.
ResponderExcluirExcelente artigo Drummond!
ResponderExcluirInfelizmente percebo um certo despreparo, atrelado a ausência de características básicas para um gestor, principalmente no serviço público. Em suma, estamos cheios de porteiros!
Bem colocado,amigo,ao longo da minha vida profissional, enfrentei alguns Porteiros . Um traço comum que identifiquei era que na maioria das vezes eram pessoas inseguras que necessitavam de afirmacao . Não raramente eram inclusive despreparadas para o cargo de "Porteiro" ! Aí piorava , queriam mostrar poder, e se sentiam a encarnação do Super-homem. E como vc falou, existe tanto no setor privado como público !!
ResponderExcluirCaro Antônio Henrique, excelente comentário. Para quem tem experiência e vivência no mundo corporativo, como você, é perceptível reconhecer os "porteiros". Infelizmente eles são numerosos. Obrigado pela visita e principalmente pelo comentário. Volte sempre. Abraço.
ExcluirCaro Leandro, prazer em tê-lo aqui, comentando no blog. Comentário verdadeiro o seu. Realmente em nossas trajetórias profissionais temos que estar preparados para nos depararmos com os "porteiros". Eles fazem parte da natureza humana. Grande abraço e volte sempre.
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