Lealdade de Gato
(por Herbert Drummond - Autor do Blog)
É uma experiência "inesquecível” não é mesmo? E coloco entre aspas porque é algo que realmente você não esquece; tenha sido boa ou não. De qualquer forma, os bichanos sempre deixam lembranças. Boas e más, mas deixam!
Quem tem experiência com eles deve ter prestado atenção ou lido a respeito do estranho, misterioso e indecifrável comportamento dos gatos. Livros, artigos, palestras, vídeos e mais se têm publicado sobre esses misteriosos e milenares seres da natureza.
Quem for curioso deve ter observado que os felinos – por mais domesticados que sejam – não têm aquela lealdade, digamos... canina, aos seus donos. Devo, antes de qualquer coisa, desculpar-me com os amantes e defensores dos gatos por qualquer falsa impressão preconceituosa (já passei pela experiência, quando garoto e como adulto, de criar gatos).
Muito bem, com este pedido de habeas corpus preventivo, vamos em frente.
O gato, segundo as lendas, abandonará ou trocará seu dono quando estas mordomias lhes faltarem. Sem pestanejar, abandonarão o antigo lar – por mais amoroso e leal que tenha sido o ex-dono - por outra casa e uma nova paixão que lhes proporcione o conforto e as regalias que tenham perdido na anterior. É a “imagem” que temos dos gatos, salvo as raras, raríssimas exceções. E as histórias que conhecemos indicam que é assim mesmo que acontece.
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Costumo dizer que, tal como os gatos, esses "companheiros", desenvolvem um sexto sentido, com antecedência, para perceber as circunstâncias desfavoráveis e começam, desde então, a pesquisar novos lares com um novo dono e o conforto daquelas regalias que os gatos adoram. Esse é um comportamento humano que – tal como nos gatos - simplesmente está no DNA de alguns da nossa espécie.
Estes personagens são mais numerosos do que imaginam os futuros e recentes gerentes ou chefes que estejam iniciando suas trajetórias como líderes corporativos. Um aspecto cruel dessa convivência é que os gatos (todos nós temos ou teremos os nossos) só serão pilhados à medida que seus donos, após galgarem os degraus do sucesso com eles - os gatos ali, juntos e “fieis” - por esta ou aquela razão tropeçam na carreira e deixam de exercer funções de relevância. Falta-lhes o “leitinho no pires”... E este é o sinal de que as coisas não estão bem para o lado deles. É a hora, pois, de procurar um "novo dono”.
Característico é que o mesmo gato irá procurar, sem constrangimentos, voltar ao antigo dono no caso da situação se reverter novamente. E quantas vezes isso aconteça! É fato mais do que recorrente no mundo corporativo, mas sempre surpreendente para quem tenha confiado neles, os “gatos de carreira”.
Os gerentes veteranos e mais experientes que já foram “donos” de gatos estão vacinados. Sabem identificá-los antes que comecem aqueles miados pungentes e carinhosos acompanhados pela dança do roçar entre suas pernas e pular no seu colo”. Este, aliás, um procedimento inerente à personalidade dos gatos corporativos.
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Na Administração Pública, a prática é mais comum do que na iniciativa privada. Naquelas organizações (empresas públicas, autarquias, ministérios, agencias) a meritocracia é menos praticada do que na atividade privada. Lá, os gatos são mais numerosos, agitados e saltam alegremente e sem o menor pudor para os braços e colos de quem esteja no poder.
Existem, como me referi acima, os “gatos profissionais”. São “gordos, maliciosos e insinuantes” como aqueles gatões que nos acostumamos a ver nos desenhos da Disney. Passam a vida profissional inteira trocando de “donos” e realizam-se com esta, digamos, carreira. Aqueles com o DNA mais refinado conhecem e dominam todas as manhas e técnicas para serem reconhecidos e até aceitos como “Gatos de Respeito”.
Também existem os “gatinhos”. São os jovens que se iniciam no mundo corporativo e, com pouco brilho próprio, começam a observar, manhosos e com miados sedutores, os “futuros donos” até escolherem aquele que, imaginam, será um futuro dirigente da corporação onde tenham seus cantos e lhes assegurem o conforto que projetam para si. Quem sabe consigam um diretor, presidente, um ministro, ou mais ainda... A hierarquia estará sempre à disposição desses jovens bichanos.
Pensam que estou brincando? Pois não estou! Os gatos estão bem aí, nas mesas ao lado, nos corredores do ambiente de trabalho ou, Deus te livre, até na sua assessoria. Se você não tiver vocação para ser “dono de gatos” comece desde já a prestar atenção a quem vive se enroscando em você ou pulando no seu colo. Eu mesmo conheço - em épocas e organizações diversas - vários gatos que chegaram a exercer funções de (muito) destaque na Administração Pública.
Ops! Já estava esquecendo um detalhe importante. Gato ou gata? Tanto faz. O DNA é unissex. A carreira de um habitante da Gatolândia é ampla, geral e irrestrita. Não tem sexo, cor, idade ou qualquer outra limitação. Diria que é... Ecumênica.
Conselhos úteis para os "donos" de gatos corporativos.
Importante dizer que os gatos e gatinhos são muito úteis para quem sabe lidar com eles.
- Ajudam muito, contribuem - às vezes decisivamente - para as carreiras dos seus (vários) donos desde que recebam a sua dose diária de comidinha, carinhos e afagos; e não devem ser dispensados só porque são gatos corporativos. Apenas não se deixem enganar pelo ronronar dos bichanos. Mantenha-os na linha e dê-lhes pouco espaço.
- Que os donos de gatos não esperem gestos de lealdade e muito menos atitudes de fidelidade em momentos difíceis e de confrontos corporativos onde suas posições de poder estejam ameaçadas. Nestes casos, os gatos se escondem, tiram férias, licenças médicas e procuram, com menos avidez, desfrutar das regalias. Imediatamente começam a percorrer os telhados e quintais vizinhos até que as “coisas" fiquem calmas e eles possam, novamente, escolher se ficam onde estavam ou vão escolher novas moradas. Eles têm um radar fantástico para reconhecer ameaças e novos donos.
- Outro conselho: não dê segunda chance aos gatos que tenham lhe abandonado antes. Eles não têm constrangimento em “voltar para casa” quando estão em apuros. Já aconteceu comigo. Antes de ser exonerado de uma das funções de destaque que exerci, um dos meus mais próximos assessores – era um gato profissional e eu ainda não tinha a experiência para identificar – pulou fora do barco e foi garantir seu leitinho em outras plagas. Tempos depois, voltei a ocupar uma função de relevo e ele veio ronronar perto de mim... Não deu certo para ele.
Para finalizar, deixo recomendações valiosas, simples e diretas, para os futuros líderes e gerentes:
- Aprendam urgentemente a reconhecer os gatos corporativos no seu time. Não os revele para ninguém. Conviva com eles, trabalhe normalmente com seus talentos, mas nunca esqueça quem eles são.
- Estejam sempre vigilantes para seus movimentos. Por óbvio, os gatos corporativos têm uma forte tendência a serem desleais. Estão sempre “investindo” em futuros novos donos e estes são, naturalmente, os seus concorrentes.
- Finalmente, o conselho mais importante: NÃO CRIEM; E EVITEM SER "DONOS DE GATOS!
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