Clique aqui e visite o Website |
Agendas
lotadas, demandas intermináveis e expectativa de liderar equipes bem-sucedidas
são alguns dos desafios que os CEOs enfrentam diariamente. O problema surge
quando a sobrecarga se intensifica e resta pouco espaço para o cuidado com a
saúde mental e física.
Em
algum momento, o sucesso profissional pode cobrar seu preço, e foi exatamente
isso o que aconteceu com a conselheira Deborah Wright. Aos 53 anos, após 20
anos ocupando os cargos mais altos de diversas empresas como Kibon, Parmalat e
Tintas Coral, um episódio dissociativo, com alterações de sono e perda de
consciência, a levou ao hospital em 2010. Após o burnout, foram dez
dias para a medicação fazer efeito e normalizar o seu comportamento.
“Eu
não prestei atenção aos sintomas. Fui ficando muito cansada. Deitava e não
conseguia dormir, não conseguia desligar. De repente, você fica fora do eixo”,
relembra a executiva que ocupava o cargo de CEO da empresa de pesquisa Ipsos na
época.
Wright
relembra a rotina corrida pré-burnout. “Quem disser que faz isso com
tranquilidade está se iludindo”, conta. Ela enfrentava uma sequência
interminável de compromissos diários, tomando decisões cruciais a cada passo.
Após anos, ocupava uma posição de grande responsabilidade, onde todos os olhos
estavam voltados para ela.
Cada
compromisso não era apenas uma entrega de resultados, mas também um peso tanto
para seu sucesso pessoal quanto para o de sua equipe. “Quanto mais você ascende
na carreira, mais solitário fica”, diz a conselheira.
Desde
2021, o burnout é considerado uma doença ocupacional, caracterizada pelo
esgotamento mental e físico associado ao trabalho. O Brasil é o segundo país
com mais casos da síndrome no mundo, segundo levantamento da International
Stress Management Association (ISMA) de 2022.
Nos
bastidores, os CEOs travam uma batalha silenciosa para manter a saúde mental em
meio a pressão constante. De acordo com pesquisa da consultoria americana Mind Share Partners, os entrevistados
C-level (78%) e executivos (82%) da pesquisa tinham mais probabilidade do que
outros (71%) a relatar ao menos um sintoma relacionado a saúde mental.
No
mundo corporativo, explica Wright, existe um mito de que o líder é forte e que
não pode mostrar vulnerabilidade. Não pode ter dúvidas nem fraquezas. “Somos
todos humanos, e um dia você acorda e não está muito bem. Em certos momentos,
tenho dúvidas sobre algumas coisas e sinto a necessidade de conversar com
alguém.”
Após
a recuperação, a executiva permaneceu 30 dias trabalhando no mesmo cargo. No
entanto, a preocupação crescente com sua saúde física e mental fez com que sua
família a encorajasse a pedir demissão. Atualmente ela atua como conselheira do
banco Santander.
‘Perfeccionismo
me fez presidente e me levou ao hospital’
Palpitações fortes e aceleradas, falta de ar e tontura. O executivo Laércio Albuquerque demorou para acreditar, mas estava enfrentando um quadro de arritmia. Recusava-se a ficar no hospital porque não queria cancelar os compromissos que lotavam a agenda. Levou tempo para reconhecer que precisava desacelerar.
Na
época, em 2020, no cargo de presidente da empresa de tecnologia Cisco no
Brasil, o foco na vida profissional não parecia ser um problema. No entanto, o
corpo já estava emitindo sinais, mas Albuquerque não deu importância. A duração
do sono caiu drasticamente. De seis da manhã passou a acordar três horas antes.
A partir dali, já disparava e-mails ao longo da madrugada.
No
dia a dia, não era só o jantar em família que era interrompido por bips do
celular. Também era comum ter o momento de pausa nas férias suspenso para fazer
alguma ligação ou para conferir a caixa de entrada.
“Quando
você é apaixonado pelo que faz, não mede nada. Minha empresa não estava me
cobrando demais, o maior cobrador era eu mesmo. Estava em um ritmo alucinante.
Participando de muitos eventos, reuniões, viagens, dizendo sim para tudo porque
era minha paixão”, relata.
O
trabalho por propósito sem limites combinado com outras equações da rotina o
levou à beira de um colapso mental e físico. “O ponto alto foi arritmia.
Depois, ia para o hospital todo dia achando que estava morrendo.
Não estava tendo nada, mas comecei a sentir pânico por algumas situações que me
deixavam no estágio de perder a respiração”, relembra.
1. "O
perfeccionismo que me fez chegar a presidente no Brasil na maior empresa de
tecnologia de conectividade do mundo é o mesmo perfeccionismo que me levou ao
hospital várias vezes". Laércio
Albuquerque, vice-presidente da Cisco na América Latina
Foi
quando decidiu abrir o jogo para a Cisco, onde trabalha até hoje. Atualmente,
ocupa a cadeira de vice-presidente da América Latina. De imediato, a companhia
orientou que ele se afastasse por 30 dias. “Tive uma equipe e uma chefia que me
sustentaram. Antes, era presidente da empresa no Brasil, depois disso fui
promovido (para o cargo atual).”
Lado
pessoal de líderes é negligenciado
Para Luckas Reis, consultor em saúde mental para empresas e head de Psicologia na Vittude, as pessoas em altos cargos de liderança vêm de um contexto e de uma forma de trabalhar que as levaram até essas posições.
Geralmente,
elas começaram há 20 anos, quando a maneira como olhávamos para o trabalho
ainda não era tão consciente como é hoje.
Naquela
época, as hiperperformances e os feitos de maior impacto eram o critério para
promoções, o que naturalmente fazia com que o lado pessoal da vida fosse
negligenciado.
“Hoje,
por outro lado, as empresas com os melhores índices de saúde mental são aquelas
onde as lideranças de alto escalão percebem que não podem simplesmente
reproduzir o que as levou até ali”, destaca.
Lideranças
sentem medo de expor esgotamento mental
Ambos os executivos, que enfrentaram episódios de adoecimento mental antes mesmo da crise de saúde mental acelerada durante a pandemia, compartilharam sentimentos parecidos.
O
medo é um deles. Alcançar um cargo de alta gerência não é o mais difícil,
avalia Simone Nascimento, especialista em saúde mental nas organizações.
“Manter-se é ainda pior. E o que acontece quando você se vulnerabiliza? Os
ambientes de trabalho não estão preparados para lidar com o adoecimento de
alguém sem encarar isso como uma fraqueza”, pontua.
Outro
fator que impede lideranças de pedirem ajuda é o temor de não serem realocadas
no mercado em um cargo equiparável.
“Considerando
que as vagas para essas posições são poucas e que vivemos em um país
extremamente etarista, o medo também vem dessa falta de espaço para estar
vulnerável. Então, a pessoa se recusa a sair antes porque tem medo de não
voltar”, afirma a especialista.
Você
acha que é super-herói, mas descobre que não
Embora
Albuquerque tenha recebido apoio na Cisco durante todo o processo, ele diz que
o ego e o medo andam juntos no campo de batalha do escritório e fazem um líder
esconder que também tem falhas.
“Enquanto
você acha que é super-herói, está uma beleza. Trabalha 24 por 7, estufa o
peito, responde mensagens toda hora, faz coisas ao mesmo tempo, acha que pode
tudo. Mas na hora em que os pratos começam a cair, principalmente o prato da
saúde, descobre que a capa de super-herói não existe”, diz o executivo, ao
relembrar o diagnóstico de burnout.
“É
duro demais. Quando você descobre que é tão falível quanto qualquer outro, não
quer contar para ninguém. É a fase mais difícil. Não quer contar para seus pais
porque te viram crescer e ser bem-sucedido, para os colegas de trabalho, para o
chefe e para a empresa. O ego começa a falar muito alto e não quer deixar que
os outros saibam que você tem um ponto falho”, desabafa Albuquerque.
Agora,
após lidar com o período de negação e passar por todas as outras etapas que
envolvem situações de esgotamento mental e físico, o líder vive em estado de
vigilância para evitar possíveis recaídas. O esforço inclui dedicar o início
das manhãs para si próprio e deixar de lado o celular no período da noite.
Seja
o dono da sua manhã
A
rotina de Laércio Albuquerque, quase três anos depois do burnout, começa com
meditação, alongamentos e exercícios de corrida ou de bicicleta. Ter tempo para
levar os filhos na escola também virou prioridade.
“Tornaram-se
hábitos que não perdi mais, eu sou o dono da minha manhã. Antes saía de férias
e ficava 100% online. Hoje não vanglorio isso, porque uma cultura que premia
quem faz isso está errada em relação aos demais colaboradores. Pode existir uma
exceção, claro, mas o duro é quando a exceção vira regra”, sugere o executivo.
Para
encarar com êxito o desafio de equilibrar vida pessoal e profissional, a
especialista Simone Nascimento orienta a prática do ‘não’.
“Aprender a delegar funções e ter uma agenda muito clara do que é o seu trabalho e do que é o trabalho das outras pessoas, além de aprender a dizer não para aquilo que não é essencial. Não adianta ficar absorvendo um monte de coisa. O corpo, o nosso tempo e a nossa energia, são limitados”, alerta.
Clique aqui para, se desejar, ler a matéria no site do Estadão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Convido você, caro leitor, a se manifestar sobre os assuntos postados na Oficina de Gerência. Sua participação me incentiva e provoca. Obrigado.