Trago ao blog o luxo de um artigo de Hélio Schwartsman. Por que digo isso? Porque o colunista - na minha opinião - é o mais culto e completo que conheço, atualmente, na imprensa escrita brasileira.
Seus artigos, na Folha de São Paulo, são todos de altíssimo nível, seja no estilo, seja na diversidade de temas. Cada texto é uma dose de conhecimento e de cultura. Admiro muito o trabalho dele.
Nem sempre seus artigos cabem no blog. Diria que na maioria são textos fora do "core business" da Oficina de Gerência. Quando encontro algum logo aproveito a oportunidade. É caso deste.
Com uma abordagem diferente, o texto nos direciona ver a questão da sobrevivência do planeta terra fora dos parâmetros tradicionais de proteção ao meio ambiente (clima, poluição, explorações predatórias...).
Com base em um livro recente de Vaclav Smil, Schwartsman chama a atenção para um tema mais relevante ainda e que na opinião do autor será muito mais perigoso para a população do planeta Terra.
É um texto curtinho, mas que levará o leitor a pensar diferente sobre o que nos espera no futuro da humanidade.
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"How the World Really Works" ("Como o mundo realmente funciona), de Vaclav Smil, pode ser descrito como um destruidor de mitos. Valendo-se da boa e velha aritmética e de valiosos esclarecimentos sobre como suprimos nossas necessidades básicas, o autor traça um panorama realista dos desafios que temos pela frente.
Mudança climática, poluição e superexploração de recursos naturais são problemas graves, que cobram ações de todos nós, mas é precipitado afirmar que o fim do planeta ou da civilização esteja próximo. Não há risco, por exemplo, de o oxigênio da Terra acabar, como já sugeriu um presidente. Já água e comida são uma preocupação, mas não em relação à produção e sim à distribuição. Temos esses dois recursos em quantidades suficientes, mas os gerenciamos muito mal. Um terço dos alimentos produzidos estraga sem ser consumido.
O aquecimento global é uma realidade e vai ser difícil limitá-lo aos 2°C. O problema é que somos uma civilização de combustíveis fósseis e livrar-nos deles é uma tarefa de séculos, não de anos nem de décadas. Nós provavelmente avançaremos de forma rápida para tecnologias sustentáveis na produção de eletricidade e transportes, mas isso é só parte da conta.
Os fertilizantes, indispensáveis para alimentar os 8 bilhões de humanos que habitam o planeta, e aço, cimento e plásticos, que dão a base material para nossa civilização, encapsulam enormes quantidades de carbono. E, se quisermos ser minimamente justos, isto é, estender aos bilhões de terrestres que ainda vivem na pobreza níveis de conforto semelhantes aos experimentados pelos habitantes de países ricos, então precisaremos produzir muito mais. Ao contrário da eletricidade, não há à vista nenhuma tecnologia sustentável para substituí-los.
E, como lembra Smil, contrapondo-se aos defensores de soluções mirabolantes, é da Terra que precisamos cuidar; nenhuma das pessoas que está lendo estas linhas vai se mudar para Marte.
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