Arrisco-me, neste artigo,
a escrever sobre de um tema sensível na vida de nossa sociedade. Refiro-me ao
mercado de trabalho para mulheres (de forma geral) e outras parcelas da
população economicamente ativas que estão classificadas (IBGE) como pessoas que fazem parte das minorias raciais
que compõem nosso extrato social (ver figura)
Meu fundamento está em um
artigo que li recentemente no site da BBC
Brasil intitulado "Como a ascensão de mulheres e negros impulsiona a economia”. É
nele que vou embasar os comentários, transcrições e observações que farei;
também respaldado por minha experiência pessoal de 50 anos no mercado de
trabalho; dos quais pelo menos 20% ocupando funções de gerência e gestão ou em cargos de alta
administração.
Continua ele : “Essa nova ordem econômica e social, que surgiu com força no
começo da década de 1950, nos EUA, fez com que o chamado capital humano se
desenvolvesse. Isso aumentou a produtividade agregada a eficiência econômica e
também influenciou positivamente o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
dos dois países entre as décadas de 1960 e 2010.”
Creio ser ponto pacífico
que os movimentos globais que vêm tomando corpo, lenta, mas crescentemente ao
longo dos anos - nos países com regimes democráticos - combatendo a
discriminação racial e de gênero, dos quais são exemplos recentes, a política
de quotas na sociedade brasileira e o “ Black Live’s Matter (Vidas Negras
Importam), têm contribuído para o surgimento de “uma mudança
comportamental da sociedade”.
A partir daí, com inclusão
firme e constante, mulheres brancas e pessoas de cor preta (homens e mulheres)
passaram a assumir funções no mercado de trabalho, com exigências de maior
aptidão, preparo, habilidade e capacidade; posições estas “antes negadas apenas pela cor da pele ou sexo”.
Nas décadas de 60 e 70 não
se encontravam mulheres brancas (negras então, nem se cogitava) em profissões
ditas de primeira linha, como medicina, direito e engenharia. Só após as
décadas de 70, 80 e 90, com raras exceções, foram “aceitas” mulheres em setores
como segurança pública, construção civil, transporte coletivo e outras.
Fator fundamental para
essa abertura foi, na Constituição de 1988, a exigência de concursos para o
ingresso de funcionários na Administração Pública. Essa condição levou o setor
privado a, também, aprimorar os métodos de recrutamento e contratação
derrubando muitos impedimentos ligados aos preconceitos e segregações raciais e
de gênero.
Lembro que na minha turma
de engenharia (1970) na Escola Politécnica de Pernambuco éramos 120 formandos
nos cursos de civil, mecânica e elétrica e havia tão somente 6 (seis)
mulheres e – salvo melhor memória – não mais que 10 homens de cor preta.
Nas outras universidades era a mesma coisa. Era uma realidade naqueles anos.
O autor do texto em
análise insere um conceito que eu não conhecia: ‘’Barreiras de Entrada”, para
identificar esses obstáculos e obstáculos digamos... invisíveis que marcam as
fronteiras das melhores oportunidades para essas pessoas vítimas de
discriminação. E levanta uma questão verdadeira, a de que as barreiras de
entrada podem ser do próprio mercado de trabalho, como a discriminação na
contratação de uma mulher, por exemplo, ou barreiras prévias, como a falta de
acesso a uma educação de qualidade.”
Todo esse conjunto de
dificuldades, no qual se inserem as “barreiras de entrada”, vai confluir para
um problema que além de social é econômico qual seja o desvio de talentos
naturais para contribuir no mercado de trabalho. Segundo as conclusões do
estudo desenvolvido na Universidade de Chicago escreve o autor do artigo: “Por causa dessa característica de nossa sociedade as pessoas
podem não escolher exatamente aquela profissão na qual seus talentos e
capacidades estariam melhor colocados”.
E cita uma frase
interessante de um dos autores do estudo, desenvolvido na Universidade de
Chicago, Dr. Chang-Tai Hsieh,
quando diz que: “A má alocação de capital humano é um dos
reais motivos pelo qual uma sociedade é pobre”. E não vejo como
discordar!
Mas o estudo também
conclui que ao longo do tempo, aquela “mudança comportamental da sociedade”
tem contribuído decisivamente para diminuir as barreiras de entrada seja
nos EUA, seja no Brasil. Sim! No Brasil também há uma pesquisa semelhante –
informa o autor do texto – desenvolvida na Fundação Getúlio Vargas e conduzida
pela Dra. Laisa Rachter.
É da pesquisadora
brasileira a seguinte colocação: “A nova situação das mulheres no mercado de trabalho,
especialmente em ocupações mais qualificadas, influencia positivamente a
produtividade agregada da economia".
Sendo um tema de relevante
interesse para o core business da Oficina de
Gerência, recomendo, com ênfase, que os leitores, militantes ou não, do
universo corporativo, conheçam o artigo no site da BBC Brasil que está
orientado ao final do post.
Deixo registradas minhas
posições quanto ao problema:
- É uma realidade que existem processos de discriminação – barreiras de entrada – em nossa sociedade para dar oportunidades iguais no mercado de trabalho; principalmente para mulheres e os homens da cor preta.
- Esta situação está – lentamente, é verdade – sendo modificada pelas mudanças comportamentais que a sociedade brasileira vem vivenciando. “A evolução da sociedade permitiu que houvesse a queda de algumas dessas barreiras de entrada para as ocupações qualificadas”, é uma das conclusões do estudo.
- E diz mais: “O resultado é que de acordo com a pesquisa americana o crescimento de 20% a 40% do PIB per capita nos EUA, entre 1960 e 2010 pode ser atribuído à entrada de mulheres brancas, mulheres pretas e homens pretos em profissões mais qualificadas”.
- Afirma o Dr. Pete Klenow, um dos autores da pesquisa, que "Essa é uma combinação de uma melhor alocação de talentos entre as profissões, níveis crescentes de educação e participação cada vez maior da força de trabalho para as mulheres em resposta às barreiras que caem".
- Acredito que é responsabilidade social da cidadania, lutarmos, em todas as frentes, contra essas Barreiras de Entrada nos mercados de trabalho. A consciência coletiva da sociedade entende essa questão e tem, na medida das possibilidades, contribuído bem para quebrarmos esses obstáculos de raízes históricas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Convido você, caro leitor, a se manifestar sobre os assuntos postados na Oficina de Gerência. Sua participação me incentiva e provoca. Obrigado.