"Apesar de todas as vozes que encorajam as pessoas a “viverem uma vida autêntica, se casarem com parceiros autênticos, trabalharem para um chefe autêntico, votarem num presidente autêntico”, ser verdadeiro geralmente é um erro." |
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Coloquei os
olhos em um antigo artigo, guardado nos arquivos da Oficina de Gerência, e me
chamou a atenção o título - "Prezar pela autenticidade
pode ser uma cilada". Sugere uma
crítica (e dura) no precioso conceito de "ser autêntico". O que é
isto? Perguntei-me, curioso, referindo-me ao artigo que não havia lido ainda. O
texto foi extraído do New York Times e o autor é Rob Todd, colunista e editor
do jornal.
Ao conhecer
o pensamento dele lembrei imediatamente de um monte de pessoas que conheço e
não perdem a oportunidade de se auto rotularem como "autênticas".
Gostaria que eles e elas pudessem ler o texto abaixo.
Estou há
muitos anos, muitos mesmos, exercendo cargos de gerência e gestão; meu foco
sempre foram as pessoas. Trabalho sob o princípio de que os recursos humanos
são a matéria prima de quem dirige e gerencia. Devo confessar que, conforme
minha vivência e experiência foram aumentando, fui procurando me afastar e
evitando trabalhar – na medida do possível – com aquelas pessoas rotuladas de
"autênticas".
Outro lado da mesma moeda. |
A questão
do ser
humano autêntico (clique no link) é polêmica e controversa. Se pesquisar
na internet (Google – 91.7000.000 links)) vai perceber que existe muito
material que aponta, como positivo, "ser autêntico"; principalmente considerando
que significa ser cem por cento verdadeiro. Outros artigos, entretanto,
criticam essa característica de alguém ser autêntico,
rotulando-a - entre outras coisas de - como buscar ser diferente, personalista
e egocêntrico.
Por esse
simples "passeio" nos links do Google percebe-se que o tema levanta
polêmica e das boas. Não vou entrar nela.
No mundo
corporativo, aprecio um bordão que diz: "Se alguém pedir para você ser
sincero... Não acredite!"
Parece ser
algo muito duro de pensar, não é mesmo? Parece dizer que a sinceridade (aqui
como característica de autenticidade) não é bem vinda porque remete à
coisa falsa, não verdadeira. Todavia, quando entendi a sinuosidade do
conteúdo do chavão, assumi que embora sendo algo maquiavélico, exagerado, tem
uma boa dose de realidade no "jogo da vida". Adotei a atitude e não
me arrependi. Isso quer dizer que não peço a ninguém para - naquele tom de
confidência - ser "sincero” comigo.
Por outro
lado, também aprendi que quando puder e tiver que ser sincero, simplesmente
serei; sem que alguém necessite me pedir ou me sinta obrigado a sê-lo. Em
diversas ocasiões paguei "preços altos" e perdi relacionamentos por
conta desse comportamento; e também me rotularam, em ocasiões assim, de ser... autêntico!
Um lado da moeda. |
Fecho o
assunto reafirmando que não acho que ser autêntico, no sentido de dizer o que
pensa custe o que custar; ou comportar-se à margem dos padrões sociais de forma
deliberada seja um bom caminho para se ter sucesso na vida seja corporativa ou
social. Ah bem! Se a pessoa não almeja o êxito como ele é configurado em nossa sociedade, tudo bem. O livre arbítrio está aí para isso mesmo.
Atenção, não confundir, por favor, ser autêntico com ser original. (mas aí é assunto para outro momento).
Como diriam
os sábios, "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra". Ser sincero consigo
mesmo é a chave para se viver bem e alcançar seus resultados positivos. Todavia,
ninguém quer saber das "verdades autênticas" de ninguém.
Para as
pessoas (jovens principalmente) que ainda aceitam alguma influência, ensino
que, como diz o título do post, ser um "autêntico não é para quem quer, é
para quem pode!"
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Prezar pela autenticidade pode ser uma cilada
O que é preciso para encontrar o seu verdadeiro eu? Alguns alertam que é
um eu a ser superado ao invés de almejado (Filippo Massellani para The New
York Times)
Autor - ROBB TODD
A autenticidade pode ser uma das mais
valiosas moedas em circulação. Os “millenials” a buscam nas redes sociais,
feito políticos em campanha. Mas para viver uma boa vida — ou ganhar uma
eleição — provavelmente o melhor é não ser quem você realmente é.
“Estamos na Era da Autenticidade, na
qual ‘seja você mesmo’ é o conselho definidor para a vida, o amor e a
carreira”, escreveu Adam Grant, professor da Universidade da Pensilvânia, no
“New York Times”. “Autenticidade significa eliminar a distância entre o que você
acredita firmemente por dentro e que você revela ao mundo exterior.”
Mas ele aconselha não fazer isso.
Apesar de todas as vozes que encorajam
as pessoas a “viverem uma vida autêntica, se casarem com parceiros autênticos,
trabalharem para um chefe autêntico, votarem num presidente autêntico”,
escreveu ele, ser verdadeiro geralmente é um erro.
“Todos nós temos pensamentos e
sentimentos que acreditamos serem fundamentais para nossas vidas, mas que é
melhor que não sejam ditos.”
Segundo ele, a sinceridade, em vez da
autenticidade, é um objetivo melhor, porque as pessoas só se importam realmente
“que você seja coerente com o que sai da sua boca”.
Donald Trump foi autêntico ao comer
tacos para comemorar o 5 de maio, data cívica da comunidade mexicana nos EUA? E
o frasco de molho picante que Hillary Clinton diz manter na bolsa, como
Beyoncé?
“Estamos tão acostumados a ver os
políticos afinando cuidadosamente suas personalidades ‘autênticas’ que qualquer
coisa que pareça permitir uma identificação provavelmente é identificável
demais para ser verdade”, escreveu Jennifer Szalai no “NYT”.
Ela salientou que a autenticidade está
sujeita ao contexto da época em que vivemos.
A autenticidade foi reimaginada como
uma coisa bonita que pode ser encontrada com um pouco de busca interior
profunda. Szalai escreveu que a autenticidade se tornou desejável, “e desejável
significa comercializável, especialmente numa sociedade tão implacavelmente
comercial como a nossa”.
O atual mercado da autenticidade
alimenta as vendas de livros de autoajuda e de praticamente qualquer coisa que
seja descrita como “personalizada”.
Nenhuma palavra serve tanto como um
alerta de que o produto à venda não vale o que custa, a não ser que seja um
terno de alfaiataria.
“É parte do golpe da autenticidade”,
disse ao “NYT” Paul Riccio, que dirigiu um vídeo satírico sobre a água
“personalizada”. “Chamar algo de personalizado automaticamente permite que você
aumente seu preço em US$ 50 (R$ 160).”
O mesmo golpe também beneficia vários
livros de autoajuda. Textos antigos voltam a ganhar popularidade porque muita
gente está sedenta por conhecimento. Mas essas traduções frequentemente são mal
apropriadas e mal interpretadas.
“Às vezes as pessoas veem o taoísmo
como uma forma de ‘ajudar a se encontrar e a viver bem no mundo’”, disse
Michael Puett, professor de Harvard, ao “NYT”.
“Mas essas ideias não dizem respeito a
olhar para dentro e se encontrar. Dizem respeito a superar a si próprio. São,
de certa forma, a antiautoajuda.”
A verdade nem sempre é um lugar bonito.
Puett alertou que, nessa busca, muita gente acaba encontrando algo a ser
superado ao invés de abraçado: um tumulto interno decorrente de hábitos ruins.
Para a maioria de nós, seria melhor alterar o nosso comportamento e nos concentrar
mais em como interagimos com os outros.
Grant concorda que deveríamos nos
preocupar mais em como nos apresentamos e como aspiramos a ser o que dizemos
ser.
“Ao invés de mudar de dentro para fora,
você traz o exterior para dentro”, escreveu ele, salientando: “Ninguém quer ver
o seu verdadeiro eu”.
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