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rago
aos leitores da Oficina de Gerência um artigo da BBC Brasil que já está
"bombando no Google. Não é um tema habitual do Blog, mas não pude resistir à
essa publicação porquanto me chamou a atenção as revelações que a jornalista Kathryn
Bonella - autora do livro "Nevando em Bali" - e o repórter Renan Antunes de Oliveira (que entrevistou Marco Archer em 2005, numa prisão na Indonésia) apresentaram sobre o perfil do brasileiro executado. O que está no texto é
diametralmente oposto à imagem que a cobertura da grande mídia brasileira
apresentou de Marco Archer.
Oque me intrigou ao ler essa reportagem e a outra matéria referida (entrevista que poderá ser
acessada no link ao final do post) é que mostram um Marco Archer não era exatamente
aquele "carioca bon vivant" que foi pego ocasionalmente traficando
cocaína quando fazia uma visita turística na Indonésia em busca das famosas
ondas de Bali para surfar alegremente. Leiam um trecho da matéria que está ao final do post:
- O carioca Marco Archer Cardoso Moreira viveu 17 anos em Ipanema, 25
traficando drogas pelo mundo e 11 em cadeias da Indonésia, até morrer
fuzilado, aos 53, neste sábado (17), por sentença da Justiça deste país
muçulmano.
Durante quatro dias de entrevista em Tangerang, em 2005, ele se abriu
para mim: “Sou traficante, traficante e traficante, só traficante”.
Demonstrou até uma ponta de orgulho: “Nunca tive um emprego diferente na vida”. Contou que tomou “todo tipo de droga que existe”.
Por
que essa informação não foi apresentada ao público brasileiro que acompanhou -
condoído - o drama de Marco Archer, da sua mãe e dos seus amigos? Não tenho
respostas para isso, mas me senti enganado, engabelado, iludido. Como eu, muitos outros brasileiros
ficaram achando que a pena de morte era muito exagerada para o "simples
ato impensado" de um jovem traficante desastrado. Muitos ficaram
"com raiva" do presidente indonésio que não atendeu aos apelos
humanitários, que lhe foram feitos não só pelo governo brasileiro, mas também
pela Holanda que a exemplo do Brasil chamou seu embaixador de volta "para
consultas" (A execução incluiu outros cinco condenados pelo mesmo crime:
um indonésio e quatro estrangeiros de Vietnã, Nigéria, Holanda e Malauí).
Não
me atrevo a comentar essas medidas, pois estão na dimensão das questões
diplomáticas e políticas entre essas nações. Pessoalmente acho que o governo brasileiro agiu corretamente - dentro dos rituais da diplomacia - em protestar contra a execução. Como ficaria o presidente de um país que não se manifestasse contra a execução pública de um dos seus cidadãos? Entendo que foi uma atitude política e diplomática legítima e compreensível.
Registro apenas a tensão (claramente manipulada) imposta pela mídia à opinião pública brasileira que suportou vários dias de
noticiário maciço das TVs, rádios, sites e jornais, torcendo para
que a sorte do "surfista carioca", do instrutor de asa delta (ele era apenas praticante) fosse alterada pela benevolência
do presidente indonésio.
Ninguém
que se acredite cristão e civilizado é favorável a punir crimes com a morte. A própria ONU se
manifestou na direção de que a Indonésia não aplique essa penalidade extrema
mesmo fazendo parte de suas leis. Há uma pressão internacional nesse sentido. Por outro lado deve ser dito que o fuzilamento como punição para
crimes é apoiado por quase 70% do povo de lá.
Certamente
outras formas de punição para crimes tão graves quanto o tráfico de drogas
poderiam ser aplicadas aos condenados, mas daí a "vender" que houve
exagero na aplicação de uma pena tão pesada a alguém "que não era tão
criminoso assim"...
leiam as duas matérias e tirem suas próprias conclusões. A minha eu já a tenho.
Execução abala 'fantasia' de brasileiros no tráfico da Indonésia
Fernando Duarte Da BBC Brasil em Londres
"Nevando em Bali",
livro que expõe em detalhes o submundo das drogas na mais famosa ilha
do arquipélago que forma a Indonésia, chama a atenção não apenas pela
descrição da mistura de crime e hedonismo no paraíso turístico que
recebe mais de 2 milhões de visitantes por ano.
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Para Bonella, no entanto, o mais significativo foi o
fato de Archer ter sido também o primeiro ocidental a receber a pena de
morte na Indonésia.
"Bolha"
Para a australiana, a morte estourou o que ela chama de "bolha da fantasia" para os brasileiros envolvidos com o tráfico no país."A morte de Marco foi decididamente o que se pode chamar do fim de uma fase. Sempre se soube que o tráfico na Indonésia é punido com a pena de morte, mas as autoridades indonésias jamais tinham ido até o fim na punição a ocidentais", afirma Bonella, em entrevista à BBC Brasil.
"Ao mesmo tempo que isso não vai acabar com o tráfico em Bali, eu imagino que muitos brasileiros vão pensar duas vezes diante da próxima oportunidade de contrabandear drogas para a Indonésia. Mas duvido que isso vá durar para sempre. Há uma grande demanda por drogas em Bali, é um lugar para onde turistas do mundo inteiro vão para se divertir sem os mesmos limites vistos na maioria dos lugares do mundo."
Para Bonella, a frequência com que encontrou brasileiros envolvidos com o tráfico na Indonésia - de transportadores de droga a ricos intermediários entre os grandes barões - é explicada pelo perfil da maioria dos viajantes do país para o arquipélago.
"Os brasileiros que encontrei tinham basicamente o mesmo perfil. Eram surfistas que viram no tráfico, em especial de cocaína, uma chance de se manter em Bali e viver uma vida de fantasia, pegando ondas, indo a festas e encontrando belas mulheres. A proximidade do Brasil com os mercados produtores de cocaína na América do Sul ajuda no acesso à droga. E, ao contrário dos habitantes de muitos países, os brasileiros viajam normalmente pelo mundo", argumenta Bonella.
Perfil diferenciado
Outro fator que diferencia os traficantes brasileiros que a australiana encontrou na Indonésia é o perfil social."Eles eram todos de classe média, com escolaridade e conhecimento razoável de inglês. Entraram no tráfico pela curtição, não por uma necessidade econômica. Queriam viver tendo do bom e do melhor. Bem diferentes das 'mulas' (transportadores de droga), que recebem pouco dinheiro para muito risco. Um dos brasileiros que conheci em Bali podia ganhar uma fortuna com uma viagem bem-sucedida", conta a australiana.
Um dos grandes exemplos foi um carioca conhecido como "Rafael", um surfista que durante anos foi uma das principais engrenagens no tráfico de cocaína em Bali e que não fazia muita questão de esconder seus lucros: dava festas homéricas em sua mansão à beira-mar, onde uma das atrações era um trampolim do qual ele saltava de seu quarto diretamente para a piscina.
Bonella esteve na Indonésia no fim de semana e acompanhou através da mídia e de relatos de contatos a execução de Marco Archer. Embora faça questão de criticar a opção do brasileiro pelo tráfico, a australiana disse ter ficado chocada com o desfecho de um dos personagens mais citados em Nevando em Bali - numa das passagens, Bonella conta que Archer dominava o fornecimento de maconha em Bali e tinha até registrado a marca de um tipo de erva que vendia, a Lemon Juice.
"Visitei Marco na prisão durante a pesquisa para o livro. Sabia o que ele estava fazendo e de maneira nenhuma endosso o tráfico. Mas ele era carismático e até cozinhou na prisão para mim, e parecia ter muitos amigos na Indonésia, pois recebi uma série de mensagens lamentando sua morte. Sou pessoalmente contra a pena capital, em especial a tortura psicológica que foi Marco ter vivido mais de dez anos com a possibilidade de execução pairando sobre sua cabeça."
Numa das visitas, Bonella foi apresentada a Rodrigo Gularte, o outro brasileiro condenado à morte e cuja execução poderá ocorrer ainda este ano. Foi no livro da australiana que veio à tona uma suposta tentativa de suicídio do brasileiro após o anúncio da sentença, em 2005.
"Não pude comprovar, mas me pareceu claro que Rodrigo tinha sido afetado de maneira bem diferente de Marco", disse.
'Mais perigoso'
A
australiana disse não acreditar que a pressão internacional sofrida
pela Indonésia nos últimos dias, inclusive com a retirada dos
embaixadores de Brasil e Holanda (que também teve um cidadão executado
no fim de semana), poderá mudar o destino do brasileiro e dois
australianos também no corredor da morte.
"Os traficantes devem estar assustados, mas o tráfico não vai parar. Há muita demanda, até porque a Indonésia é usada como centro de distribuição das drogas para outros países asiáticos e mesmo a Austrália. Só que agora os envolvidos sabem que a situação ficou ainda mais perigosa", opina Bonella.
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