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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sócrates foi um revolucionário social. Deixou este plano, mas não morreu!

Capa do caderno especial da Folha em homenagem a Sócrates
E
xistem personagens que entram na História (assim mesmo com 'H' maiúsculo) de fininho e vão ficando, construindo-a na sua passagem pela vida e terminam com os méritos de havê-la alterado. Uns para o bem, outros para o mal. O 'Doutor' Sócrates certamente modificou a história para o bem. Ele era essencialmente um homem ‘do bem’ como se costuma, na simplicidade do jargão popular, classificar as pessoas que buscam não prejudicar ninguém, que lutam pela justiça e são corretas em seus comportamentos e atitudes. Sim! Podemos classificar Sócrates como uma pessoa do bem! 
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Sócrates conseguiu dentro do seu universo que era o planeta do futebol a façanha de conscientizar as pessoas - que não faziam parte sua corporação, nós os seres humanos anônimos ou “a sociedade” considerados genericamente como “opinião pública” -  da necessidade de nos manifestarmos a favor do que consideramos correto, acertado e justo.
O Doutor entendeu à perfeição o seu papel no contexto de sua realidade. Sendo um homem famoso com formação universitária e de cultura refinada trabalhando em um meio rústico e árido como é o mundo dos atletas de futebol (ainda mais nos anos 70 e 80) percebeu que tinha nas mãos uma gigantesca caixa de ressonância e não se omitiu. Não se escondeu atrás do conforto e do estrelato.
Logrou como poucos transformar esse poder de reverberação que tinha nas mãos em uma mensagem que foi revolucionária para a época. Ele poderia meramente ter desfrutado apenas de sua fama merecida e como se diz na gíria “cuidado da sua vida”. Assim ainda fazem, via de regra, os atletas no nível em que Sócrates estava. Ele não! Tinha o espírito guerreiro dos inconformados. Soltou a voz e entrou para a história.
Até no tipo físico estava próximo de um “Che Guevara” onde ao invés das selvas de Sierra Maestra driblava seus adversários e perseguidores ( e ele os tinha) nos verdes gramados dos campos de futebol do Brasil afora. Tinha como armas a sua liderança e um carisma singular, os mágicos passes de calcanhar, sua autoridade como líder e seus gols memoráveis. Levava sua arte com a bola nos pés (e nos calcanhares) e no mesmo pacote difundia sua mensagem de afrontamento aos poderosos e clamor a favor dos mais desafortunados desfraldando as bandeiras pelo direito de igualdade e de opinião.
Cortejado à exaustão pelos políticos jamais aceitou a participação na política partidária. Poderia ter sido eleito - arrisco-me a dizer - um deputado federal ou mesmo senador tal era o seu prestígio e credibilidade em todas as camadas da sociedade, mão resistiu a esse "canto de sereias". Preferiu ser ele mesmo, apenas Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nascido em Belém, no dia 19 de fevereiro de 1954 e falecido em São Paulo, 4 de dezembro de 2011, mais conhecido como Sócrates e também referido como 'Doutor Sócrates', 'Doutor' ou 'Magrão', foi um jogador de futebol e médico brasileiro.


Eu tive o privilégio de viver nos tempos de Sócrates. Vi sua carreira lastrear-se desde o Botafogo de Ribeirão Preto, passando pelo Corinthians onde se tornou um dos ídolos eternos e criou a famosa “Democracia Corintiana” até sua ida para a Fiorentina (Itália) e o retorno ao Brasil já em fase de decadência como atleta. Seu carisma, sua qualidade pessoal para despertar admiração, respeito, entusiasmo continuaram a exercer influência por onde passava.
Não me lembro de jamais ter ouvido, visto ou lido alguém falar de que Sócrates tivesse uma atitude menor, sem ética ou que prejudicasse alguém. Era um gentleman, sempre sorridente e bem humorado como figura pública.
Poderia, mercê de sua fama, adotar até um comportamento mais afetado e de exposição negativa. Lembremo-nos de outros ídolos do mesmo mundo do futebol como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Renato Gaúcho... Sócrates não! Ele estava na turma do Zico, do Falcão, do Júnior... E do seu irmão Raí... Só que acima destes, ele não se conformava com o que via no mundo ao seu redor e botava a boca no trombone. 


Certamente que 'Doutor' Sócrates deixou saudades como jogador de futebol do mais alto nível que era, mas a memória dele que será preservada e passará à História será a do revolucionário que enquanto vivo e famoso ajudou a mudar as regras do relacionamento entre empregados e seus empregadores com a criação da Democracia Corintiana e não se omitiu quando teve que arriscar seu prestígio e carreira para defender suas idéias e ideiais.
Ele  jamais se furtou a participar de todos os movimentos cívicos de seu tempo ai incluído o Movimento das Diretas Já onde foi uma de suas estrelas mais participativas. Sem qualquer crítica aos seus contemporâneos, mas não me lembro de Pelé, Zico, Falcão e outros contemporâneos seus lutando pelos direitos civis. Falar sobre Sócrates é um exercício de alegria inesgotável. Ele é daqueles personagens que apesar de haver deixado esse mundo físico diz-se que não morreu.  Por isso Sócrates será único no panteão da história onde ele está justamente colocado.
Abaixo coloquei dois textos magníficos de jornalistas consagrados (Juca Kfoury e Luis Curro) que prestaram homenagens ao "Magrão" no Especial da Folha de São Paulo. Recomendo a leitura.
http://www.jundiaionline.com.br/guia/icones/futebol_icone.jpg
Este é o fac-simile da reportagem especial que a Folha de São Paulo prestou à memória de Sócrates e que procurei reproduzir em forma de imagem para que estiver interessado. O texto de Juca Kfoury é muito bem elaborado.
Por razões técnica esta imagem ficou com visibilidade menor. Clique sobre ela para melhorar a leitura.
http://www.jundiaionline.com.br/guia/icones/futebol_icone.jpg

Abaixo estão os recortes do mesmo caderno especial da FSP com as referências que a imprensa internacional publicou sobre a morte de Sócrates. Por elas dá para ter uma idéia do prestígio que o Doutor desfrutou.


http://www.jundiaionline.com.br/guia/icones/futebol_icone.jpg

Abaixo estão os recortes do mesmo caderno especial da FSP com as referências que a imprensa internacional publicou sobre a morte de Sócrates. Por elas dá para ter uma idéia do prestígio que o Doutor desfrutou.


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