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domingo, 1 de novembro de 2009

"Cultura da Desconfiança" existe mesmo? Leia a respeito. (Emilio Odebrecht/Folha de São Paulo)

Trago ao blog mais um artigo do empresário Emílio Odebrecht. Faz um tempo que não publico nada dele, pois seus ultimos escritos estavam fora da temática da Oficina de Gerencia. Hoje não! Ele nos traz um assunto importante e sempre atual, apesar de existir desde o inicio do mundo. Refiro-me à dicotomia entre a confiança e a desconfiança abordadas no artigo sob o título de “Cultura da Desconfiança”.
Leiam abaixo dois pequenos trechos que estão no artigo:
  • [...] "Ocorre que a desconfiança a priori não favorece o diálogo. Precisamos inverter essa situação. O mundo está cheio de exemplos do bom uso do princípio oposto - o da confiança." [...] "Confiar é um princípio universal, atemporal. É uma escolha e é um valor. Desconfiar não é um valor." [...]
  •  
Penso que alcançar o nível de se conseguir eliminar a cultura da desconfiança que nossa sociedade exercita com tanto ardor é uma utopia. Entretanto é necessario que  o debate seja incentivado.  A desconfiança custa muito caro aos cofres publicos e às corporações. Sem duvidas é ela a grande mantenedora dos organismos de controle que existem tanto na administração publica quanto na privada.  A cultura da desconfiança se suporta sobre uma gigantesca estrutura de controles e controladores. Por conta dos atos - muito mais divulgados nas midias - de corrupção e desgoverno esta maquina está cada vez mais poderosa junto à opinião publica. É natural que assim seja...
O tema, obviamente, está no centro das discussões em função da atuação mais visivel de instituições publicas especializadas em exercer controle formal sobre as empresas e corporações. E são muitas. São tribunais (federais e estaduais), controladorias, corregedorias, institutos, ONGs e auditorias; sem falar nos organismos policiais ou derivados cuja finalidade é operar nas dobras da cultura da desconfiança.
Longe de mim desprezar esse trabalho essencial para organizações que necessitam manter a transparência quanto à utilização dos recursos publicos e privados também (a rigor, hoje em dia, dificilmente se conseguirá separar as duas coisas). Entretanto estou ao lado daqueles que consideram excessiva a valorização e o poder que estão cercando o trabalho destes orgãos. 
Flagrantemente está ocorrendo uma inversão de valores. Os fiscais estão sendo mais importantes do que os executivos; os auditores mais valorizados do que os  gerentes. Esta constatação é inegável e isto não faz parte do equilibrio natural das coisas. As consequencias deste desvio  jamais poderão ser parte do senso comum e no futuro causarão prejuizos maiores do que aqueles para os quais estas corporações foram criadas para coibir.
Fico por aqui. Vamos ao artigo porque Emilio Odebrecht tem autoridade para escrever sobre o tema. É executivo de sucesso e passou a sua vida empresarial sendo fiscalizado pelos órgãos de controle. Leiam o que tem a dizer.
São Paulo, domingo, 01 de novembro de 2009




http://www.digirolamo.com.br/images/emilio.jpg
EMÍLIO ODEBRECHT


A cultura da desconfiança

           Os jornais das últimas semanas reservaram espaços generosos para um debate tenso e acalorado sobre o papel de organismos de controle e fiscalização criados na administração pública brasileira.
           Não pretendo participar focando no que está posto - que são as atribuições das instituições concebidas para auxiliar os gestores governamentais - porque isso é apenas um efeito. Prefiro olhar para a causa - e a causa é um fenômeno chamado cultura da desconfiança.(grifo é do blog)
          As relações entre empresas, entre estas e o poder público e entre o poder público e a sociedade deveriam ser pautadas pelo princípio da confiança.
           Entretanto, a cultura da desconfiança impôs ao servidor público e a todos aqueles que com ele se relacionam um emaranhado de medidas que tem levado o Estado ao imobilismo.

sb10063205i-001, Bruno Muff /Photographer's Choice RF

           Quando o ministro Hélio Beltrão, no final da década de 1970, empreendeu sua cruzada pela desburocratização, ele definiu como condição básica para o êxito de seu projeto o crédito na palavra e no compromisso de cada um com a verdade.
.........Uma declaração de próprio punho tinha que ter tanto valor quanto uma certidão emitida por um cartório. Não deu certo e continua alta a popularidade do ato de se desconfiar, seja no setor público, seja no privado. Neste, a inexistência de delegação em muitas empresas é uma demonstração de que também não existe a condição preliminar: líderes que confiam em seus liderados.
.........Ocorre que a desconfiança a priori não favorece o diálogo (grifo é do blog). Precisamos inverter essa situação. O mundo está cheio de exemplos do bom uso do princípio oposto - o da confiança.
.........Todos conhecem o caso do economista Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006 por ter criado em Bangladesh um banco voltado para o microcrédito. As pessoas que o procuram não dispõem de qualquer ativo para oferecer como garantia pelo empréstimo tomado, além da própria palavra. Se comprometem a pagar o que lhes for emprestado e pagam. Merecedoras de confiança, honram os contratos.

75042542, Peter Bono /Stock Illustration RF

           Confiar é um princípio universal, atemporal. É uma escolha e é um valor. Desconfiar não é um valor. Confiar é também um atributo daqueles que são movidos pelo espírito de servir. A confiança decorre do respeito entre as pessoas e o respeito é fruto da disciplina nos relacionamentos. Este trinômio é a chave da questão.
           O Brasil está pagando um preço muito elevado por ter permitido que esse clima de eterna suspeita contaminasse a vida do país. Caminhar no rumo da construção de uma sociedade de confiança trará bons resultados para todos nós.

EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna


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