Em ambientes tensos, as pessoas têm mais medo de errar, e tornam-se menos ousadas. Por isso, é tão importante manter-se tranquilo. Na hora da crise, você deve arriscar mais, não menos. “Nos bons momentos, a gestão de risco é menor, você administra com cautela”, diz Motomura. “Nas crises, é preciso ter mais ousadia, porque as empresas precisam de soluções novas. Apegar-se às decisões cautelosas demais pode ser suicídio”. Aí brilham as pessoas inquietas, que provocam a equipe a fazer perguntas e pesquisar alternativas. Como ser uma dessas pessoas? Saia do casulo, converse com os colegas, tenha coragem de expor suas dúvidas (sobre seu trabalho, sobre o mercado, sobre os produtos, sobre os métodos da concorrência), busque respostas. E proponha caminhos novos.
Um dos mantras dos profissionais de recursos humanos é o networking: a administração de sua rede de contatos. Não é para menos. Cerca de 60% das contratações de executivos são resultado de indicações de conhecidos. Antigamente, as pessoas se referiam ao fenômeno com a sigla QI, indicando não o quociente de inteligência, e sim a explicação pejorativa “quem indicou”. O networking é um pouco diferente. Só é indicado quem é competente. Sua tarefa, portanto, é tornar-se conhecido por suas habilidades. É bem diferente de buscar obsessivamente fazer contato com quem possa ajudá-lo. Um bom networking serve não só para contatos de emprego, mas também para ter um círculo de conselheiros e mentores, ou gente que pode compartilhar experiências, inspirar ideias para sua atividade, indicar cursos, trabalhar para você etc.
O networking vale nas duas mãos. No mundo do trabalho, indicar alguém bom para uma tarefa conta pontos em sua ficha, pois você fica conhecido como alguém que sabe encontrar soluções. Como funcionam as indicações? Da forma mais natural. Se você precisa de alguém para realizar uma tarefa, vai provavelmente recorrer a pessoas que já fizeram algo semelhante para um amigo seu. O mesmo raciocínio vale para alguém indicar você – será por causa dos bons trabalhos pelos quais você já foi reconhecido. O problema é que as pessoas costumam esquecer nomes, autorias, contatos. Então, além de bons trabalhos, você deve alimentar sua rede de contatos com conversas frequentes, manter a agenda atualizada, circular por eventos (seminários do seu setor, cursos, reuniões) em que possa conhecer amigos de seus amigos – e tornar-se conhecido por eles, também. Nessas horas, você precisa causar boa impressão. E a melhor maneira de ser lembrado pelas pessoas é fazer algo por elas. Dar uma opinião embasada, contribuir com uma ideia, apresentar alguém que ajude a resolver um problema. Em algum momento, esses favores vão retornar para você.
Se a crise tornar o ambiente da empresa tenso, é normal que surjam as rodinhas de fofocas. Fuja delas. Mantenha-se informado sobre o que acontece ao redor, mas afaste-se dos fuxicos e boatos. Tenha cautela também com a tensão entre os colegas. A pressão pode tornar chefes e colegas mais agressivos, acentuar preferências e inimizades. Seja transparente e ético. E evite exagerar na propaganda pessoal. “Isso pode transformar o profissional num alvo de rancor e críticas entre os colegas”, diz Karin.
Parece provérbio chinês: “É nos momentos de crise que surgem as grandes oportunidades”. O fato é que, para inúmeras pessoas, o provérbio funciona. Até porque a crise incentiva as pessoas a pensar em alternativas. Nos tempos tranquilos, oportunidade vem na forma de fazer mais daquilo que já funciona. “Nos tempos ruins, a oportunidade vem do abandono das coisas que não funcionam mais e na busca de outras, baseadas em novas necessidades”, diz Tony Jeary, consultor americano especializado em treinamento para executivos. “Agora estamos imersos no estresse real que uma economia em crise produz: o estresse da mudança e a necessidade de deixar nossas zonas de conforto. Às vezes, isso significa pegar uma nova estrada”. Nos dias de hoje, o profissional mais valorizado é o empreendedor: aquele que tem autonomia, tem noção do todo, sabe administrar a si mesmo, trabalha por projetos (em vez de pensar apenas em cumprir tarefas que outros lhe dão). Isso é muito parecido com ter o próprio negócio dentro do negócio da empresa. E isso está muito perto de ter o seu próprio fora da empresa. Por isso, busque oportunidades num sentido bem amplo. Se a sua empresa não puder ou não quiser aproveitá-lo, e você tiver certeza de que vale a pena, pode ser a hora de partir para o voo-solo (leia o caso de Adriana Bertolino abaixo).
Pode ser que não dê tempo de salvar seu emprego, seja porque não dá mais tempo ou porque a situação da empresa chegou a tal ponto que tem de demitir mesmo aqueles que ela gostaria de manter. Não desanime. Os conselhos listados acima continuam válidos. Estudar, ampliar sua rede de contatos, pensar estrategicamente, com ousadia, são atitudes que fortalecerão suas chances de conseguir um novo emprego – às vezes, até melhor que o antigo.
Perder o emprego, hoje em dia, não é tão desastroso como era na década de 1990. Naquela época, quando o país abriu sua economia, muitas empresas brasileiras acomodadas e obsoletas passaram a ter de enfrentar a concorrência internacional. Seus empregados estavam acostumados a um ambiente de carreira numa só empresa, e as demissões eram encaradas como um luto, uma traição. Hoje, é bem diferente. A maioria das pessoas já passou por mais de um emprego, ou conhece muita gente que passou, e está mais preparada para mudanças. A economia também se sofisticou: há mais terceirização (trabalhos feitos por gente que não é empregada direta) e o empreendedorismo vem aumentando. “Somos bem mais competentes”, afirma Bloch. “E essa crise, ao contrário das anteriores, veio de fora. A economia brasileira mudou, para melhor. Seus profissionais também”.
A crise, cedo ou tarde, vai passar. Os conselhos acima devem ajudar você não só a sobreviver, mas também a prosperar no próximo período de bonança.
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