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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Autoconfiança nos executivos é qualidade, mas muito cuidado com ela...

Trago ao conhecimento dos leitores e visitantes do blog mais um ótimo artigo do site Universia.Wharton. O tema que ele aborda é absolutamente diferente daqueles mais comumente encontrados, dentro da mesma linha, na internet.
Acho que é este aspecto que tem me fascinado neste site. Seus textos , referidos ao mundo corporativo empresarial, sempre estão provocando seus leitores com questões diferenciadas e pouco suscitadas pelos autores mais consagrados. É uma crítica mesmo! Mas falo sobre isto em outra oportunidade.
Por favor, não temam o "tamanho" do texto. Já disse, repetidamente ,que leitura "fast-food" não adianta a vida profissional de ninguém; no máximo provoca um ou outro insight ou orienta para despertar a curiosidade rumo a outras pesquisas.
Falar sobre autoconfiança como atributo dos executivos de sucesso é fácil. Todavia colocar esta "qualidade" sob o foco de uma
(possível e até provável) fraqueza não é para qualquer articulista. É este lado da questão que o(s) autor(res) do artigo (infelizmente não nominados) procuram colocar baseados em um estudo que duas professoras da Wharton - Catherine M. Schrand e Sarah L. C. Zechman - desenvolvem atualmente com base nas "famosas" fraudes reveladas ultimamente em grandes instituições como a Enron, por exemplo.
Será que estas velhacarias são frutos da desonestidade pessoal dos executivos ou da excessiva autoconfiança de quem se julga um vencedor infalível até ser "conquistado" pela torpeza da improbidade ?
Esta é a questão analisada pelo estudo referido e comentada pelo artigo.
O texto abaixo é denso e exige concentração de leitura, mas em compensação é um registro atual que merece ser lido e relido; guardado e consultado; distribuído aos amigos e difundido.

http://knowledge.wharton.upenn.edu/templates/images/ukw.gif

Executivos com excesso de autoconfiança têm mais chances de cometer fraudes?

"Ninguém chega ao topo da hierarquia administrativa de uma empresa se não tiver um grau elevado de autoconfiança. Todo líder forte e decidido é um indivíduo confiante, mas será que o excesso de confiança faz com que os gerentes ultrapassem os limites do aceitável e cometam fraudes?

Uma nova pesquisa da Wharton baseada em dados colhidos na literatura psicológica e em informações extraídas dos arquivos de fiscalização de atividades fraudulentas da SEC (Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio) analisa as razões pelas quais executivos do alto escalão acabam envolvidos em fraudes convencidos de que sua empresa, no futuro, será capaz de corresponder ao desempenho esperado.

Catherine M. Schrand, professora de contabilidade da Wharton, e Sarah L. C. Zechman, doutoranda da mesma instituição, desenvolvem atualmente um estudo intitulado “Executivos extremamente confiantes e a rampa escorregadia da fraude”, em que analisam padrões em fraudes para determinar se algumas delas decorrem não de interesses meramente pessoais, mas do excesso de otimismo por parte de executivos que se acreditam capazes de dar novo rumo a suas empresas antes de serem atropelados pela sedução da fraude.



“O objetivo principal do estudo consiste em saber se é possível explicar o comportamento fraudulento com base naquilo que sabemos das pessoas no momento em que tomam decisões. Há comportamentos de natureza fraudulenta que são conseqüência de decisões tomadas por gerentes que acabam necessariamente cedendo à fraude”, diz Schrand. “No início, eles não imaginavam que fossem recorrer à fraude, não tencionavam prejudicar ninguém, mas acabaram em uma condição tal que não viram outra alternativa à situação terrível a que chegaram a não ser agir de forma desonesta.”

Schrand descreve a trajetória que leva à fraude. O executivo acha que sua empresa está apenas atravessando um trimestre ruim ou uma fase de má sorte. Ele acha também que é do interesse de todos os envolvidos — gerentes, empregados, clientes, credores e acionistas — maquiar o problema a curto prazo, de modo que essas pessoas não interpretem de maneira equivocada o fraco desempenho atual da companhia como se fosse prenúncio do que virá pela frente. Além disso, ele está convencido de que, mais adiante, a empresa será capaz de compensar o período atual de performance ruim. Esse tipo de raciocínio é mais comum no executivo otimista ou excessivamente confiante.

“Ele acaba flexibilizando um pouco mais as regras ou enveredando pelo que se poderia chamar de ‘área cinzenta’ da gestão de lucros. Digamos, porém, que ele estivesse enganado e as coisas não saem conforme esperava”, prossegue Schrand. “O executivo se sente então compelido a compensar as perdas do período anterior. Isso exige que ele persista em seu comportamento fraudulento, aprofundando-o ainda mais no trimestre em curso.”

De acordo com o estudo, a manipulação dos lucros em um único período pode passar despercebida se o desempenho da empresa de fato melhorar. Caso contrário, segundo o estudo, os gerentes continuarão a manipulá-los em doses cada vez maiores. “Por fim, a única opção que lhes sobra é ‘maquiar os livros’ adulterando documentos e recorrendo a registros falsos que acabarão nas malhas da SEC”, dizem as autoras. Um gerente extremamente confiante e com uma visão irrealista sobre o desempenho futuro da companhia tem mais chances de se envolver em fraudes “porque tem menos possibilidades de antecipar corretamente a necessidade de uma dose maior de manipulação fraudulenta dos lucros em períodos subseqüentes”.



As fraudes estão se tornando cada vez mais comuns — e também públicas. Duas das maiores fraudes corporativas da história dos EUA, da Enron e WorldCom, ocorreram na década atual, suscitando uma atenção cada vez maior tanto por parte da imprensa quanto dos órgãos reguladores do governo. Supondo-se que esse fenômeno se explique pelo excesso de confiança, disso se segue então que os cargos executivos seriam ocupados por pessoas cujas decisões baseiam-se sistematicamente em opiniões tendenciosas? “Muitos executivos exibem um excesso de confiança e cultivam expectativas mais elevadas do que deixam transparecer”, diz Schrand. “O excesso de confiança é uma característica própria do ser humano e ocorre de forma mais explícita em determinados tipos de pessoas, sendo bastante comum entre executivos.” Schrand assinala que pesquisas feitas na área da psicologia, além de estudos realizados entre empreendedores e gestores, mostram que as pessoas que são promovidas aos escalões superiores das empresas são, via de regra, as que demonstram possuir um nível de confiança suficiente para correr riscos. Além disso, os executivos nos postos mais elevados devem sua posição atual a sucessos anteriores, o que pode levá-los a confiar exageradamente em si mesmos.



A escalada da farsa

Para avaliar se executivos excessivamente confiantes apresentam uma tendência maior para se envolver em fraudes, as pesquisadoras examinaram os dados contábeis e as punições aplicadas pela SEC nas décadas de 1990 e 2000 com o propósito de descobrir padrões no comportamento de empresas envolvidas em fraudes.

A Waste Management, que em 1998 corrigiu os lucros apurados entre 1992 e 1997 em 1,7 bilhão de dólares — na época, a maior revisão de lucros da história corporativa americana — é citada no estudo como exemplo. A SEC acusou a empresa de prática sistemática de fraude por parte de seus executivos, que estabeleciam metas de lucros trimestrais e, em seguida, manipulavam os dados contábeis a cada trimestre. Um novo CEO ordenou então que se fizesse uma auditoria das práticas contábeis da companhia e descobriu o esquema. “As receitas e os lucros da empresa não cresciam a um ritmo veloz o bastante para atingir as metas propostas, o que levava os acusados a recorrerem à eliminação indevida de despesas e à sua postergação para o próximo período, inflacionando os ganhos”, segundo dados da SEC. Os montantes eram pequenos inicialmente, e passaram despercebidos, mas foi preciso aumentá-los para acompanhar a escalada da farsa.

Schrand cita também o caso da empresa de computadores Gateway como exemplo adicional de como o comportamento fraudulento pode ganhar escala com o tempo. No segundo trimestre de 2000, os gerentes da empresa lançaram um programa ousado de financiamento para clientes que pleiteavam a obtenção de crédito pelo sistema de financiamento da empresa, mas que haviam sido rejeitados. Os registros da SEC informam que até 8 de junho de 2000, a Gateway havia concedido 10 milhões de dólares em empréstimos desse tipo (batizados pela empresa de empréstimos “externos”). Dois dias depois, a gerência analisava a possibilidade de uma meta corrigida de 20 milhões de dólares em empréstimos de alto risco. Quando perguntaram a um chefe de divisão se ele conseguiria atingir sua meta de 975 milhões em receitas sem lançar mão da receita adicional oriunda do programa de financiamento, ele respondeu que estava contando com 30 milhões do programa para atingir sua meta.


“A situação da Gateway é bastante parecida com a crise atual de hipotecas subprime”, observa Schrand. A exemplo do que ocorreu com os credores de empréstimos subprime, a atividade básica de empréstimos da Gateway — o programa de empréstimos externos — não era ilegal. O problema em ambos os casos, porém, foi que o risco da carteira de empréstimos não era devidamente contrabalançado por meio de reservas, tampouco eram divulgados de maneira adequada, e é possível até mesmo que não fossem conhecidos dos gerentes — sobretudo de gerentes excessivamente confiantes. O resultado em ambos os casos foram prejuízos inesperados no momento em que os tomadores deixaram de pagar o que deviam.

A decisão de não relatar a mudança das políticas de crédito da Gateway não foi, ao que tudo indica, um equívoco palpável inicialmente, quando o programa ainda era modesto, porém deixar de fazê-lo depois que o programa tomou vulto tornou-se um ato fraudulento de acordo com as regras da SEC. As autoras observam que uma explicação possível para o caso da Gateway seria o excesso de otimismo dos gerentes em relação às perspectivas da empresa. Eles não previram, quando introduziram o programa, que teriam de ampliá-lo exageradamente para satisfazer metas futuras. Se tivessem previsto, talvez jamais o teriam posto em prática.

As autoras exploram a relação entre confiança dos executivos e variáveis de fraude na indústria, na empresa e no plano individual. Foi constatado que a fraude costuma ocorrer com mais freqüência em indústrias complexas e em rápido crescimento, como as companhias de tecnologia. Schrand observa que a variável mais importante nas fraudes ocorridas em indústrias específicas diz respeito à alta volatilidade do retorno proporcionado pelas ações.

“A amostra revelou a existência de clusters em indústrias de risco marcadas pelo dinamismo e com altas taxas de crescimento sujeitas também a riscos idiossincráticos significativos”, informa o estudo. “A literatura de gestão mostra que tais indústrias têm grande apelo sobre executivos extremamente confiantes.” Schrand, porém, reconhece que essas indústrias podem também comportar um número maior de fraudes, uma vez que os incentivos para a perpetração do ato fraudulento são maiores, ou talvez porque seja mais fácil cometê-lo.

Como prova adicional, as pesquisadoras analisaram as características da empresa e dos indivíduos para mensurar o efeito do excesso de confiança no ato fraudulento. Para avaliar as tendências, o estudo comparou empresas que haviam sido identificadas pela SEC como culpadas de comportamento fraudulento comparando-as com amostras de empresas de tamanho semelhante e do mesmo segmento industrial, mas que não haviam sido punidas pela SEC.


Premeditado x acidental

Ao analisar os dados da SEC, as pesquisadoras identificaram dois tipos de fraude. Um deles é objetivo, premeditado ou “oportunista”. O outro é ingênuo, quase acidental e que se enquadra na idéia das autoras segundo a qual os executivos que se acham em situação difícil estão mais inclinados a recorrer à fraude para acobertar a manipulação de lucros de menor monta em períodos anteriores.

Schrand reconhece que muitos executivos na mesma posição não se deixam envolver por esse tipo de problema. “É verdade que alguns preferem não tomar esse rumo”, explica. Esses gerentes tomam uma decisão racional e sabem perfeitamente que se maquiarem os lucros da empresa estarão incorrendo em fraude, o que pode resultar em penalidades. Schrand diz que pode ter havido fraude em alguma das empresas cotejadas, mas jamais chegou a um nível tal que pudesse ser detectada pela SEC, talvez porque o excesso de confiança dos gerentes tenha tido um desfecho positivo e um problema temporário qualquer tenha se resolvido por conta própria.

Para entender melhor essas empresas, Schrand está analisando atualmente as correções dos lucros declarados. Essas empresas, a exemplo das companhias que praticaram fraudes, manipularam com sucesso os lucros obtidos durante algum tempo, mas não insistiram no padrão. No momento em que o executivo se viu diante de uma situação em que deveria se comportar de forma desonesta para acobertar a manipulação de lucros em “áreas cinzentas” anteriores, ou a manipulação de pequenos montantes, ele decidiu não entrar por esse caminho. Em vez disso, reconheceu que manipulara ganhos passados e, em seguida, corrigiu os valores. Seu comportamento nunca ganhou escala a ponto de se tornar fraudulento. “É nesse ponto que ainda temos de analisar mais profundamente os dados de que dispomos. Pode ser que alguns executivos tenham preferido confessar a manipulação de quantias menores a cometer uma fraude, e que a SEC tenha decidido não penalizar as empresas que admitiram ter cometido ilícitos menores, evitando, assim, puni-las.”

No que se refere à empresa, diz ela, a pesquisa se detém na avaliação de outras decisões tomadas por empresas pegas na prática de fraudes — analisando, inclusive, sua política de dividendos, estrutura de capital e estratégia fiscal — e que também se acham relacionadas ao excesso de confiança do executivo. Se confiança em excesso explica a existência de fraude, disso se segue que as empresas em que houve fraudes devem ter tomado outras decisões em sintonia com essa confiança excessiva. Schrand cita como exemplo o fato de que essas empresas tendem também a pagar dividendos menores, ou nenhum dividendo, quando comparadas a empresas similares. “Essa descoberta está de acordo com as provas levantadas a respeito de executivos superconfiantes e a política de dividendos da empresa. A idéia é que executivos exageradamente confiantes acreditam ter algo melhor a fazer com o dinheiro do que pagar dividendos”, diz Schrand.


Quando se avaliam as características individuais de executivos mais inclinados a cometer fraudes, a análise não se revela muito convincente do ponto de vista estatístico, adverte Schrand. A literatura psicológica aponta as características individuais relacionadas ao excesso de confiança — como, por exemplo, a dedicação a um determinado projeto —, bem como as características do indivíduo que toma decisões com base em sua experiência de sucessos passados, seu grau de instrução, desempenho no serviço militar levando em conta também até mesmo traços elementares, como o sexo da pessoa. (Todos os executivos da amostra, com exceção de um apenas, pertenciam ao sexo masculino). As autoras assinalam que os estudos psicológicos mostram que os homens têm nível de confiança mais elevado do que as mulheres, porém não se sabe se isso se deve a um elo biológico ou à experiência desses profissionais. É difícil mensurar os atributos de cada executivo. Conforme adverte o estudo, os resultados são apenas descritivos.

As autoras analisaram ainda o papel da governança corporativa como instrumento de alteração da relação entre excesso de confiança e fraude. Não foram constatadas diferenças significativas entre empresas fraudulentas e a amostra para cotejo no que diz respeito às características de governança normalmente estudadas como, por exemplo, propriedade em bloco, tamanho e composição da diretoria. O estudo informa que os resultados obtidos mostram que os executivos de empresas fraudulentas demonstram um excesso de confiança maior do que os executivos de empresas onde não houve fraude, e que não havia governança corporativa instituída naquelas empresas para combater a tendência à fraude. Schrand acrescenta que esse resultado está de acordo com a conclusão de que os executivos de empresas fraudulentas são diferentes. O resultado apurado contraria a idéia de que os executivos são todos excessivamente confiantes e que as empresas não-fraudulentas simplesmente trabalhavam com controles melhores para impor-lhes freios.

Como o excesso de confiança pode resultar em decisões ruins em circunstâncias específicas, não se deve, por causa disso, tomá-la como elemento único, tampouco principal na hora de avaliar um executivo, diz Schrand, acrescentando que um número cada vez maior de estudos indica que líderes confiantes e otimistas podem tomar decisões consideradas ruins em certas circunstâncias; porém, acima de tudo, todos dispõem de qualidades das quais qualquer empresa necessita para ser bem-sucedida. “Uma vez que a empresa, ao contratar quem quer que seja, o faz de forma holística, é bem possível que deseje alguém que apresente tais tendências. Contudo, é preciso reconhecer que o excesso de confiança, cujos aspectos positivos são inegáveis, apresenta também pontos negativos.”


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