Trago-lhes mais um texto do Mestre Maçon Luiz Gonzaga da Rocha (clique no link), eminente irmão da Loja do Aleijadinho do Grande Oriente do Distrito Federal. Intelectual, escritor de vários livros e artigos maçônicos, Luiz Gonzaga é uma das luzes que brilham na maçonaria de Brasília e do Brasil. Muito me envaidece ser irmão na Ordem e de Loja.
Mas não é por isso que apresento mais um texto de sua lavra. Além de se dispor a colaborar com a Oficina de Gerência (mantenho, no blog, a tag "Maçonaria" para os temas que possam ser do interesse dos visitantes e leitores leigos) Luiz Gonzaga da Rocha é um mestre no manejo das palavras e dos assuntos sobre os quais escreve.
O artigo que lhes trago é de um antigo texto (junho de 2005), escrito por ele para o blog Asceta 33, mas cujo tema é sempre fascinante: Alquimia.
Quem se der ao trabalho de ler todo o material escrito vai se surpreender com algumas revelações que Luiz Gonzaga - autorizado por suas luzes - fez sobre segredos dos alquimistas. Além do mais ele nos passa interessantes reflexões sobre a alquimia aplicada às nossas próprias vidas. Alguns trechos lhes parecerão incompreensíveis, mas fazem parte dessa aura misteriosa que cerca os alquimistas e seus estudiosos; e Luiz Gonzaga é um deles...
Só para despertar a sua curiosidade, transcrevo um pequeno trecho:
[...] "Antes de comunicar o grande segredo do conhecimento alquímico espiritual, desejo que analise e considere as palavras de Artephius endereçadas aos que procuravam a Pedra Filosofal. Disse ele: “Pobre idiota! Seria tu bastante simples para creres que vamos ensinar-te aberta e claramente o maior e o mais importante dos segredos, e tomar nossas palavras ao pé da letra?” Analise as palavras de Nicolas Flamel: “Eu te revelo que a nossa arte só é revelada pelo esforço e é cheia de mistérios e tu, pobre idiota, és tão crédulo que chegas a pensar que nós ensinaríamos aberta e claramente o mais importante e maior de todos os segredos, caso tomes ao pé da letra nossas palavras”." [...]
O Ouro dos Alquimistas
(por Luiz Gonzaga da Rocha)
São descritos como aqueles indivíduos que, através de complicadas operações alquímicas, transmutavam metais inferiores em ouro e prata. O propósito fundamental da alquimia era produzir ou encontrar a Pedra Filosofal, mais conhecida como elixir da longa vida, pó de projeção e tintura, e também referenciada como a antiqüíssima, a secreta ou desconhecida, natural, incompreensível, celestial, abençoada, e Sagrada Pedra dos Sábios, e, ainda, distinguida com outras denominações. A prova da posse da Pedra Filosofal era a capacidade do alquimista em transformar um metal grosseiro em ouro ou prata, ou seja, criar o ouro e a prata por meios artificiais. A transmutação de um metal qualquer em ouro ou prata era visto como marca de sucesso, mas o poder transformador residia na Pedra Filosofal, propriamente dita, que era o verdadeiro agente da transmutação material.
A grande arte do alquimista era, portanto, ativar um processo que transformaria uma primeira substância ou matéria-prima na Pedra Filosofal, e com a sua posse estaria apto a realizar a Magnum Opus [Grande Obra]. A tradição alquímica e a metalurgia sagrada estão repletas de exemplos e de explicações sobre as conquistas desses feitos gloriosos, contudo, o segredo da arte transmutatória jamais foi revelado publicamente. Sem sombras de dúvidas, os alquimistas que descobriram ou conheceram a famosa Pedra foram unânimes em guardar o segredo da chave iniciática com o selo do silêncio, e os muitos textos que foram escritos estavam [e ainda estão] permeados de contradições e termos obscuros, quando não repletos de declarações enigmáticas, enloquecedoras referências e segredos irreveláveis, ao que parece, para levar os adeptos a um grau mais além, ou para confundir totalmente àqueles que estavam abaixo do nível para o qual o texto foi escrito. Observe a fundamentação exposta por Michel Sendivogius, um dos que, sabidamente, realizou a Grande Obra: “É pedra e não é pedra; é chamada pedra por sua semelhança; primeiramente, porque seu minério é verdadeiramente pedra no princípio, quando é tirada das cavernas da terra: é matéria dura e seca que pode reduzir-se a pequenas partes e que se pode esmagar à maneira de uma pedra. Segundo que, depois da destruição de sua forma, que não é senão enxofre fétido, que é preciso antes tirar-lhe e, depois da destruição destas partes, que haviam sido composta e unidas pela natureza, é necessário reduzi-la a uma essência única, cozendo-a docemente segundo a natureza em uma pedra incombustível, resistente ao fogo e fusível como cera; o que ela não pode fazer senão retornando à sua universidade” [Michel Sendivogius, in A Nova Luz Química].
Assim, a Pedra Filosofal, nunca teve a sua verdadeira natureza revelada por nenhum dos alquimistas. Ela foi descrita como sendo a verdade, mais certa do que a própria certeza; o arcano de todos os arcanos; a virtude e eficácia divinas, que são ocultas dos tolos; a meta e o fim de todas as coisas sob o céu; o maravilhoso epílogo de conclusão de todos os labores dos sábios; a essência perfeita de todos os elementos; o corpo indestrutível que nenhum elemento pode ferir; a quintessência; o duplo e o vivo mercúrio que tem em si próprio o espírito celestial; a cura para todos os metais defeituosos e imperfeitos; a luz perpétua; a panacéia para todas as doenças; a gloriosa Fênix; o mais precioso de todos os tesouros; e o principal bem da Natureza, dentre outros qualificativos. O seu poder não era somente de ser um agente de transformação nos reinos físicos, mas também no reino espiritual, e o ouro produzido era mais que um simples metal, era, em verdade, um princípio filosófico: um poder que o verdadeiro Alquimista reconhecia e procurava representar como matéria-prima da sua arte.
A Grande Revelação
O termo alquimia originou-se do árabe ul-khemi, significando química da natureza ou ciência da natureza, e essa química ou ciência pode ser compreendida sob dois aspectos distintos: o terrestre e o espiritual. No aspecto terrestre ou material, o alquimista visava, tão somente, a transmutação de metais grosseiros em ouro ou prata, por um processo de enobrecimento do material inferior em consonância com as energias-astrais, o que implicava na dominação e controle do ciclo transmutatório: ferro-cobre-chumbo-estanho-mercúrio-prata-ouro. No aspecto espiritual, o objetivo visado era a transmutação do próprio alquimista, ou seja, o ciclo ferro-cobre-chumbo-estanho-mercúrio de sua personalidade é que sofreria mudanças radicais no crisol das experiências alquímicas até transformar-se no puro ouro espiritual. Neste contexto, o grande laboratório alquímico é o próprio Homem. Este artigo dedica-se, exclusivamente, à Alquimia Espiritual.
Antes de comunicar o grande segredo do conhecimento alquímico espiritual, desejo que analise e considere as palavras de Artephius endereçadas aos que procuravam a Pedra Filosofal. Disse ele: “Pobre idiota! Seria tu bastante simples para creres que vamos ensinar-te aberta e claramente o maior e o mais importante dos segredos, e tomar nossas palavras ao pé da letra?” Analise as palavras de Nicolas Flamel: “Eu te revelo que a nossa arte só é revelada pelo esforço e é cheia de mistérios e tu, pobre idiota, és tão crédulo que chegas a pensar que nós ensinaríamos aberta e claramente o mais importante e maior de todos os segredos, caso tomes ao pé da letra nossas palavras”. Considere e analise, agora, as palavras do Mestre Ascenso Saint Germain – o Hierarca da Era de Aquário: “O significado espiritual de alquimia é, simplesmente, composição do todo [all-composition], termo que pressupõe a existência duma relação entre o todo da criação e as partes que o compõem. Quando devidamente compreendida, a alquimia trata, portanto, do poder consciente de controlar mutações e transmutação no seio da matéria e da energia, e até dentro da própria vida”. Por fim, vejam as minhas palavras, escritas há cerca de três transcorridos anos, quando discorri sobre Nicolas Flamel para os leitores do Jornal Egrégora: “Não seja idiota em tentar descobrir letra por letra e palavra por palavra o conteúdo dos textos alquímicos. Lembre-se, antes, que o estudo ao pé da letra mata, enquanto que o espírito e a reflexão vivificam”. Naquele artigo fiz a revelação que reproduzirei agora, mas à época, a mesma verdade foi apresentada da seguinte forma: A Pedra da Alquimia é 5 [9+5+4+5 = 23 = 5], o fogo secreto é 8 [5+4+5+8+7+9+1 = 39 = 12 = 3 + 9+5+4+2+1+2 = 23 = 5, e 3+5 = 8], e a matéria única e principal da Grande Obra é 8 [9+5+3+5+4 = 26 = 8]. De fato, agora entendo tratar-se de uma revelação incompreensível e que nada revelou.
Para fazê-lo coerentemente, hoje, declaro que estou movido por outros sentimentos e, devidamente autorizado, revelo o grande segredo procurado por muitos sábios e, quem tiver olhos para ver, que veja os números e as letras da Alquimia Espiritual:
A Pedra Filosofal da Alquimia Espiritual é o sexo e o seu número é 5; o fogo secreto é a energia sexual e o seu número é 8; e a matéria única e principal da Grande Obra é o sêmen e o seu número é 8. Nestes exatos termos, a matéria-prima da Alquimia Espiritual é a energia seminal masculina e feminina combinados; o sal, o enxofre e o mercúrio; o Sol e a Lua no dizer dos alquimistas. O sêmen é o Mercúrio dos Mercúrios, que é a mesma água-viva contida nas glândulas sexuais e a Água Celestial mencionada nos vários Livros Bíblicos [v. Gn. I:1-2; Sl 23:1-6 e 104:3-6; Jr. 17:13 e Ap. XXII:1 e 17].
Sei que esse espaço é por demais exíguo para tratar com mais acuidade desse tema, mas não posso deixar de lembrar, ainda que de passagem, a maravilhosa Canção de Salomão [Cântico dos Cânticos], na minha concepção, um dos mais gloriosos poemas de amor escritos e com muitas informações sobre a alquimia espiritual e magia sexual oculta nas entrelinhas, principalmente onde Salomão exclama: “Quoe est illa quoe procedit sicut aurora consurgens, innixa super sponsum?” [Quem é aquela que surge qual aurora sobre seu esposo?].
Como já se disse alhures, “a pedra que os construtores rejeitaram” [Sl. 118: 22]; o ingrediente misterioso do universo, comum a todos os seres humanos; a magnésia universal fartamente manuseada por ricos e pobres todos os dias, a matéria encontrada no campo, na aldeia, na cidade, e em todas as coisas criadas por Deus; o Coagula e Solve; o Aleph da Cabala; o Alkaest dos Filósofos; a Força Kundalínica; a Água da Vida que mata toda a sede [e quem bebe dessa água jamais voltará a ter sede] é o presente de Deus aos homens, e o amor é a base desse presente Divino, constituindo a ascensão da mulher a satisfação maior desse amor. A energia sexual é a mais poderosa e sutil força que o organismo humano produz. Este é o resultado do sexo praticado corretamente e de acordo com a Lei. Aquele que não conseguir entender assim só conseguirá encher a cabeça de palavras, signos e alegorias extravagantes.
Irmão! É necessário aprender a ver além das simples aparências, além da ilusão e da articulação das palavras, então e só então a Alquimia se apresenta não como simples arte ou ciência que ensina a realizar a transmutação de metais inferiores em metais nobres, mas como uma ciência sólida e verdadeira que ensina a conhecer o centro de todas as coisas, o que na linguagem esotérica se denomina “O Sopro Divino” que está presente na raiz da “Consciência do Eu”, onde cada parte é parte de um todo.
A título meramente ilustrativo reproduzo um relato de Eliphas Levi a propósito da harmonia do binário homem-mulher, o binário perfeito, onde a realização criadora do equilíbrio universal, a manifestação de toda idéia por toda forma e a identificação dos sexos se faz presente em um casamento verdadeiramente indissolúvel. O relato diz que, um dia, Cristo interrogado sobre a época de seu reino respondeu através destas misteriosas palavras: “Quando dois forem um, quando o que é interior for exterior e quando o homem com a mulher não forem mais nem homem nem mulher”. Este oráculo do Mestre não se encontra nos Evangelhos; mas ele é relatado por um dos escritores apostólicos: o papa São Clemente [Eliphas Levi, in Curso de Filosofia Oculta, 1984, pág. 61]; ou seja, Eliphas Levi conhecia este segredo mas evitou pronunciá-lo. Outro relato muito interessante de Eliphas Levi é o que narra uma das parábolas mais misteriosas do Mestre Jesus sobre “as dez virgens: cinco sábias e cinco loucas”, mas esta ficará para outra oportunidade.
O Triunfo Hermético
A meu juízo, o triunfo hermético consiste não no sucesso da transmutação de metais grosseiros em ouro e prata, por um processo de enobrecimento do material, mas na transmutação do próprio alquimista, ou seja, na transmutação dos metais grosseiros da personalidade no crisol das experiências pessoais até transformar-se no puro ouro do espírito. Tenho comigo que a Unidade de Deus se manifesta e se resume na unidade do homem e que Deus completa o homem pela mulher. Tenho comigo, ainda, que Deus, o Grande Alquimista do Universo, ao nos criar à Sua imagem e semelhança, colocou dentro de cada ser humano um grande laboratório alquímico, o maior e mais completo laboratório que se possa conceber, para que a encarnação Deus-homem, homem-Deus se realize na perfeição da harmonia homem-mulher. E, não é sem razão que a Flâmula Alquímica traga como divisa a célebre frase por demais conhecida dos maçons e dos rosa-cruzes – V.I.T.R.I.O.L. - como iniciais da fórmula iniciatória. A expressão Vitriol ou Vitríolo, traduzido como “Visitetis Interiora Terrae Rectificando Invenietis Occultum Lapidem, Veram Medicinam”, ou seja, “Visita o interior da Terra e por retificação descobrirás a Pedra oculta, Verdadeira Medicina”, explicada assim por Basílio Valentim: “Percorre as entranhas do corpo humano, e rectificando encontrarás [a pedra oculta] o conhecimento de si mesmo e o conhecimento do mundo”. A relação pode parecer meio forçada, mas um estudo mais amoroso poderá revelar outras interpretações muito interessantes.
Meu Irmão! Com letras e números revelei o segredo da alquimia espiritual, o segredo dos dois Mercúrios que contêm as duas tinturas, a matéria-prima da Magnum Opus. Assim, o oculto se tornou manifesto, entrementes, declaro, para conhecimento público, que a este segredo tive acesso muito recentemente. A descoberta mudou significativamente minha vida e minha visão de mundo, e espero que possa emprestar novo significado à Sua, mas devo declarar, por dever de consciência, que outros já revelaram este segredo a seu modo e com outras palavras, mas o que o fez diretamente e com todas as letras foi Sérgio de Souza Carvalho, em sua obra “Tratado de Alquimia Gnóstica”, com o consentimento e autorização de membros da Grande Fraternidade Branca. O alquimista Alexandre Sethon, o Cosmopolita, por exemplo, já havia feito esta revelação de forma muito espirituosa, por engenhosa alegoria, quando discorreu sobre a purificação e a animação do Mercúrio: “hoc fiet” disse ele, “si seni nostro aurum et argentum deglutire dabis, ut ipse consumat illa, et tandem ille etiam moriturus comburatur”. Terminando por descrever o magistério nesses termos: “cinare ejus spargantur in aquam, coquito eam donec satis est, et habes medicinam curan di lepram”. O mesmo Cosmopolita disse que o Mercúrio é a sua “água”, à qual denominou “aço e ímã”, e acrescentou, para maior confirmação do que acabo de revelar através de operações literais e numéricas redutivas: “Si undecies coit aurum cum eo, emittit suum semen, et debilitatur fere ad mortem usque; concipir chalybs, et generat filum patre clariorem”. E por aqui encerro minhas revelações herméticas.
Conclusão
Meu Irmão, bem sei que você pode não acreditar no que acaba de ler, mas tudo ficará claro se bem refletires. Não quero e não devo forçar a superação dessa barreira espiritual pessoal. Entrementes, sei que os verdadeiros alquimistas e filósofos não desprezaram levianamente esta revelação importante da Divina Energia Criadora no Homem. E, para encerrar este articulado, almejo que entenda que somos filhos Deus, a Quem denominamos Grande Arquiteto do Universo, e que somos, como Ele, Sementeiras Divinas. E lembre-se! Entenderemos melhor o mundo quando entendermos a nós mesmos. Por fim, observe, quando tiver oportunidade, o Símbolo da Pedra Filosofal."
Bibliografia Selecionada
Tratado de Alquimia Gnóstica [Sergio de Souza Carvalho, Sol Nascente, São Paulo, s/d]; O Livro das Figuras Hieroglíficas [Nicolas Flamel, ed. Três, Biblioteca Planeta, vol. 16, Rio de Janeiro, 1973]; O Tesouro dos Alquimistas [Jacques Sodoul, ed. Hemus, São Paulo, 1970]; O Triunfo Hermético [Limojon de Saint-Didier, ed. L’Oren, São Paulo, 1972]; A Alquimia e seus Mistérios [Cherry Gilchrist, ed. Ibrasa, São Paulo, 1988]; A Tradição Hermética [Serge Hutin, ed. Pensamento, São Paulo, 1979]. Iniciação à Alquimia [Alberto Magno, ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2000].
*Luiz Gonzaga da Rocha – historiador. Presidente da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal; Membro da Academia de Letras, Ciências e Artes Maçônicas do Brasil e do CERAT. Críticas e sugestões: luizgros@brturbo.com.br.
NOTA: Permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte.
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