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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Entenda, com Stephem Kanitz, a origem da crise mundial.


Li e pesquisei, bastante, notícias e artigos de vários colunistas para procurar entender o que está acontecendo no mundo com esta crise que assusta o planeta e provoca tantas mudanças nas vidas de todos nós.

Até me arrisquei a emitir uma despretensiosa opinião (de leigo, claro) a respeito da crise, mas ainda não havia encontrado um artigo mais profissional que me fizesse entender direito - em linguagem menos técnica - como tudo começou e o que vai acontecer. Stephen Kanitz conseguiu (pelo menos para meu entendimento).Para quem esteja interessado em se informar bem, recomendo ler o texto até o final. Kanitz dispensa apresentações.

Este artigo foi recebido por e-mail e enviado aos assinantes dos seus boletins, entre os quais me incluo. É só visitar o site dele e cadastrar-se. Leio tudo que ele escreve. É um dos colunistas mais inteligentes, claros e antenados existentes na atualidade.

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(clique na imagem)

A Recessão Deverá Ser Curta

Como queda de avião, o colapso de um sistema financeiro mundial tem várias causas complexas, por isto o diagnóstico é tão complicado.
“Foi o piloto!” (Bush),“Foi o avião!” (o capitalismo),“Foi o combustível!” (a ganância dos bancos),“Foi o motor!” (a alavancagem do sistema),“Foi a comida!” (os bônus dos gestores). São análises simplistas.
O mecanismo de segurança, o Banco Central com cláusula de independência, fracassou apesar da promessa de Ben Bernanke ao seu mentor Milton Friedman, de que isto jamais iria de novo acontecer.

I would like to say to Milton and Anna: Regarding the Great Depression. You're right, we did it. We're very sorry. But thanks to you, we won't do it again.” Ben Bernanke ("Gostaria de dizer ao Milton e Anna: No que diz respeito à Grande Depressão. Vocês têm razão, nós conseguimos. Estamos muito arrependidos. Mas graças a vocês, não vamos fazê-lo novamente." Ben Bernanke)

Mas a questão crucial é descobrir a primeira causa, que foi piorando sem ser detectada. Quem não descobrir a verdadeira causa, jamais descobrirá a solução.
O motor desta crise, a causa principal, foi criado pelo Legislativo Americano em 1913 que permite deduzir da renda tributável, os juros da compra da casa própria - da casa de campo e até de um veleiro. Até o limite de 1 milhão de dólares de dívida.
Mais importante: é dedutível somente se for uma dívida.

“Mortgage interest is tax deductible only if the debt you acquire is secured debt - meaning your home is pledged as collateral on the debt.” ("Juros das hipotecas são dedutíveis apenas se você adquirir o bem e a dívida estiver segurada" - o que significa que seu lar é prometido como garantia da dívida.")

A juros de 6,0% um americano pode abater US$ 60.000,00 de sua renda tributável de US$ 200.000,00, por exemplo, e pagar imposto de renda somente sobre US$ 140.000,00. Um caso concreto.
Multiplique por 30 anos, e você abate US$ 1.800.000,00 de sua renda de uma compra de US$ 1.000.000,00 a prazo. A conta não é exatamente correta, mas é o que muito americano faz.
É uma política econômica criada pelo governo que distorce o livre mercado, de cunho Keynesiano a favor do pleno emprego, e Chicago a favor da propriedade como fator estabilizador da democracia.
Uma política econômica que tem as seguintes conseqüências:

1. Estimula o super endividamento do todo o povo americano. Quanto maior a sua dívida imobiliária, maior será o seu subsídio de juros dedutíveis. Por isto, os americanos se endividam até o teto na área imobiliária. Você faria o mesmo.

“There are no cows more sacred in the tax code than the deductions for mortgage interest and property taxes. Together, they add up to at least a $75 billion annual subsidy for housing and homeowners.” New York Times ("Não há vacas mais sagradas no código das taxações do que as deduções fiscais para hipoteca de juros e impostos sobre propriedade. Juntos, eles consomem, pelo menos, um subsídio anual de até $ 75 bilhões para habitação e imóveis. "New York Times)

O incentivo de US$ 75 bilhões por ano ao longo de 30 anos do mortgage, equivale a um subsídio total US$ 2.3 trilhões, ou 20% do valor da dívida imobiliária americana. Quando se compra imóvel, 20% é pago pelo governo.
Casa comprada à vista não tem subsídio. Um absurdo econômico monumental, em vez de subsidiar os insumos da casa, ou outras formas de barateá-las.

2. Uma política econômica inflacionária que estimula a super produção. Estimula a procura de casas com o mínimo de entrada, e o máximo de dívida.

3. O imposto de renda americano permite deduzir 100% do juro nominal o que equivale a 200%, a 300% do juro real. Ou seja, parte da amortização da casa é dedutível, outro absurdo monumental.
Você gostaria de morar numa casa sem pagar aluguel? Você aceitaria morar numa casa sem pagar juros?

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4. Quando se usa o juro nominal, a prestação não é corrigida. Pelo contrário, é corroída ano após ano.
Paga-se uma prestação elevada no início, tipo US$ 800,00 por mês, e no final de 30 anos uma prestação totalmente corroída pela inflação, tipo US$ 200,00, um erro monumental.
Paga-se muito quando se é jovem e pobre e paga-se pouco quando você é mais velho e ganha muito mais. Daí decorrem os elevados índices de inadimplência.

5. Como os americanos usam o método de Tabela Price, prestação constante e não amortização constante, a parcela de juros nas primeiras prestações é quase 90% juros, totalmente dedutíveis e vai caindo ao longo dos anos.

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Fonte: National Association of Home Builders

Por isto, não é verdade que os pobres estavam “perdendo” suas casas para bancos sem escrúpulos. Os primeiros anos de prestação eram 90% juros e somente 10% “casa”. Tem contratos com “interest only” e sem entrada.

6. Como a inflação corrói anualmente a prestação mas aumenta o valor da casa, de tempos em tempos o americano implora do Banco uma segunda e terceira hipoteca, única forma de continuar a farra da dedução dos juros nominais do imposto de renda.
Americano usa esta segunda hipoteca para comprar carro com juro e amortização subsidiados. Se comprasse direto não teria juros dedutíveis.
Como é possível que nenhum colunista do Financial Times, Wall Street Journal ou Prêmio “Nobel” perceba este motor diabólico da economia americana? A maioria deve viver em casas alugadas de suas universidades.

Por que a Recessão Será Curta?
Porque nenhum americano percebeu a verdadeira causa, e ela continuará a vigorar. Ninguém irá tirar este subsídio, nem se pensa nisto.
Daqui a seis meses, ou menos, os americanos continuarão a querer desfrutar desta farra fiscal, notadamente os 1,5 milhões de americanos que irão se casar em 2009, mais os 200.000 que irão comprar casas de veraneios e os 300.000 que irão se separar. Total 2 milhões de casas, contra 737.000 atualmente em construção, a passos lentos. O estoque de casas vazias é de 300.000 a 400.000.
E mais. Hoje, o juro real é negativo, as casas estão 16% mais baratas, mas não por muito tempo. As casas voltarão ao preço inicial, ajudando os bancos pendurados.
Os Estados Unidos têm uma população ainda em franco crescimento, ao contrário da Europa e Japão. E com este incentivo fiscal, quem irá deixar de comprar uma casa barata, com tudo dedutível?
A única informação que falta, é deixar de acreditar que o mercado imobiliário ainda está em queda livre. Assim que perceberem que os preços dos imóveis pararam de cair, a recessão terminará imediatamente.
E obviamente, faltará financiamento. Mas isto se resolve com um único ato administrativo governamental.
Há 20 anos escrevo que os Acordos da Basiléia, ratificados pelo Brasil - bancos somente podem emprestar 12 vezes seu capital corroído pela inflação - foi o que lentamente destruiu os bancos comerciais e permitiu o crescimento dos bancos de investimento (sem regulamentação).
Por isto, os bancos americanos travaram. Não podem expandir crédito, pelo contrário, precisam contrair crédito (12 x a inflação de 2008), uma vez que não tiveram lucro no ano que poderiam contrabalançar este regulamento.
Basta mudar este acordo anacrônico, permitindo que os bancos corrijam seu patrimônio congelado há mais de 40 anos, em média.

Por que o problema imobiliário se alastrou e se auto-detonou?
Uma única questão deve estar na mente do leitor, porque um problema que sempre existiu só agora se alastrou.

1. Porque em 2000, 2001, 2002, o FED imprimiu um juro real negativo. O termo confunde as pessoas, porque negativo significa que você recebe juros em vez de pagar juros.
A partir de 2000, para cada US$ 100.000,00 de dívida imobiliária você recebia US$ 2.500,00 por ano, depois do IR, em vez de pagar US$ 2.500,00 de juro por ano ao banco. Inacreditável! Joe Garcia entende de economia muito mais do que Milton Friedman e Ben Bernanke.
E ainda se abate o juro nominal do imposto de renda como despesa dedutível, quando na realidade o governo lhe deu uma receita fiscal. Isto incentivou ainda mais os americanos, especialmente os de renda mais baixa, a procurar bancos e tomar empréstimos hipotecários.

2. Em 1999, o governo Clinton pressiona a Fannie Mae para dar mais empréstimos à população de baixa renda.


3. E para finalizar o desastre, a lei americana, como aqui, permite ao tomador de empréstimo imobiliário devolver a casa se o valor dela for menor do que o empréstimo, sem ter que arcar com os 28 anos de pagamentos restantes.
Se nada disto for escrito nos livros de história, teremos a repetição desta crise, mais regulamentação com regras equivocadas “corroídas pela inflação”, mais poderes para o Banco Central, e daqui a 50 anos vão dizer “we are sorry”.
Os verdadeiros culpados desta crise não foram o livre mercado, os bancos, o lucro, a ganância. Foi uma política econômica de incentivo à moradia que distorceu o mercado, dando incentivos absurdamente elevados (juro nominal) de forma equivocada (via endividamento) e os economistas de todas as escolas estão nos confundindo acusando os outros.
Os inocentes que serão presos e declarados culpados poderão ser vocês, e poderemos ter mais uma crise destas no futuro."

Stephen Kanitz

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