Acreditar que exista uma fórmula para ser o número 1 da empresa - o lá, no caso deste artigo - é mais ou menos como acreditar que você pode emagrecer sem fazer regime, ou que existe um curso que pode transformá-lo num Mozart em sete lições. Sim, mas há pelo menos uma grande coisa em comum entre o sucesso profissional e conseguir o peso ideal - ambos dependem de você se comportar bem.
É isso que o consultor de marketing americano Jeffrey J. Fox tenta ensinar em seu livro How To Become a CEO (Como Se Tornar Executivo-chefe), da editora Hyperion. O livro - que deve ser lançado no Brasil pela editora Campus, em abril - é uma coleção de 75 conselhos práticos para fazer você chegar lá. Por trás desses conselhos (Fox já está trabalhando em outros, para lançar o volume 2 de seu livro; ou seja, falta de conselho não será o problema), há algumas linhas mestras de bom comportamento, segundo ele essenciais para o sucesso profissional, que não são ensinadas em nenhum curso de administração.
Êpa! Não estaríamos chegando perigosamente perto do tal curso em sete lições? O que esse tipo de conversa está fazendo numa revista responsável como VOCÊ S.A.? Sossegue. Honestamente, VOCÊ S.A. não poderia recomendar a fórmula de mister. Fox sem testá-la. Tratamos, portanto, de trabalhar nela. A primeira idéia foi arrumar voluntários que seguissem as regras e esperar 25 anos para saber se a receita daria certo e, em quantos casos, até que ponto. Mas como o mercado editorial, hoje em dia, é de uma impaciência atroz, não dispúnhamos de 25 anos. Decidimos então consultar um time de presidentes de empresa e comparar a receita de Fox com os caminhos que cada um seguiu.
Falamos com 11 presidentes que dirigem grandes companhias nacionais, americanas e européias, de vários setores, gente que tem formação diversa, idade entre 39 e 62 anos e, claro, opiniões e vivências muito diferentes umas das outras. Com tanta disparidade, aliada às diferenças culturais entre Brasil e Estados Unidos, é natural que não tenha sobrado muita unanimidade (para falar a verdade, quase nenhuma) em relação aos conselhos de Fox. Há de tudo: alguns conselhos que foram considerados fundamentais, alguns tachados de baboseira pura, outros considerados ótimos, mas que nunca foram seguidos por gente que atingiu o topo da carreira. O que vale muito para um presidente vale mais ou menos para outro e não vale nada para um terceiro (leia quadro na página 32).
Mesmo assim, ou exatamente por causa disso, as sugestões desses 11 profissionais que chegaram lá podem fornecer uma receita razoável para o bom desempenho profissional. Não uma fórmula de hábitos a seguir como um robô que tem um objetivo pré-programado, mas um conjunto de atitudes, de posturas. Mesmo quando as práticas são radicalmente diferentes, há elementos em comum que as norteiam - como a coerência, a ética, a competência. A idéia é a seguinte: o que você tem de fazer para chegar lá é o seu caminho, ninguém pode trilhá-lo por você. Não há fio de Ariadne nesse labirinto, não há confortáveis migalhas de pão no solo, marcando o caminho. Cada conselho que colhemos funciona como uma espécie de carta estelar, ou uma bússola: é um instrumento para ajudá-lo a achar o melhor caminho para você. (Por isso, antes de aplicar nossa fórmula, consulte a bula que publicamos junto com esta reportagem.)
(1) - Fique em forma. 90% dos executivos estão em más condições físicas, e você vai poder começar o trabalho mais cedo, parar menos e estar mais bem-disposto no fim do dia.
A maioria concorda. Amaury Olsen, da Tigre, costuma caminhar, andar de bicicleta, fazer esportes. "Um dia olhei para os meus diretores e percebi que nenhum deles estava em forma. Chamei um professor de educação física aqui para a sala de reuniões para fazer um programa de condicionamento, reeducação alimentar, tudo", diz. Já Carlos Salles, da Xerox, não vê relação nenhuma entre a forma física e a capacidade de mostrar resultados: "Desconfio muito de quem trabalha 15 horas por dia. Significa que é um péssimo gerente. A maior parte disso é só para se mostrar".
(2) - Nunca escreva uma mensagem mal-educada ou comprometedora.
Metade concorda. "Escreva a mensagem na hora, mas deixe para passar no dia seguinte", diz Ricardo Ferreira. Everaldo Santos não concorda. "Não pode ter sangue de barata. A pessoa tem que ser autêntica." Segundo Salles, você pode ser obrigado a mandar mensagens malcriadas, "até para marcar território". Na Microsoft, a prática é até institucionalizada, diz Mauro Muratorio: "Nós chamamos isso de flame-mail (mensagens-chama). Quando o negócio fica muito quente, aí é hora de parar de brigar por computador, ligar para o colega e marcar uma conversa". Augusto Pinto concorda: "Sempre que possível, não escreva. Converse. Na conversa, o tom diz tudo".
(3) - Não saia com a turma do escritório. Nunca beba com gente ligada à companhia. Não vá a festas do trabalho. Não fique amiguinho do chefe.
"Bobagem. Toda minha vida eu saí com o pessoal do escritório. E não era para beber refrigerante...", afirma Santos. "Quem não vai a festas do trabalho é um chato."
Por trás do conselho de Fox, há a mensagem "amigos, amigos, negócios à parte". Segundo o consultor americano, ter uma relação de amizade com o chefe ou um subordinado atrapalha a sua imagem de objetividade profissional. Ricardo Gonçalves concorda com Fox. "Nunca socialize com a companhia, sempre com indivíduos, desde que eles saibam separar uma coisa da outra. Você tem que tomar cuidado para manter sua independência." A maioria dos presidentes já se viu na incômoda situação de mandar amigos embora da companhia. "Mas você não pode gerir a sua carreira dizendo 'não vou ter amigos' ", afirma José Carlos Grubisich.
(4) - Não fume.
O fumante passa a impressão de estar mais preocupado consigo do que com a outra pessoa, o que atrapalha o relacionamento.
A maioria dos 11 presidentes consultados por VOCÊ S.A. nunca fumou e concorda que o cigarro é malvisto hoje pela sociedade. Dois deles, inclusive, teriam restrições quanto a contratar um fumante. Dois só pararam de fumar por problemas de saúde (um após cirurgia do coração, outro depois que o pai morreu de câncer). Dois acreditam que o hábito não tem a menor influência na vida profissional.
(5) - Evite a companhia de seus superiores quando viaja.
Passe o tempo da viagem profissional trabalhando, não tentando impressionar o chefe. Entre outras coisas, provavelmente você vai acabar obrigando o chefe a trabalhar mais do que pretendia.
Gonçalves concorda: "É a coisa mais chata do mundo. Você tem que tomar cuidado com o que fala, com o modo de se comportar. Se der uma olhadinha na aeromoça, o sujeito pode achar que você é um tarado..." Para Carlos Júlio, da Polaroid, "nada supera a autenticidade; não é preciso, assim, evitar o chefe". Além do mais, ele nunca trabalha no avião. "É um lugar tenso." Grubisich, da Rhodia, resume: "Não procure viajar com o chefe, mas não evite. Se você tem a oportunidade de mostrar um pouco mais quem você é, ótimo".
(6) - Em viagens, coma no quarto de hotel.
Já que você está longe de casa, aproveite todo o tempo para trabalhar.Sim, diz Nildemar Secches, da Perdigão. "Nunca alio turismo a negócios. Se o lugar for interessante, volto lá nas férias." Alcides Amaral, do Citibank, discorda: "Não importa onde você esteja, tem que arranjar um tempo para você. Mas em viagens a gente acaba trabalhando mais, sim". A receita de Júlio, da Polaroid, é trabalhar mais. "Mas não deixe de aproveitar museus, teatros, passeios que enriqueçam."
(7) - Não esconda problemas.
Quando eles aparecem, quem os apontou se sai bem, mesmo que tenha sido a causa da encrenca, e quem escondeu fica mal, mesmo que não tivesse nada a ver com a história.
Unanimidade. "Esta é uma dica séria", afirma Santos, da Alcan. "Não faz você virar presidente, mas evita que você seja cortado da lista."
(8) - Sempre dê mais do que foi pedido, entregue antes do previsto, com seu toque pessoal.
Outra unanimidade. "Essa, sim, faz de você um candidato a presidente", diz Santos.
(9) - Pague mais do que o seu pessoal merece.
Ganhando acima do que o mercado paga, eles vão produzir muito além do que você espera. Não há subordinado que não concorde com isso.
"Como exceder a expectativa do cliente se você não consegue exceder a expectativa do seu pessoal?", pergunta Amaral. "Mas não é fácil." Olsen diz que a filosofia da Tigre é pagar acima da média do mercado. Gonçalves discorda: "Se o funcionário tiver a percepção de que ganha mais do que merece, vai virar um puxa-saco". A receita de Muratorio é dar menos do que o funcionário gostaria de ganhar e fazer ele participar dos resultados.
(10) - Nunca entre em pânico nem perca a cabeça.
"Sim. Se dá para fazer isso é outra história", diz Gonçalves. "É difícil", afirma Ferreira. "Se tiver que perder a cabeça, perca. E aprenda", diz Muratorio.
NOTA - Clique aqui se lhe interessar conhecer o artigo no formato original.
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