Sobre a vida do autor, clique na sua imagem e vá à Wikipédia, em espanhol porque em português há pouquíssima informação sobre ele, infelizmente.
Para quem gosta de escrever e de ler - e ai pensei na (nossa) corporação dos bloggers, cada vez mais numerosa - é um verdadeiro mapa do tesouro. Em dez itens, de forma que só os grandes conseguem, Horácio Quiroga resumiu a arte da boa escrita, do texto inteligente, elegante e - principalmente - do respeito pelo leitor. É simplesmente maravilhoso.
Sabem o que fiz, tão logo o conheci? Imprimi (umas três cópias) e depois fiz composições de molduras e os coloquei nos locais onde trabalho no computador. Daqui a pouco, de tanto ler, já estarei com ele não só decorado, mas gravado no subconsciente. Quero transformar o decálogo em um hábito natural.
Muitos de vocês já devem conhecê-lo, mas vale a pena ler de novo. Quem não conhece, bem. Leia e deleite-se. É uma obra prima.
(clique na imagem e conheça o autor)
Decálogo do perfeito contista
I - Crê em um mestre - Poe, Maupassant, Kipling, Tchecov - como em Deus.
II - Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonhes alcançá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem ao menos perceber.
III - Resiste o quando puderes à imitação, mas imite se a demanda for demasiado forte. Mais que nenhuma outra coisa, o desenvolvimento da personalidade requer muita paciência.
IV - Tem fé cega não em tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua arte como à tua namorada, de todo o coração.
V - Não comeces a escrever sem saber desde a primeira linha aonde queres chegar. Em um conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.
VI - Se quiseres expressar com exatidão esta circunstância: "Desde o rio soprava o vento frio", não há na língua humana mais palavras que as apontadas para expressá-la. Uma vez dono de tuas palavras, não te preocupes em observar se apresentam consonância ou dissonância entre si.
VII - Não adjetives sem necessidade. Inúteis serão quantos apêndices coloridos aderires a um substantivo fraco. Se encontrares o perfeito, somente ele terá uma cor incomparável. Mas é preciso encontrá-lo.
VIII - Pega teus personagens pela mão e conduza-os firmemente até o fim, sem ver nada além do caminho que traçastes para eles. Não te distraias vendo o que a eles não importa ver. Não abuses do leitor. Um conto é um romance do qual se retirou as aparas. Tenha isso como uma verdade absoluta, ainda que não o seja.
IX - Não escrevas sob domínio da emoção. Deixe-a morrer e evoque-a em seguida. Se fores então capaz de revivê-la tal qual a sentiu, terás alcançado na arte a metade do caminho.
X - Não penses em teus amigos ao escrever, nem na impressão que causará tua história. Escreva como se teu relato não interessasse a mais ninguém senão ao pequeno mundo de teus personagens, dos quais poderias ter sido um. Não há outro modo de dar vida ao conto
HORACIO QUIROGA (1878-1937). Contista uruguaio dos mais influentes no conto moderno. Este decálogo foi publicado em julho de 1927, na revista argentina Babel. No Brasil foi reproduzido num belo livrinho (Horacio Quiroga: decálogo do perfeito contista. São Leopoldo: UNISINOS, 1999), em que dez contistas brasileiros renomados se arriscam a comentar e decifrar as intenções do mestre, entre os quais Charles Kiefer, Hélio Pólvora, Roberto Gomes e Sônia Coutinho. Algumas outras obras de Quiroga por aqui: Anaconda (Rocco, 1987), Contos da selva (UFSC, 1989), Vozes da selva (Mercado Aberto, 1994), Sete contos de horror (Cone Sul, 1997), Contos de amor e de morte (Record, 2001) e A galinha degolada e outros contos (L&PM, 2002).
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