Não! Não vou fazer nenhum comentário técnico sobre a já famosa "Rodada de Doha" ou Rodada-Doha. Mesmo porque tudo que entendo sobre comercio internacional é o que leio na mídia. Não dá para posar nem de palpiteiro.
Sim! O que eu vou expressar aqui é um tema para reflexão. O noticiário de hoje (buscas Google) - no mundo todo - está saturado pelo fracasso da Rodada Doha, da OMC. Resumidamente, mais de 140 países não conseguiram chegar a um acordo para criar normas e princípios gerais para a administração dos acordos internacionais de comércio, principalmente entre as nações mais e menos desenvolvidas.
Não interessam os detalhes. Se China e Índia impediram o acordo por intransigência exagerada na defesa de seus interesses? Ou se o Brasil "traiu" o G-20, como está alardeando a Argentina (só podia ser...) e ficou ao lado dos grandes "players" na fase final do acordo (leia-se países ricos)? Ou ainda se o G-8 queria "tirar o couro" dos pobres e não dar nada em troca ou conceder muito pouco? Poder-se-ia citar uma enorme lista de itens responsáveis pelo fracasso das negociações. Nada disso importa. O que me interessa, neste post, é propor, aos leitores do blog, uma reflexão sobre a insensatez de se guardar - inflexivelmente - posições individuais em troca dos benefícios à coletividade. Pois foi isto que aconteceu nesta "Rodada Doha", dito na linguagem mais simples.
Já ouvi alguns comentaristas se debruçarem sobre este aspecto da questão. Um deles (infelizmente não gravei seu nome na Radio CBN) cunhou uma frase que julguei excelente. Disse ele a respeito do fracasso de Doha: “Interdependência ou morte". Obviamente uma corruptela do Grito do Ipiranga, mas que traduz, à perfeição, a principal conseqüência deste fracasso de se negociar a favor do coletivo. Todos os países - principalmente (e como sempre acontece...) os líderes (Brasil inclusive) - falharam no processo de construir um consenso onde "todos ganhassem um pouco" e optaram pela anti-solução de "todos perderam muito". Esta é a resultante final, depois de anos de reuniões, milhões de euros e dólares consumidos e tentativas para fechar um grande acordo entre nações. Tudo foi por água abaixo.
Mesmo para quem não entende dá para perceber que a humanidade deu um passo atrás e iniciou uma "Marcha da Insensatez". Doravante os acordos comerciaistenderão a ser unilaterais, com cada país procurando vender seus produtos, no planeta, como se fossem "mascates ambulantes", correndo atrás de compradores interessados e disputando mercados na base do "vale-tudo" e do " primeiro o meu". Será utópico pensar que os países pobres terão chance de negociar justamente com os ricos. Vai ser um "massacre" cujo resultado será o aumento mundial dos preços de alimentos, o agravamento do protecionismo agrícola (principalmente) com uma "chuva" de barreiras fiscais e uma concorrência predatória entre países produtores e compradores. Vai ser a era da "Lei do Gerson"
Transfira todo esse cenário para o "nosso" mundo corporativo e procure fazer um exercício de reflexão sobre algo semelhante ocorrendo nas empresas, nos clubes, nas associações comunitárias (e porque não, nas nossas famílias e nas dos amigos também?). Que tal? Os mais fortes se impondo sobre os mais frágeis na base do "é do jeito que eu quero ou nada feito".
Vocês, certamente, já viram esta "Marcha da Insensatez" em curso. É só prestar atenção. Quais foram os resultados? Pois bem, será o mesmo com este não-resultado da Rodada-Doha. Só que dessa vez quem vai pagar o preço (altíssimo e imprevisível) são os povos e os países - principalmente os pobres - do mundo. Quem é pobre vai ficar mais ainda e vice-versa.
O fracasso da Rodada-Doha foi, também um desnudamento, em público, da hipocrisia internacional sobre os "princípios da globalização". Aquele negócio de "distribuir a riqueza do mundo" ou "contribuir para a diminuição da pobreza no planeta" ficou, agora, comprovado que é, meramente, um "conceito para consumo dos (falsos) líderes internacionais". Uma expressão de retórica e nada mais.
Acredito que o fracasso de Doha poderá contribuir negativamente para o travamento ou mesmo o fracasso, puro e simples, de uma série de outras negociações internacionais em curso. Inumeráveis acordos - principalmente sob os auspícios da ONU e suas vinculadas - estão sendo construídos ao redor do mundo em torno de temas importantes para o desenvolvimento humano: meio-ambiente, não violência, serviços e tecnologia, combates às epidemias como AIDS, por exemplo, e tantos outros interesses da humanidade. Todos estão com seus progressos sob risco emvista dessa demonstração, na OMC, da mais pura política de isolacionismo frenético que se tem notícia desde o "New Deal", em 1933 nos EUA (estarei cometendo alguma heresia histórica?).
Sinceramente, não acredito que isto vá durar muito tempo, mas também não vai ser resolvido em curto prazo. A nossa sorte (nós, os mortais comuns) é que a insensatez - principalmente a coletiva - não tem vida longa. Logo os povos do mundo irão se mobilizar contra suas próprias lideranças e pressioná-las a buscar soluções para o retorno à mesa de negociações. Espero que ocorra ainda dentro da minha geração. A sensatez há de prevalever, é a esperança.
Talvez eu esteja usando uma linguagem catastrofista. Todavia é o meu sentimento, agora. Espero estar equivocado. Aguardo que algum comentarista famoso veja a questão pelo mesmo ângulo e possa dar repercussão ao argumento para um público maior ou enxergar tudo isso por uma ótica diferente.
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A guerra de egos do ser humano tem muito chão pela frente. Os grandes líderes precisariam recuperar a honradez que marcou personagens históricos que estiveram à frente de diversos países para que a Rodada Doha desse certo.
ResponderExcluirAlgo do gênero só vai acontecer se os líderes deixarem de ver seu próprio umbigo e enxergarem que são responsáveis pela coletividade humana, um grande peso é verdade, mas que grandes homens carregam com heroísmo. O que vemos hoje à frente dos países em sua maioria são apenas homens, sem a marca e a nobreza dos que construíram a história. Apenas egos inflados.
Essa situação me fez lembrar um texto sobre a diferença entre o paraíso e o inferno, ambos representados por salões iguais com uma grande mesa com as almas ao redor. Todas portavam colheres com cabos muito longos. No inferno, cada um tentava sem sucesso se alimentar com aquelas colheres; no paraíso usavam para alimentar uns aos outros...
Muito bem lembrado, Ronaldo. Conheço o texto e o paralelo cabe muito bem como moldura para o que está acontecendo no planeta, com esta marcha da insensatez.
ResponderExcluirAté as pedras podem vislumbrar para onde caminha a humanidade. Indicativos não estão faltando. Estão por todos os lados. Fome nas regiões pobres do mundo (Brasil inclusive), violência fora de controle nas periferias das grandes cidades (e nas pequenas também), aprofundamento das diferenças entre países pobres e ricos, entre raças e religiões (brancos, negros, muçulmanos, católicos...) e por ai podemos montar uma lista enorme. Todos estes sinais se multiplicam minando a paz e a harmonia entre os povos. Não é difícil perceber para onde tudo isto nos leva.
É verdade o que você coloca. Antes de tudo faltam líderes na atualidade da História. Talvez por isto o mundo inteiro esteja prestando atenção ao norte-americano Barak Obama. Acho que todos nós, inconscientemente, estamos à espera de um novo Messias. Será exagero? Acho até que vou trabalhar a idéia para um futuro post-comentário.
Ronaldo, mais uma vez, grato pela visita e pelo comentário.