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sábado, 5 de julho de 2008

O choro do tenente.


Não sinto o menor prazer ao produzir este post, mas preciso fazê-lo. Não comentarei sobre o que está sendo investigado, a respeito da morte dos três jovens "entregues" por um grupo de militares do Exército a traficantes de um morro rival, que os massacraram. Já há um farto noticiário especializado sobre o assunto. Registro apenas o horror do episódio e lamento que a respeitável imagem do exército brasileiro tenha sido maculada.
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A atitude e o comportamento
Vou comentar sobre a “atitude” – corporativa - do tenente Vinicius que era o líder (???) dos militares que, desobedecendo ao seu próprio código de honra, se dirigiram aos traficantes para entregar, "em mão", os três rapazes que, ato contínuo, foram trucidados pelos bandidos.
No depoimento o jovem tenente chorou convulsivamente. Coloquei fotos e uma fração de vídeo da Globo Vídeos, exibindo o momento de surpresa e constrangimento gerais no ambiente do interrogatório. Um pranto terrível. Saído do mais profundo da alma. Na verdade, um grito desesperado.
Terá sido um choro de arrependimento? Ou de medo? Ou ambos? Quem poderá dizer? Tenho minha opinião, mas prefiro não expressá-la. Procuro não fazer ilações quando os temas envolvem comportamentos complexos do ser humano. O que eu quero destacar é o comportamento do tenente Vinicius, como líder que era, naquela situação.
O que levou um oficial do exército, comandando um grupo de subordinados, pela hierarquia, a "visitar" o território de traficantes de drogas, bandidos e assassinos para levar pessoas que - sabidamente - seriam, no mínimo, brutalizadas. Ele disse que entregou os três rapazes porque eles o "desrespeitaram" e queria que tomassem... um "susto". Meu Deus!
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A decisão trágica.
Pelo que está nos jornais a decisão de levar os jovens para os seus crueis destinos foi dele, exclusivamente. Tudo indica que o tenente se irritou com a "falta de respeito" dos rapazes que já tinham sido presos, interrogados e liberados pelo comandante do tenente Vinicius.
Invés de levá-los ao seu destino mudou as ordens que recebera e tomou a funesta decisão que ocasionou o bárbaro crime. Encerrou sua carreira, as de seus subordinados e - certamente - com o futuro que planejara para si. Destruiu-se. Deverá ter sido esta visão aterradora, dantesca, que o levou a chorar de forma tão desesperadora.
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Poder em mãos erradas
Gostaria, mesmo, de dizer que seu ato - inclinado como estou, a crer que o motivo dele, tenente, tenha sido mesmo dar uma "lição naqueles que não mostraram respeito com sua autoridade" - foi fruto de sua pouca experiência de vida (aos, apenas, 25 anos) agravada pelo "poder" do qual estava investido naquele momento. Um poder de vida e morte, literalmente, como se comprovou.
Desnecessário comentar o que se passa na cabeça de um homem, com autoridade militar em zona de guerra (ali é uma, sem dúvida), armado e... com 25 anos. Mais da metade deles, vividos dentro de colégios, academia e quartéis militares. Gostaria mesmo de dizer que foi por isso, mas não direi.
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A responsabilidade
A verdade é que ele é um oficial do Exército do Brasil. Foi preparado para liderar e nas situações mais difíceis como as de guerra. Conhece, como todos os seus colegas, os códigos de honra e de disciplina que são ministrados, exaustivamente, na Academia de Agulhas Negras e em todas as unidades por onde terá servido. Recuso-me a aceitar que o Exército do Brasil não esteja preparando corretamente seus oficiais. Por isso não responsabilizarei – embora seja visível – a inexperiência de vida do tenente Vinicius (e a dos demais participantes, soldados e sargentos, todos muito jovens) pela decisão fatídica e o trágico final. Isto fica para os estudiosos do comportamento humano.
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O veneno da arrogância
O meu objetivo, primordial, ao produzir este comentário é dirigir-me aos jovens líderes ou aqueles que estejam se preparando para assumir funções de responsabilidade. Alertá-los para possam meditar, profundamente, sobre o choro do tenente.
No mundo real, principalmente nas empresas, nas corporações, são muitas e diversas as oportunidades para "exercitarmos a nossa arrogância". Ali, naquele universo, os atos de prepotência não aniquilam vidas humanas de forma tão bárbara. Não! Absolutamente não! O fazem de maneira mais sutil...
No mundo corporativo os espasmos de arrogância, como os do tenente Vinicius, liquidam carreiras brilhantes, extinguem oportunidades de promoções, degradam o amor-próprio das suas vítimas, humilham os espíritos dos oprimidos. Atingem famílias e destroem - às vezes literalmente - suas vidas. Portanto senhores, cuidado!
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Os antídotos
A arrogância, já escrevi aqui mesmo no blog, é o mais cruel dos maus sentimentos (leia Reflexão sobre a Arrogância e A sempre velha e surrada "Arrogância do Poder".). Nada mais insinuante, mais insidioso, envolvente. Silenciosa e fascinante, a arrogância é filha da prepotência e irmã do sucesso e do falso amor próprio. Companheira fiel da vaidade. Não pede licença para se apresentar. Conheço-a de perto, como líder e também como "vítima".
São antídotos para a arrogância o discernimento e o juízo; a moderação e a ponderação; a prudência, o prumo e a reflexão; sabedoria, sensatez e temperança. Difícil, mas não impossível, que aos 25 anos estas qualidades já estejam gravadas nos comportamentos e atitudes de qualquer pessoa.
Portanto, ocupantes e candidatos ao sucesso e às posições de poder e liderança, atenção para não se tornarem vítimas de um choro como este, do infeliz tenente Vinicius.

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