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sexta-feira, 25 de julho de 2008

Duelo de corporações no "case" da Operação Satiagraha.

.......... Deixei esfriar um pouco a repercussão da "Operação Satiagraha" da Policia Federal que culminou com a prisão do banqueiro Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity e mais dois outros "peixes graúdos": o não menos famoso especulador Naji Nahas (este link do jornal Zero Hora tem um ótimo infográfico sobre a "Operação Satiagraha"; vale a pena visitá-lo) e o já conhecido freqüentador das páginas policiais, ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta.
.........Surpreendente (porque não é comum prender gente poderosa no Brasil) e espetacular (ou espetaculosa?) porque a TV Globo - com exclusividade suspeita - registrou os flagrantes das prisões que abalaram as estruturas do governo, causaram uma crise no judiciário e uma quase crise entre o STF e o Executivo.
.......... Passo longe de comentar sobre o caso em si. A mídia já esgotou as notícias a respeito. O meu foco é o "case" de administração, liderança e gerência que ficou exposto - dentro da corporação da Polícia Federal - com o modus operandi do delegado Protógenes Queiroz, comandante da operação.
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Confronto
..........Claramente houve um confronto entre grupos corporativos dentro da Polícia Federal. Não vou me arriscar a entrar em detalhes. Não conheço o caldo de cultura da PF e certamente erraria feio. Apenas levanto alguns indicadores do case para mostrar aos leitores do blog o dano causado - para qualquer instituição, pública ou privada - que uma "guerra interna", autofágica, entre grupos de uma mesma organização pode causar.
..........Não é "privilégio" da PF ter várias corporações interagindo, fortemente, no bojo da entidade. Todas as empresas repito todas, convivem com suas corporações. Diria melhor, são obrigadas a conviver. Até nas famílias mais unidas, nos quartéis mais duros ou nas empresas de maior sucesso elas existem. Podem ser culturais e definitivas, ocasionais e temporárias ou ambas. Nenhum organismo - por mais bem administrado que seja - pode viver sem suas "expressões de corporativismo". São necessárias, apesar de perigosas.
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A Chave do Sucesso
.........Um líder ou gerente terá que ter habilidade especial para administrar estes interesses e confrontos que ocorrem o tempo todo no mundo das corporações. A chave do sucesso é conseguir um ambiente produtivo promovendo, pessoalmente se necessário e garantindo, o respeito aos "acordos psicológicos" entre todas os grupos, sub-grupos e facções. Deverá isolar ou mesmo dissolver aquelas mais agressivas ou resistentes à sua liderança. É uma luta incessante para qualquer gerente (do Presidente ao supervisor do menor setor da organização).
.........Não é tarefa para qualquer um. É necessário estudar muito sobre o comportamento humano e as teorias das culturas organizacionais. Não quero valorizar experiência ou "assustar" os candidatos a cargos de chefia ou os neo-gerentes, mas se o líder não entender estas fórmulas de alquimia, não conseguirá chegar ao melhor ponto de seu trabalho.
.........Sem pensar duas vezes, posso dizer que o acontecido na Polícia Federal foi a resultante de um confronto, antigo e mal administrado pelos responsáveis - anteriores e atuais - entre corporações e sub-corporações internas. A propósito, clique aqui e veja uma reportagem no site Terra Magazine incluindo importante vídeo com uma conversa travada entre o delegado Protógenes Queiroz e um dirigente da Polícia Federal.
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Corporativismo
.........O delegado Protógenes Queiroz, claramente não pertence ao grupo que está, atualmente, no comando do Departamento de Polícia Federal. Ele tomou decisões de importância capital na liderança de uma grande operação do órgão (Satiagraha) e atropelou a hierarquia que o comandava. Errou, como subordinado, certamente. Todavia a convicção do estava fazendo contrabalançou, na difícil decisão que o delegado assumiu, os riscos de um julgamento administrativo desfavorável que fatalmente ocorreira (obviamente que estou divagando...).
.........Fez assim e obteve sucesso. Colocou a nu um dos maiores esquemas de corrupção já vistos no Brasil. Teve a coragem - ele e o Juiz Federal de Sanctis - de prender homens ricos e poderosos; personalidades conhecidas no mundo empresarial e político que, até então, agiam afrontando as leis "garantidos" pela impunidade e abrigados pelo poder do dinheiro (sempre contado em milhões de dólares) e das amizades ou relações espúrias com autoridades.
..........Fosse numa empresa privada certamente o delegado seria apontado como um executivo ousado e criativo que elevou o nome da sua empresa no mercado. Fosse a Polícia Federal uma "sociedade anônima" suas ações na Bolsa de Valores teriam se valorizado espetacularmente. Alguém poderá dizer o contrário? Mas a PF não é uma empresa. É um órgão federal e mais, uma instituição com disciplina quase militar, tendo em vista suas atribuições constitucionais. O delegado, efetivamente, incorreu em erro e teria que ser punido com atenuantes pois é um "general" vencedor. Então, foi afastado do seu cargo, apesar dos resultados que conseguiu. A mídia pode não querer entender isso, mas quem conhece os meandros do poder corporativo sabe que não poderia ser diferente.
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Execração não!
.........O que não é aceitável é a execração pública e intelectual a que querem expor o delegado Protógenes. Não se enganem, ele é um herói para a opinião pública. Nem as pesadas reportagens da Veja e da Folha de São Paulo - entre outras mídias - logo após as prisões dos "peixes graúdos" conseguiu desvanecer a imagem do policial que enfrentou a tudo e a todos para chegar à verdade e chegou. Seja como for, sejam quais forem os defeitos operacionais do delegado, o homem ganhou a simpatia da opinião pública e com méritos. O que mais uma coletividade deseja de um agente policial pago por ela?
.........Por isto, sempre me cingindo à analise do case, chamo a atenção dos leitores para os desdobramentos da operação. Observem que, sintomaticamente, enquanto o delegado Protógenes reclamou o tempo inteiro, da falta de recursos operacionais aos superiores, seu substituto assumiu e recebeu considerável contingente de agentes para reforçar sua equipe (???).
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Confronto Aberto
.........A primeira conclusão de todo o ocorrido é que a atual liderança da Polícia Federal enfrenta (ainda) um confronto aberto entre dois grupos, poderosos e influentes, dentro do Departamento. Saberá agir? Saberá contornar e conseguir aquele ponto de equilíbrio que citamos acima? A conferir...
.........Se partir para retaliações vai se perder e aprofundar a crise. Se optar pela omissão, também perderá espaço de liderança e a crise não cessará. Se for experiente, vai agir como magistrado e dirigir suas energias para apagar as fogueiras ardentes e principalmente controlar o que no Nordeste a gente chama de "fogo de monturo". Essa é a grande ameaça a qualquer administrador que esteja cavalgando uma crise interna de corporações.
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NOTAS DE RODAPÉ:
8 Quaisquer outras interpretações e/ou ilações sobre a Operação Satiagraha e seus desdobramentos, não pertencem ao foco do blog e por isto não me permito comentá-las. Coloquei a imagem e o texto do artigo "A polícia desmontada", do experiente jornalista Melchiades Filho da Folha de São Paulo que considerei o mais equilibrado e analítico de todos quantos li a respeito da rumorosa operação. Não deixem de ler.
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Polícia desmontada

"A Operação Satiagraha pilhou Daniel Dantas, atingiu a ante-sala de Lula, pôs em risco o maior negócio em gestação pelo governo no segundo mandato e identificou um esquema de leva-e-traz de divisas que remonta sabe-se lá a quando (e a quanto). Mas, por enquanto, o golpe mais incisivo da Polícia Federal foi contra si própria.
Ao revelar que sonegou informações da chefia, que gravou conversas com os superiores para se proteger, que foi espionado por colegas e que achou melhor formar um grupo de apoio com gente da ABIN, Protógenes Queiroz não só expôs de maneira inédita as divisões internas da corporação como arranhou a imagem "republicana" que o órgão construiu meticulosamente nos quatro anos iniciais de Lula.
Justa ou não, a mensagem do delegado foi clara: não se deve confiar no primeiro escalão da polícia.
É um erro atribuir à varredura contra Daniel Dantas & Associados à origem da luta entre facções na PF. E reducionismo dizer que a corporação está dividida em duas alas, tentando dar contornos partidários ou ideológicos à fratura.
Basta lembrar a sucessão do diretor-geral Paulo Lacerda, em 2007. Três grupos sentiram-se fortes no governo petista para pleitear o cargo - nenhum deles associado a quem mandava na era tucana. Tão sangrenta foi a disputa que a Operação Octopus só decolou (e, com ela, o escândalo Gautama) porque ajudou a incinerar um dos candidatos.
Se o caldo entornou na PF neste ano, não foi só por causa de Dantas, mas da incapacidade (ou do desinteresse) de Tarso Genro de manter intramuros essa guerra. Não por outro motivo, o antecessor foi chamado a Brasília para palpitar.
Márcio Thomaz Bastos, porém, está ocupado com outro cliente encrencado (Eike Batista) e pouco poderá fazer desta vez. Para desmentir Protógenes e remendar a reputação, a cúpula da PF terá de abraçar e aprofundar o trabalho do delegado que a denunciou."
(
mfilho@folhasp.com.br).
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8 Abaixo está a lista de links com cobertura completa sobre a Operação Satiagraha::
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Leia a cobertura completa de Terra Magazine sobre o caso:
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» Delegado: "Vou ouvir Dantas e na sexta relato inquérito"
» Delegado que prendeu Dantas é afastado
» Pedro Simon: "Está na hora de rico ser preso"
» Celso Pitta recebia dinheiro vivo de Naji Nahas
» Inferno de Dantas - Um Raio X do Opportunity Fund
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