Em que tipo de empresa isso acontece com mais freqüencia?
Naquelas onde ainda existe a gestão de comando e controle, onde a hierarquia domina as relações. A censura silenciosa obviamente não acontece nas organizações que são mais abertas, mais biológicas e menos mecânicas.
Neste sentido, as empresas de capital aberto são mais modernas?
Não necessariamente. Essas empresas sofrem influência de algo abstrato que é o mercado de capitais. E acabam sendo levadas a um processo de gestão que busca resultado de curto prazo, que é o que os acionistas e os analistas querem. Do ponto de vista estratégico isso pode ser prejudicial, porque se perde a estratégia de longo prazo, podendo levá-la ao suicídio. As empresas familiares sofrem ainda de outros tipos de influência. Além do ganho de curto prazo, elas sofrem com a briga pelo poder entre as facções familiares. A diferença é que isso levanta problemas do cerne das famílias. E aí a influência fica a serviço do poder.
Mas a influencia não esta sempre a serviço de alguma coisa?
Sim. Sempre há uma intenção por trás da influência. A pergunta-chave é: "Eu quero influenciar para quê?". Pode ser para ganhos pessoais ou para a busca do bem comum. Quando as brigas são latentes, vigoram os ganhos pessoais.
Todo mundo percebe quando a influencia esta a serviço do lucro, e não do bem comum?
Nem sempre. As pessoas acham que estão sendo espertas, convincentes, e se produz um jogo de auto-engano, porque há uma manipulação do processo. E muitas entram no jogo. Outras se recusam a ser manipuladas e podem se tornar pessoas-problema nas organizações, que prejudicam o meio ambiente. É um grande embate. De um lado estão as organizações com baixo nível de consciência, que na busca de resultado de curto prazo adormecem em relação à realidade na qual vivem. Buscam o lucro sem levar em conta outros interesses. O executivo está tão arraigado na cultura que é incapaz de perceber o que está causando na sociedade. E nem faz isso por mal. Faz por inocência, ignorância ou porque não consegue enxergar as conseqüências das suas ações.
Que tipo de influencia se exerce num processo de sucessão?
Os líderes ainda preparam seus sucessores à sua imagem e semelhança. Mas o poder de influência dos novatos tem de ser diferente, porque os desafios que eles enfrentarão serão diferentes.
Qual é a conseqüencia de se ter um sucessor muito parecido com o atual lider?
O sucessor até aprende a lidar com coisas do passado. Mas ele vai continuar sem saber o que fazer com os problemas que vão surgindo. É por isso que muitas empresas investem em competências duráveis, como capacidade de pensar estrategicamente, de fazer relacionamentos, de lidar com o poder. São coisas que não ficam obsoletas.
Como o senhor ve o equilibrio entre mulheres e homens nas empresas? quem influencia quem?
Falta equilíbrio entre a energia feminina e a masculina. Um excesso de homens gera organizações extremamente agressivas, em que a influência se exerce muito mais pelo poder e pela força das argumentações. A energia feminina gera mais conversa, pensa no social e provoca maior receptividade pelo mérito das idéias. Gera mais diálogo, compreensão e tende para uma influência que vem de dentro das pessoas e não de fora, porque o chefe mandou. Esse negócio de "o chefe mandou" é extremamente masculino. É claro que também existem as distorções, mulheres que negam sua feminilidade e agem como os chefes autocráticos.
As pessoas reconhecem que, assim como elas influenciam, também são influenciaveis? Existem alguns falsos mandatos em que os líderes são aqueles que influenciam e os liderados são os influenciados. Por outro lado, os executivos mais seguros e autoconfiantes são os mais influenciáveis, porque querem ouvir coisas novas. É preciso ter muita autoconfiança para ficar vulnerável. É importante ouvir. Não queria citar nomes, mas líderes de organizações altamente inovadoras, como o Google, são influenciáveis. Eles precisam ouvir pessoas de todos os níveis porque serão essas idéias que vão decidir o destino da organização.
Os executivos querem ser influentes?
As pessoas em geral querem o poder pelo poder, pois buscam apenas prestígio. Às vezes isso está descolado dos objetivos da empresa. Existem pessoas interessantes que querem influenciar os negócios pela força das idéias. Elas estão em diferentes níveis e não querem o poder. Querem dar sentido à vida, contribuindo para a sociedade, fazendo coisas significativas, criando produtos úteis ou serviços que atendam à necessidade da população. Isso dá um senso de realização extraordinário.
As pequenas influencias e os pequenos poderes atrapalham as empresas?
Muitos líderes querem acabar com a rádio-peão. Isso é bobagem, porque a vida está acontecendo ali. Às vezes se a gente olha o que acontece nas reuniões não vê vida. Nos corredores a vida é dinâmica. É preciso trazer isso para todos os fóruns da organização. O líder deve catalisar as conversas mais significativas, conversar sobre soluções, comemorar vitórias. Essa conversa de corredor passa a gerar idéias e ajuda a resolver problemas.
E o senhor ja viu isso acontecer?
Toda vez que uma empresa procura uma mudança cultural, como já aconteceu quando a Petrobras buscava zerar acidentes, é preciso trabalhar as conversas de corredor. E a atitude extrapola para a vida pessoal dos funcionários. Não dá para controlar a rádio-peão, mas o executivo pode ser um parceiro do que acontece nos corredores e exercer uma influência natural, não forçada.
Quando a influencia pode ser negativa?
Quem luta pelo poder, simplesmente pelo poder, acaba sendo assim também em casa, com os filhos e o cônjuge. Há empresas em que é quase elegante ser cínico. E quem é generoso e solidário é considerado inocente na selva do mundo empresarial. Essa é uma inversão de valores que acaba com as empresas. O cínico passa a ter mais influência do que qualquer outro perfil de executivo.
E o que sobra para o inocente?
Ele acaba se sentindo um trouxa e resolve mudar e se tornar cínico. Aí, fica pior do que os cínicos originais. É um perigo principalmente para os mais jovens, que buscam se ajustar para sobreviver e ser vencedores. Eles endeusam o dinheiro e entram na corrida dos sistemas de promoção e gratificação. Entram no jogo. É claro que existem também os inocentes que são tão convictos dos seus valores que estão acima deste tipo de influência. À medida que eles conseguem persistir no processo, são os que saem ganhando no longo prazo.
É possivel se tornar mais influente?
É claro que sim. Dá para treinar o executivo a entrar em uma conversa e em poucos minutos dominá-la. Pode-se tornar um conciliador de interesses, de negociação, de articulação, de influência política ostensiva e de bastidor. Muitos processos de influência acontecem no plano das idéias, no silêncio, nos bastidores.
O senhor se considera uma pessoa influente?
Acho que sim. Minha influência é exercida por um processo que visa às pessoas se descobrirem. As provocações que eu gero fazem com que descubram seus próprios valores ou competências que não tinham. Eu não convenço ninguém. Meu objetivo é fazer com que as pessoas mudem ao perceber coisas que não viam.
O que tira o senhor do sério durante os encontros com executivos?
Nada. Estou preparado para qualquer tipo de pergunta que os executivos me façam. Sempre entro com zero de expectativa em todo programa. Também nunca sei quem estará presente nos seminários, para que eu entre da forma mais neutra possível. Mesmo que uma pessoa seja agressiva, reajo de forma absolutamente natural.
Afinal, o que significa o nome amana-key?
A Amana demorou dez anos para ganhar fôlego. Key é o nome da minha filha mais velha. Já o Amana saiu de um brain storm. Só depois vieram os significados. Um monge xintoísta escreveu Amana-Key com 13 ideogramas e escolheu três deles: céu, terra e alegria. Em aramaico, significa "aquele que tem fé". Em tupi-guarani, "chuva, a essência da vida". Costumo brincar que o nome da consultoria não tinha significado e, conforme passamos a buscar objetivos maiores, eles foram surgindo.
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Alfinetadas do antiguru
Algumas perguntas que Oscar Motomura faz e que deixam os executivos perplexos:
Para que você quer que sua empresa cresça?
Existe um jeito de você dar mais significado ao seu trabalho?
O que a sua empresa faz que piora a situação do mundo?
A competitividade extrema gera guerras. Você está consciente disso? Até que ponto seu excesso de competitividade gera guerras e contribui para o estado em que o mundo se encontra?
Sua empresa toma decisões que pioram o meio ambiente?
Qual é a qualidade do lucro que sua empresa gera? É do tipo que se a gente espreme sai sangue
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Você já citou Oscar Motomura antes e essa entrevista só fez atiçar ainda mais minha curiosidade sobre ele e a Amana-Key. Herbert, o programa da Amana-Key tem um custo muito alto? Adoraria participar e conhecer pessoalmente esse homem. Me identifiquei muito com as posições dele no texto.
ResponderExcluirApós deixar o comentário anterior busquei o site da Amana-Key para informações e fiquei estarrecido: O custo do APG Midlle II é de R$ 5600,00!!! Entrou no patamar dos 'objetos de desejo', para mim...
ResponderExcluirCaro Ronaldo,
ResponderExcluirO custo do APG da Amana-Key realmente é muito alto. Só dá para ser custeado por empresas.
No caso da palestra dele, essa por exemplo, em Brasília o preço é de R$ 400,00 dividido em 6 vezes. Fica mais em conta. Acredito que em São Paulo eles tenham cursos de custo menor. O APG é a "estrela" do portfolio deles.
De uma coisa você poode estar certo, o cara realmente é genial. No site há muitos artigos escritos por ele e na internet (Google) idem. Dá para aprender muita coisa dos ensinamentos dele.
Você fez o APG, correto? Não pode postar no Oficina algum material dessa fonte?
ResponderExcluirVou procurar conhecer mais o trabalho do Motomura através dos artigos dele, conforme você sugere.