Ser ou não ser... “Maquiavélico”.
(autor Herbert Drummond)
São
raros os líderes e gerentes que têm a coragem de admitir em público que agem ou
em algum momento atuaram segundo os princípios conhecidos de Nicolau Maquiavel . Alguns
até gostam de serem reconhecidos assim, mas sem assumir publicamente. Muitos,
na realidade sequer leram qualquer das obras do famoso florentino. Outros, mal
e mal passaram os olhos na mais famosa delas: “O Príncipe”.
Todavia,
em algum momento, aqueles que desempenham ou já exercitaram os papeis de
líderes ou gestores praticaram, em oportunidades diversas, algum ato que
poderia ser classificado como... “maquiavélico” (de forma
depreciativa ou mesmo inteligente, ardilosa, astuta engenhosa). Se ainda
não o cometeram, o que seria uma mera aleivosia, certamente ainda irão fazê-lo.
Diz-se
que o melhor resumo da obra e do pensamento de Maquiavel está contido numa
frase que lhe é atribuída, mas ele - na verdade - nunca chegou a
escrever: “os fins justificam os meios”. Leia um trecho do verbete
que está na Wikipédia sobre o tema:
- "Em sua principal obra,
"O Príncipe", Nicolau Maquiavel,
cria um verdadeiro "Manual de Política", sendo interpretado de
várias formas, principalmente de maneira injusta e pejorativa; o autor e
suas obras passaram a ser vistos como perniciosos, sendo forjada a
expressão "os fins justificam os meios", não encontrada em sua
obra"
Nessa
linha de pensamento, quem nunca consumou um "ato maquiavélico" que
atire a primeira pedra.
Por
isto mesmo, ser apontado como “maquiavélico” (de forma distorcida)
tornou-se uma pecha, um defeito, algo temível em um comportamento, uma
imperfeição de caráter. Virou sinônimo de má índole, de falta de escrúpulos, de
impiedade ou dirigida aos "praticantes da magia negra
corporativa” (dentro das empresas). Entretanto tal reputação nem sempre
corresponde (inteiramente) à verdade!
Para
aqueles que buscarem conhecer melhor a história e o pensamento de Maquiavel,
irão perceber outros sofisticados aspectos além deste revestimento de pretensa
apologia à figura de Mefistófeles,
que está – é verdade - estampada em algumas das suas ideias. Não nos esqueçamos
que o contexto da sua obra está situado na realidade dos séculos 15 e16.
A
título de ilustração, vejamos alguns dos muitos e muitos conceitos, concepções
e juízos que deixou como legado, em "O Príncipe":
- "Nenhum indício melhor se
pode ter a respeito de um homem do que a companhia que frequenta: o
que tem companheiros decentes e honestos adquire, merecidamente, bom nome,
porque é impossível que não tenha alguma semelhança com ele."
- "Os homens quando não são
forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição."
- "Pode-se dizer dos homens, de
modo geral, que são ingratos, volúveis, dissimulados; procuram se esquivar
dos perigos e são gananciosos."
- "Não é de pequena importância
para um príncipe a escolha dos seus ministros. É a primeira conjetura que
se faz, a respeito das qualidades de inteligência de um príncipe. Quando
estes são competentes e fiéis, pode-se reputá-lo sábio, porque soube
reconhecer as qualidades daqueles e mantê-los fiéis..., Mas quando não são
assim, pode-se ajuizar sempre mal do senhor, porque o primeiro erro que
cometeu está nessa escolha."
- "Os homens mudam de
governantes com grande facilidade, esperando sempre uma melhoria. Essa
esperança os leva a se levantar em armas contra os atuais. E isto é um
engano, pois a experiência demonstra mais tarde que a mudança foi para
pior."
Sem
qualquer pretensão de fazer análise literária, o que eu quero repassar da minha
experiência pessoal - como ávido leitor de suas obras e observador das suas
aplicações na prática da gestão - é que o pensamento de Maquiavel deve, sim,
ser melhor conhecido, depurado e bem aplicado por quem quer que esteja
exercendo chefia ou pretende seguir a carreira da liderança. São ensinamentos
notáveis e sempre atuais.
Um
gerente que queira diferenciar-se no seu preparo técnico e intelectual deve ler
não só “O Príncipe” (leitura
fundamental) como também as outras obras do genial florentino que são “A Arte da Guerra”
(não é o livro de Sun Tzu) e “Mandrágora”
(peça de teatro). Todos elas expressam os elementos e fundamentos de Maquiavel,
que formam a base de suas avaliações, seus conceitos, conhecimentos; seus
critérios, discernimentos; ideias, juízos e pensamentos; principalmente sua
aguda e sofisticada inteligência que estava muito além da sua época.
O que
desejo salvaguardar é que não se deve compreender a designação de
“maquiavélico” no sentido único de ser maniqueísta ou sob a forma
pejorativa.
Os
ensinamentos contidos nos livros do genial florentino e notadamente
em “O Príncipe”, quando trazidos para a atualidade são, além de
eternos, pragmáticos e inteligentes.
A escalada
do sucesso no mundo corporativo não é um passeio num parque de diversões.
Antes, é um campo de contínuas batalhas onde, com muitas conquistas e derrotas,
sobrevivem os mais preparados e determinados. Uma corrida de obstáculos
incessante. Não há zona de conforto.
Portanto,
não se acanhe de ser apontado como... Maquiavélico, desde que
você, stricto sensu, realmente o seja. Pelo contrário, considere um
elogio.
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Parabéns Drummond, pela coragem da abordagem e pela correção de interpretação das idéias de Maquiavel, especialmente em "O Príncipe", certamente, o mais lido de seus livros e infelizmente o mais aplicado de forma equivocada, donde o sentido conhecido do adjetivo "maquiavélico" ser tão negativo. O comportamento de muitas pessoas que desejam o poder é sempre o mesmo, isto é, pegam idéias e palavras ditas por algum grande pensador e partem para uma adaptação conveniente aos seus objetivos mesquinhos; que o diga se é verdade ou mentira o próprio Cristo (?), quando ouvimos alguns pregadores de púlpitos não tão santificados a propalar as verdades da Palavra! Assim são também muitos gerentes e chefes; capazes de forjar ou distorcer as palavras para sentidos jamais indicados pelos grandes gurus da administração moderna, só para fazer valer seus objetivos mesquinhos.
ResponderExcluirParabéns pelo texto atual e contemporâneo.
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